Existe uma máxima bastante conhecida que diz: Quando nasce uma mãe, nasce também a culpa. Essa afirmação ilustra bem o que acontece com a grande maioria das mulheres quando vivenciam a maternidade. A chegada do bebê, a mudança de rotina, o fim da licença e a dúvida de voltar ou não a trabalhar são alguns dos inúmeros quesitos que influenciam para desencadear a culpa materna.
Em entrevista ao programa “Na sala e na cozinha” da rádio Metrópole FM, a psicóloga Raíssa Silveira, falou sobre a culpa materna e de como esse sentimento está relacionado, muitas vezes, com uma idealização construída pelas próprias mulheres, mas muito influenciada pelas pressões sociais.
“O sentimento de culpa está diretamente associado a incapacidade de cumprir exigências de uma idealização internalizada, que se estabelece pelo processo de socialização. É uma questão sociocultural acreditar que o amor materno está somente embebido de romantismo e que a mãe deve fazer o possível e o impossível por um filho, mesmo que isso signifique negar seus medos e angústias”.
Uma grande fonte de culpa vem de um estereótipo idealizado de que as mães são um ser divino, heroico, beirando a perfeição e que consegue dar conta de todas as tarefas que lhe são designadas. Para a psicóloga, está claro que, na maioria dos casos, a culpa é parte de uma armadilha que as mulheres criam para elas mesmas. “A culpa é uma manifestação do medo e da angústia, ou seja, do ego, por não estar à altura desta exigência superegóica. Então, quanto mais idealizado, mais superegóico. E às vezes, esse sentimento acaba impossibilitando mulheres de serem mães porque não se acham capazes de exercer esse papel. E as que são mães tornam-se pessoas inseguras, indecisas e com medo de educar”.
Como lidar com o sentimento de culpa
A vida moderna trouxe muitos desafios para as mulheres. Se antes seu papel limitava-se ao de “dona do lar”, tarefa essa que para a maioria pode ser muito mais exaustiva do que um trabalho profissional, agora a mulher também trabalha fora de casa e é cobrada pelas duas funções, inclusive a de dar atenção e prioridade aos seus filhos.
A lista de críticas e julgamentos por parte da sociedade e até de pessoas mais próximas, como amigos e familiares, é enorme. Em geral, é por causa dela que as mães se questionam se o emprego não está ocupando lugar demais em suas vidas. Ou então, já que decidiram dar um tempo na carreira para cuidar da cria é esperado que amamentem até os dois anos, no mínimo, cozinhem todas as refeições dos seus filhos com ingredientes orgânicos, construam brinquedos artesanais, contem histórias interessantíssimas, coloquem o bebê para dormir todas as noites e etc.
São por causa destas exigências que muitas mulheres estão adoecendo. Segundo Raíssa, o segredo para amenizar esta culpa é entender que é humanamente impossível dar conta de tantas tarefas com perfeição e que terá momentos em que a mulher deverá abdicar de algumas coisas em prol de outras. “O segredo é aceitar que não é essa potência toda, aceitar que não é a mulher maravilha. O que vale é a qualidade da relação mãe e filho e não a quantidade. É possível ser presente sem estar presente todas as vezes.
Às vezes a falta é necessária
A psicóloga afirma que é necessário aceitar este lugar de falta. “A falta é muito importante para construir o subjetivo dos filhos, de que não podem ter tudo. Se essa idealização não dá espaço para a falta, a mulher irá se questionar o tempo todo de que está em dívida com seu filho, tentando recompensá-lo, inclusive com bens materiais”.
Ela ainda acrescenta que em muitos casos, a vida corrida de uma mãe pode tornar as crianças mais independentes, resolutivas e seguranças. “Algumas crianças vão enfrentar a situação muito bem, outras nem tanto, mas cada uma terá uma forma singular de expressar isso e cabe aos pais ficarem atentos ao comportamento delas para saberem a hora de intervir”.