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Depressão e pessoas desaparecidas

Pessoas com depressão ou outras doenças psiquiátricas, não raro, podem acabar parando nas ruas.

Esta é a realidade de milhares de doentes mentais que, em estado de confusão mental, fogem de suas famílias e acabam indo para as ruas, onde estão expostos a diversos perigos ou, muitas vezes, oferecendo perigo a outras pessoas.

Em entrevista ao quadro Desaparecidos do Bahia Meio Dia, o psiquiatra Luiz Fernando Pedroso, diretor clínico do Espaço Holos, esclareceu alguns pontos sobre este problema. O médico citou algumas formas de como a família pode identificar o problema e intervir de forma preventiva:

“Para perceber não é tão difícil, porque o comportamento muda, altera a rotina, a pessoa fica com condutas mais extravagantes e anormais, isso facilmente chama a atenção”.

Em casos de depressões de média intensidade para cima, o psiquiatra faz um alerta para a necessidade de uma internação:

Cuidar de uma pessoa com depressão ou transtornos mentais de média gravidade para cima é muito difícil, principalmente em casa. A convivência, o manejo do paciente, isso estressa o ambiente familiar, é muito complicado. Frequentemente, depressões de média gravidade para cima precisam de lugares apropriados para serem cuidadas, precisam de internações”.

 

O papel do Estado

Além da dificuldade que a família possui em manejar o paciente psiquiátrico, desde a reforma psiquiátrica o Estado vem se eximindo de sua responsabilidade sobre a questão. Cada vez mais leitos psiquiátricos são fechados, deixando a população desassistida quando necessitam de uma internação psiquiátrica. A estrutura dos CAPS geralmente não é eficiente para tratar pacientes em surto, deixando as famílias que não possuem dinheiro para internar seus entes em clínicas particulares de mãos atadas.

“Existe um argumento ideológico absurdo contra a internação psiquiátrica, que acaba servindo de pretexto para o Estado cortar gastos públicos com a saúde da população. Pacientes em surto necessitam de um ambiente terapêutico adequado para o seu tratamento, com atenção intensiva de uma equipe especializada em saúde mental. Isso só é possível com a internação” – aponta Luiz Fernando.

O psiquiatra ainda aponta uma série de problemas sociais gerados por esta política de exclusão, onde somente pacientes que podem pagar têm acesso à internação psiquiátrica:

“Primeiro você tem a desestruturação das famílias, que acabam não conseguindo tratar de seus entes queridos. Depois, estes pacientes desassistidos acabam engrossando a massa de moradores de rua, estando sujeitos a toda sorte de riscos. Certas vezes estes pacientes acabam cometendo pequenos delitos ou oferecendo perigo ao resto da população; fazem suas necessidades no meio das ruas e acabam depreciando o espaço público. O custo da desassistência acaba sendo muito maior para a sociedade”.

 

Possíveis soluções

Para solucionar o problema, Dr. Luiz Fernando não vê alternativa senão aumentar o investimento em leitos psiquiátricos no sistema público de saúde:

“O governo precisa rever sua política de saúde mental, abandonar posturas meramente ideológicas que são extremamente nocivas à população. É preciso admitir o erro e corrigi-lo, reabrir leitos psiquiátricos, aumentar o número de hospitais e não diminuí-lo. O Brasil parece andar na contramão daquilo que vem sendo feito em países mais avançados, como os EUA.  Neste ano, o Estado de Washington decretou que pacientes psiquiátricos não deveriam ser atendidos em emergências de clínica geral, e sim em emergências psiquiátricas. Este é um grande avanço para que pessoas com problemas mentais tenham acesso ao tratamento adequado e digno. Estamos muito longe disso”.

Apesar da situação alarmante da saúde mental no Brasil, Luiz Fernando vê melhoras no cenário e acredita que o quadro tende a melhorar:

“Com o problema das drogas, principalmente o crack, o Estado foi forçado a rever suas ações. Alguns leitos de internação compulsória foram abertos e todos foram ocupados voluntariamente em apenas um dia, tamanho o déficit de leitos acumulado ao longo dos anos. As pessoas começaram a falar sobre saúde mental, aos poucos estamos conseguindo quebrar os tabus que circundam o tema. A internet ajudou muito para que as pessoas tivessem acesso a informações sobre saúde mental. Mas ainda há muito coisa a ser feita”.

 

Assista a entrevista completa:

*Dr. Luiz Fernando Pedroso é Diretor Clínico do Espaço Holos, membro da Associação Americana de Psiquiatria e da Sociedade Internacional de Terapias de Eletroconvulsão e Neuroestimulação.