Em entrevista à Rádio Sociedade, a psiquiatra Fabiana Nery fala sobre depressão durante o período de isolamento social.
Em um planeta com mais de 264 milhões de pessoas com depressão, estar em isolamento social não tem sido tarefa fácil. A preocupação e angústia com o futuro incerto é um dos fatores que contribuem para o aumento de casos de ansiedade e depressão.
A psiquiatra Fabiana Nery abordou como a ausência da “normalidade” afeta tanto a saúde mental da sociedade:
“A gente tinha uma vida estruturada com objetivos e horários, e, de forma inesperada, houve uma mudança drástica. Isso por si só não desencadearia sintomas psiquiátricos significativos, mas para pacientes com predisposição genética ou com episódios no passado, esse período pode desencadear alguns sintomas”, afirma a especialista.
Confira a entrevista:
Tristeza não é depressão
Diferente do senso comum, a depressão não é traduzida somente em tristeza. A tristeza é um sentimento comum à vida, e uma reação a algo que acontece.
A psiquiatra explica que a depressão é uma patologia, multifatorial, e por isso também traz diversas características, além da tristeza, como: desânimo, falta de energia, alterações de sono e apetite, além de mudanças nos padrões de comportamento.
“Muitas vezes se pensa que a depressão é apenas um quadro em que o paciente vai ficar triste e deprimido na cama, sem vontade de levantar… isso não é verdade. Isso é um dos tipos da depressão!”, enfatiza Fabiana.
Rotinas ao avesso
Estar longe dos amigos, do trabalho e das atividades diárias tem prejudicado a saúde emocional de muitas pessoas. O distanciamento impôs uma barreira que, além de afastar, transformou nossas ações em atos de extremo cuidado por receio de ser infectado.
Apesar disso, a especialista salienta que nesse momento é fundamental recriar uma rotina que contemple todas as áreas que o corpo necessita:
“Vivemos um momento de exceção, confinados em casa e com uma rotina alterada. Mas é muito importante manter uma rotina saudável e estruturada; não trocar o dia pela noite, ter horários adequados de sono e alimentação, além de tentar manter atividades físicas, de estudos e o próprio trabalho”, aponta.
Cuidando do corpo e da mente
O distanciamento físico não significa necessariamente um isolamento completo. Com a tecnologia, o contato pode ser mantido por videoconferências, o que diminui a saudade da família e dos amigos. De acordo com a psiquiatra, momentos de grande estresse pedem grandes válvulas de escape:
“Uma rotina de exercício físico ajuda muito a lidar com as questões de ansiedade. Além disso, é importante que se tenha válvulas de escape e isso se faz com atividades prazerosas e divertidas. É preciso reinventar as maneiras de ter lazer em casa, porque vão existir as obrigações do dia, mas é fundamental manter as atividades de lazer e de integração”,finaliza a psiquiatra Fabiana Nery.