A chegada da maternidade é, na maioria das vezes, um momento muito esperado pelas futuras mães e também para toda a família. Mas o que muitas mulheres desconhecem é que, apesar de ser uma experiência maravilhosa, pode ser bastante desafiadora também.
É muito comum que nesta fase algumas mulheres apresentem sintomas depressivos como tristeza e desespero, alterações de humor, falta de apetite, cansaço e perda do interesse pelas atividades do dia a dia.
Em entrevista à coluna “Seus Filhos” na rádio Band News, Dra. Livia Castelo Branco, psiquiatra da Holiste, falou sobre este assunto. “Quando a mulher acha que não está dando conta da nova rotina, associado a um sentimento de desesperança, de tristeza intensa e insegurança, levando a um prejuízo muito grande na relação da mãe com o filho e também com demais familiares, temos alguns sinais de alerta”.
Baby blues ou depressão pós-parto?
Em geral, esses sintomas fazem parte apenas de um período chamado de “blues puerperal” ou “baby blues”. A mãe se sente irritada, triste e com vontade de chorar. Acredita-se que esta fase esteja ligada às mudanças hormonais que acontecem nos primeiros dias após o parto e podem durar até 2 semanas, quando os sintomas costumam desaparecer sem intervenção médica.
Acontece que em torno de 15% dessas mulheres desenvolvem a depressão pós-parto, um quadro caracterizado por estes mesmos sintomas depressivos, só que com maior intensidade, que incluem humor deprimido na maior parte do tempo, alterações na rotina de sono, sentimento de inutilidade e desesperança e até pensamentos suicidas. Além disso, na depressão os sintomas costumam prevalecer mesmo após 4 semanas depois do parto e trazem um prejuízo na vida funcional da mulher.
Segundo a psiquiatra, em alguns casos mais severos a mulher pode desenvolver a psicose puerperal. Uma doença psiquiátrica grave, onde a mãe apresenta sintomas como: alucinações, insônia, agitação e raiva. Em situações como essa é indicada inclusive a internação da mãe como medida de proteção e segurança.
Por que a mulher desenvolve depressão pós-parto?
Seguindo as mesmas características de uma depressão em geral, a depressão pós-parto é caracterizada por ser multifatorial e influenciada por questões biológicas e também por fatores sociais e familiares. “A depressão pós-parto está ligada desde um histórico de depressão prévia, a pressões e cobranças que ocorrem neste período em relação a responsabilidade de estar gerando uma vida. Além disso, ocorrem as mudanças físicas no corpo e alterações hormonais, que podem contribuir para o desencadeamento deste quadro. Problemas ainda como falta de apoio do parceiro e/ou familiares, histórico de violência doméstica e estresse também influenciam”, explica a psiquiatra.
Vale ressaltar que o risco de depressão pós-parto é maior se a mulher desenvolveu um episódio depressivo anteriormente, mesmo que tenha sido tratada, ou se teve depressão durante a gravidez. “Se ela teve depressão no pós-parto de um filho, a possibilidade de repetir o quadro em outra gestação é de 50%. Na verdade, a recorrência da depressão é muito alta. Ela é considerada uma doença episódica recorrente e a tendência é manifestar-se novamente se repetida a situação em que surgiu pela primeira vez”, pontua.
Como tratar?
No caso do baby blues, após a segunda semana é bem provável que os sintomas desapareçam sozinhos sem que haja a necessidade de procurar um profissional. Já para a depressão pós-parto, o tratamento varia de acordo com o nível do transtorno e de como ele afete a vida funcional da mulher. De acordo com Dra. Livia, “nos casos de leve a moderado, que já percebemos um prejuízo, geralmente o apoio familiar e o acompanhamento psicoterápico, ou seja, um médico psiquiatra e o psicólogo, já são suficientes. Em quadros de moderado a grave, a depender de cada caso, é que começaremos a pensar em alguma medicação”.
É importante ressaltar que o apoio é essencial. “Tanto no baby blues quanto na depressão pós-parto é muito importante que a mãe tenha uma rede de pessoas próximas que compreendam o momento difícil que ela está passando. Evitar cobranças, julgamentos, comparações com outras pessoas e situações para não influenciar no agravamento do quadro. Nestas horas o apoio familiar também é imprescindível”, conclui.