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Corpo e mente em sintonia

Atividades físicas são grandes aliadas no tratamento de indivíduos com transtornos mentais

A relação entre a saúde mental e a prática de exercícios corporais está cada vez mais estreita, na medida em que pesquisas científicas sustentam o efeito terapêutico dessas atividades. Embora as afirmações não sejam unânimes, alguns estudos realizados por pesquisadores americanos constataram benefícios significativos da atividade física em pessoas com elevado nível de ansiedade e depressão, pois a prática regular de exercícios auxilia a regulação de certos neurorreceptores centrais que desempenham um importante papel no desencadeamento desses transtornos.

Seguindo uma orientação profissional, qualquer paciente que esteja em tratamento psicológico ou psiquiátrico pode realizar exercícios físicos. Aliadas ao tratamento medicamentoso e terapêutico, essas atividades são recomendadas para quebrar o sedentarismo, muitas vezes provocado pelo comprometimento da iniciativa ou da vontade em pacientes com rebaixamento de humor, bem como pelo efeito colateral de algumas medicações.

A prática de atividades físicas também proporciona uma harmonização corporal. A fisioterapeuta Cleide Mascarenhas defende que algumas técnicas de relaxamento propiciam uma melhora da ansiedade. Apesar de não trabalhar a capacitação física propriamente dita, elas focam no padrão respiratório e na autoconfiança da pessoa. “Essas técnicas almejam reestabelecer o equilíbrio do indivíduo, levando em consideração a relação entre o corpo e a mente, harmonizando a pessoa com o meio em que vive de forma global. Elas trabalham a dor, a redução da ansiedade e das tensões musculares, acalmando o corpo que responde com o equilíbrio, como se o indivíduo entendesse melhor o funcionamento do seu organismo”, afirma.

Mas como as atividades físicas contribuem para manter a saúde mental? A resposta é simples: os benefícios psicológicos caminham lado a lado com os fatores fisiológicos, como explica o educador físico Paulo Dultra. “Os exercícios proporcionam a melhora da condição muscular e cardiovascular, além de outros fatores. A literatura científica já referencia a redução do estresse e o melhor convívio social em qualquer indivíduo que mantenha a pratica de atividades corporais”, pontua. No entanto, Dultra deixa claro que qualquer exercício deve ser praticado com moderação, para que não seja desencadeado qualquer tipo de transtorno, físico ou psicológico, como a dependência. “Quando praticados em excesso ou sem a orientação adequada, há fatores que favorecem a síndrome da dependência”, alerta.

Geralmente, exercícios aeróbicos apresentam um melhor retorno para pacientes com transtorno mental ou de comportamento, quando comparados a atividades de maior impacto físico. “Atividades aeróbicas têm retorno mais rápido, porém exercícios muito intensos levam o indivíduo para um padrão de exaustão física maior, o que pode desencadear o estresse, por exemplo. Dessa forma, temos de monitorar o nível de intensidade de tudo que será feito, respeitando os limites de cada paciente, a fim de propiciar o trabalho mais adequado para cada um. A individualidade deve ser levada em consideração, sobretudo os limites do condicionamento físico e de mobilidade”, esclarece o educador físico.

Apesar de parecerem inofensivos, todo e qualquer exercício físico introduzido na rotina de pacientes em tratamento psiquiátrico deve ser previamente orientado por um profissional especializado. “Determinados medicamentos deixam os pacientes mais lenificados, com baixa condição motora e isto requer uma atenção especial”, afirma Dultra.

A resposta ao tratamento físico flui como uma engrenagem entre o corpo e a mente. Segundo a fisioterapeuta Cleide Mascarenhas: “O corpo responde ao que está ocorrendo em nossa atitude mental. Se você está muito acelerado, suas ondas mentais e cerebrais se comportam da mesma maneira, além de provocar um comportamento de tensão e ansiedade. Em portadores de distúrbios mentais, devemos trabalhar com táticas que não resultem em dores musculares e cansaço físico intensos. Isso tem que estar em sincronia”, alerta.

Entretanto, fazer com que uma pessoa acometida por algum transtorno mental se permita realizar atividades físicas nem sempre é uma tarefa fácil, ao menos no primeiro momento. Muitos resistem aos contatos iniciais, seja pela falta de hábito, seja pelo momento que está vivendo. Mas há aqueles que aderem facilmente e incorporam a prática. O limite individual é o que baliza os profissionais para encontrarem o momento certo para o início dos exercícios. “A princípio devemos respeitar o momento da resistência e investir em uma abordagem sutil. É preciso inspirar harmonização e conforto para que o paciente comece a se abrir”, salienta Cleide.

Dultra ressalta que a resistência está ligada à fase inicial do transtorno e que o contato com as atividades deve se iniciar até mesmo no leito, quando necessário. “Depende muito do paciente. Como exemplo, uma pessoa com depressão profunda dificilmente vai querer sair do quarto, seja para o que for, mas às vezes é possível realizar um pequeno exercício em locais fechados. Este padrão deve ser melhorado primeiramente por meio da ação medicamentosa e, havendo progresso, começamos a interagir com os pacientes gradualmente, aprimorando os exercícios no decorrer do processo”, conclui.

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