Com a palestra “Internet e redes sociais: ficção da vida real ou a realidade da ficção?”, o psicólogo da Holiste marcou presença no SIPAT Caixa 2015.
A Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (SIPAT) da Caixa Econômica Federal deste ano abordou a Dependência de Internet e outros possíveis transtornos relacionados à utilização excessiva de dispositivos tecnológicos. O evento reuniu profissionais de diversos segmentos da saúde, que realizaram palestras, workshops e treinamentos.
Redes sociais x Vida “real”
A relação entre as pessoas e as novas tecnologias, tema bastante atual em nossa sociedade, rende grande discussão e polêmica dentro e fora do ambiente virtual. As redes sociais, em especial, são as mais atacadas, e o argumento é sempre o mesmo: as pessoas estão deixando de viver experiências reais em troca de relações virtuais, efêmeras e distantes.
Para André Dória, este argumento não é totalmente válido: “Na época do “Show do Eu”, as redes sociais se apresentam como um palco onde a ficção se mistura com a realidade. Mas existiria realidade livre de alguma ficção? Sempre há algo ficcional que sustenta aquilo que chamamos de realidade: colecionar selos, gostar de futebol, ser um bom pai de família, ser um bom pagador de impostos ou ser um vegetariano. O sujeito melancólico nos ensina muito sobre a importância da ficção no nosso bem estar psíquico. Na melancolia, as ficções que dão sentido à realidade se enfraquecem e o sujeito, muito frequentemente, perde o apreço pela vida. Em outras palavras, a “vida real” é tão permeada pelas ficções quanto a vida “virtual”. Na época do Show do Eu, existe uma preocupação maior em “parecer” do que em “ser”. A ferramenta (a rede social) não pode ser demonizada, é preciso responsabilizar o indivíduo que faz uso dela”.
O psicólogo também comentou sobre as afirmações de que, na maioria das vezes, aquilo que é postado nas redes sociais não corresponde com a vida real dos indivíduos: “Atribuir este tipo de conduta exclusivamente às redes sociais não me parece muito coerente. Essa questão transcende o universo virtual. Quando vamos a uma festa, por exemplo, não colocamos uma roupa especial, perfume, maquiagem? Mesmo fora do ambiente virtual passamos a imagem de que somos bonitos, bacanas e interessantes. Transmitimos uma imagem idealizada de nós mesmos. As redes sociais só potencializam esta exposição e tornam as coisas mais imediatas, mas não está distante da vida real”.
Quando o uso da tecnologia pode se tornar um problema?
Algumas pessoas apresentam conflitos no uso destas novas ferramentas. Para André Dória, o que deve ser observado é forma singular com a qual cada pessoa faz uso dessas ferramentas: “Cada um deve avaliar se este uso está trazendo impasses ou não para sua vida pessoal. Se o sujeito já não consegue desenvolver suas atividades diárias, compromissos do trabalho ou estudos, não consegue se relacionar com pessoas que estejam fora do ambiente virtual, pode ser que ele esteja vivendo uma espécie de dependência sem substância. Mas a questão é: será que existe uma dependência da internet genuína? Ou a pessoa estaria dependente de sexo, de compras, de jogos, e a internet seria apenas o meio por onde a pessoa obtém aquilo que deseja? Haveria uma adicção à internet ou ela seria apenas um novo meio tecnológico para o desfile das antigas adicções? Afinal, do quê o sujeito se torna dependente? ” – finaliza.