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Sempre há tempo para o cuidado | Artigo Raissa Silveira

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 A passagem do tempo traz muitas mudanças para o indivíduo –  no corpo, na mente e nas relações pessoais.  E muitos idosos tem a dificuldade de lidar com essas mudanças, o que pode acarretar em adoecimento e sofrimento psíquico.   Em artigo publicado no jornal A Tarde, a psicóloga Raissa Silveira fala da importância da psicoterapia na terceira idade.

Leia artigo completo.


O aumento da expectativa de vida no Brasil tem provocado diversos debates em nossa sociedade, desde questões políticas, como a reforma da previdência, às questões que envolvem a saúde pública e suplementar. Esse fato também traz diversas implicações para nós, profissionais da área de saúde mental, que precisamos estar sintonizados com esse envelhecimento da população e as demandas que surgem a partir de então.

Uma vida mais longa permite que os indivíduos vivenciem mais intensamente os efeitos das mudanças promovidas pela passagem do tempo no corpo, alterando sua percepção da autoimagem e os seus laços sociais. Essas mudanças acontecem à sua revelia, implicando-lhe uma série de perdas que demandam adaptações em seu modo de vida.

As mudanças na autoimagem, na sexualidade, na autonomia, na sociabilidade, na capacidade cognitiva e nas relações afetivas são experienciadas de maneira singular por cada indivíduo.  Dessa forma, o termo “velhice” não se comporta como um rótulo genérico; não devemos falar em velhice, e sim em “velhices”.

Cada perda tocará o sujeito de uma forma, convocando-o a encarar de frente o que está posto, através dos recursos subjetivos disponíveis. Elaborar uma perda requer do indivíduo uma intensa atividade psíquica, que seja capaz de deslocar o afeto investido no objeto que se perdeu e vinculá-lo a outro. Contudo, este processo de luto pode demorar muito tempo. Renunciar ao que se perdeu nunca é fácil, o que pode desencadear um adoecimento e sofrimento psíquico ao indivíduo, sobre o qual não devemos desacreditar e nem tampouco recuar.

Muitas vezes, o idoso tem dificuldade para aceitar essas mudanças, além de não reconhecer-se como alguém que sofre; outras vezes, não consegue colocar em palavras o seu sofrimento.   Essas especificidades nos impõe – enquanto profissionais – a necessidade de refletir sobre a direção do tratamento com sujeitos idosos, sendo de extrema importância estarmos atentos não só às questões físicas e funcionais, mas ao quadro emocional dessas pessoas.

A psicoterapia se serve de estratégias para acolher a pessoa naquilo que a aflige, dando espaço à palavra na forma como lhe é possível, com o intuito de ajudá-la a elaborar suas questões e construir recursos para lidar com os sintomas e com a causa do seu sofrimento.

Aposta-se, através da escuta, em indivíduos que trazem suas diferentes respostas sintomáticas, onde não é a idade que impede ou não o tratamento, mas a relação que o sujeito tem com o seu sintoma e o desejo de dele desprender-se. É preciso acreditar que há sempre tempo para o cuidado.

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Artigo publicado no Jornal A Tarde, 24/09

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