André Gordilho, psiquiatra da Holiste, abordou o tema “Depressão no ambiente de trabalho”, em palestra que reuniu trabalhadores da indústria, empresários e servidores do setor público.
Realizado no auditório da FIEB, no bairro do STIEP, o evento debateu os impactos da depressão no mundo empresarial, os prejuízos que ela causa ao profissional, ao ambiente de trabalho e à empresa como um todo. O especialista também chamou atenção para os pontos que devem ser observados em casos suspeitos, permitindo que o trabalhador seja encaminhado para o acompanhamento especializado.
DEPRESSÃO E AFASTAMENTO DO TRABALHO
A depressão é uma das principais causas de afastamento do trabalho no Brasil e no mundo. Somente em 2016, mais de 75 mil pessoas foram afastadas do trabalho por conta da depressão no Brasil.
Estes dados servem para que as pessoas entendam a gravidade e seriedade da doença, que muitas vezes é tratada como frescura ou falha de caráter, mas que na realidade é um transtorno complexo e, por vezes, incapacitante.
“Depressão é uma doença grave, que precisa de acompanhamento especializado para mantê-la sobre controle. Infelizmente, a falta de informação ainda faz com que algumas pessoas pensem que se trata de uma falha de caráter ou de frescura. Repetem frases como “Você deveria levantar dessa cama e sair, fazer algo, se divertir”, como se o doente fosse capaz de controlar, sozinho, os sintomas da doença. Não é assim, a pessoa não tem opção. Ninguém vira para um hipertenso e fala “Você deveria manter sua pressão arterial sob controle, tente fazê-la não subir” – exemplifica Gordilho.
Para o psiquiatra, os afastamentos poderiam ser evitados se a doença fosse diagnosticada logo no surgimento dos primeiros sintomas: “O afastamento só ocorre no estágio avançado da doença, quando ela se torna incapacitante. Se o problema fosse identificado e abordado precocemente, as chances do paciente se recuperar e levar uma vida normal são muito grandes”.
COMO IDENTIFICAR A DEPRESSÃO NO AMBIENTE DE TRABALHO?
Somente um profissional capacitado pode diagnosticar uma depressão. Contudo, qualquer pessoa pode identificar indícios de que algo não está bem com determinado colega, mudanças abruptas de comportamento que podem indicar um processo depressivo.
“Em um quadro depressivo real, que não se confunde com uma tristeza pontual e passageira, é muito difícil mascarar os sintomas por muito tempo. Aquele colega que passou a chegar atrasado rotineiramente, a faltar mais, que se mostra desmotivado com as tarefas, prazos e metas pode estar enfrentando uma depressão. Alguém que sempre estava bem-disposto, que participava dos happy hours com a turma, que ia para as confraternizações e de uma hora para outra não socializa com ninguém, esse é um caso que merece a atenção dos gestores. Episódios com uso exagerado de álcool e outras drogas merecem igual atenção, bem como comportamentos negativistas e humor sempre deprimido. Observados alguns desses sintomas, juntos, é sinal de que o indivíduo precisa passar por uma avaliação com o especialista” – pontua o psiquiatra.
TRATAMENTO
Atualmente, o tratamento da depressão possui um grande leque de abordagens, desde o acompanhamento psiquiátrico com abordagem medicamentosa, passando por diversas práticas psicoterápicas, pelas terapias de neuroestimulação (ECT e EMT) e, nos casos mais graves, pela internação psiquiátrica (integral ou em hospital dia).
Segundo Gordilho, a gravidade do caso e os aspectos individuais do paciente é que vão determinar qual a melhor abordagem para cada caso: “É muito importante evitar a automedicação. Muita gente passa por um episódio de tristeza profunda e se automedica, acreditando estar deprimido. Uma pessoa que atravessa um episódio de luto, que perdeu um ente querido, é natural que apresente um quadro de tristeza que, com o tempo, naturalmente vai desaparecer. Somente o psiquiatra deve receitar medicações após o exame detalhado do caso, evitando consequências indesejáveis. Um antidepressivo ministrado sem o acompanhamento do profissional pode, por exemplo, desencadear uma crise de euforia em um paciente com transtorno bipolar” – finaliza Gordilho.