Dra. Lívia Castelo Branco, psiquiatra da Holiste, compareceu ao programa Saúde no Ar, da Rádio Excelsior, para esclarecer o atual cenário da psiquiatria no Brasil.
Segundo estatísticas, cerca de 50% da população já sofreu ou sofrerá de algum transtorno mental ao longo da vida. Doenças como a depressão, o transtorno bipolar e a esquizofrenia atingem um número cada vez maior de pessoas. Apesar desta realidade, o número de leitos públicos especializados neste atendimento vem sendo reduzido desde a reforma psiquiátrica, iniciada em 2001, fruto da Luta Antimanicomial. Com a redução da capacidade de atendimento pelo SUS, quinze anos após a reforma, o país acumula um déficit no atendimento dos doentes, o que aumenta consideravelmente o número de surtos e DE pacientes crônicos.
Resistência e preconceito
Apesar das barreiras no acesso ao tratamento, o preconceito em relação aos transtornos mentais vem diminuindo ao longo dos anos: “Antigamente a doença mental era sempre isolada. As pessoas que tinham esquizofrenia, transtorno bipolar, qualquer tipo de alteração com agitação, as pessoas tendiam a ficar isoladas. Então elas eram internadas e ficavam afastadas da sociedade. Isso foi mudando ao longo do tempo, foi deixando de ser uma coisa de isolar para reinserir estas pessoas no convívio social” – explica Dra. Lívia.
Ainda assim, o número de pessoas que não buscam ajuda e não aderem ao tratamento é grande, aponta a psiquiatra: “As pessoas demoram a procurar ajuda, pelo desconhecimento e pelo preconceito. As pessoas tendem a resistir, acham que psiquiatra é médico de maluco, que não precisa tomar remédio, que é falta de força de vontade, que a pessoa precisa somente se organizar. Então, muitas vezes, as pessoas passam a vida inteira sofrendo podendo ter uma melhora na qualidade de vida, mas tem essa resistência”.
Causas, sintomas e atual tratamento
A psiquiatria moderna dispõe de muitos recursos para o tratamento dos transtornos mentais. Desde o avanço das medicações psiquiátricas, passando pelas inovações das terapias de neuroestimulação, aliados aos tratamentos psicoterápicos e outras terapias ocupacionais, é possível, hoje, conter as crises e o avanço da doença: “As causas existem, várias, e muitas vezes a gente não consegue identificar qual foi a primordial. Existe uma base genética para a maioria dos transtornos mentais. (…) Mas, também, existe uma questão comportamental e ambiental, de história de vida, do sofrimento que a pessoa passou ao longo da vida, de exposição à certas substâncias psicoativas. Os sintomas podem ser quadros psicóticos com elevação do humor, irritabilidade, delírios, ideias de grandeza, ideia persecutória, agitação psicomotora e agressividade, entre outros” – afirma a especialista.
Para cada estágio ou gravidade da doença existe um modelo de tratamento adequado. O profissional capacitado traça um plano terapêutico de acordo com as necessidades individuais de cada paciente, considerado o caso a caso. Para Dra. Lívia, o principal é buscar ajuda e manter o tratamento constante: “Falar em cura é muito complexo, mas tratamento existe, e controle. Então, o objetivo é que a pessoa realmente continue tomando suas medicações, com acompanhamento psiquiátrico e psicológico, e todo um acompanhamento familiar para que a pessoa tenha uma vida mais próxima possível do normal. Na maioria das vezes a pessoa leva, realmente, uma vida normal”.
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