Os transtornos do aprendizado ganharam bastante evidência nos últimos anos. Ainda assim, ainda existem muitas dúvidas e tabus em torno do assunto, o que termina dificultando o acesso ao tratamento e causando sofrimento parar quem sofre com este tipo de transtorno. “As dores do aprendizado” foi o tema da palestra ministrada pela psicopedagoga Nadja Pinho, na Jornada de Saúde mental.
“O conceito mais denso é quando nos colocamos no lugar dessa criança, que muitas vezes se sente constrangida, se vê em sofrimento. Para aprender, é importante que não haja dor, por isso a importância de se desejar aprender, e para que haja esse desejo é preciso olhar para possíveis dificuldades neste processo. O aprendizado é único e singular, cada um aprende de seu jeito e é preciso respeitar isso”, acentua Nadja Pinho.
O transtorno de leitura ou dislexia, o transtorno de escrita e o transtorno de matemática são alguns exemplos de problemas ligados ao aprendizado.
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Conceitos
A dislexia é o transtorno da identificação das palavradas codificadas ortograficamente, o que leva a criança a “embaralhar as letras”, trazendo dificuldades para a leitura. Já o transtorno de escrita são os problemas voltados para a construção da ortografia e caligrafia.
“Isso consiste tanto em problemas como aglutinar palavras quanto na caligrafia, que muitas vezes é incompreensível. Algumas pessoas repreendem a criança, dizendo que a letra dela é feia, e isso não ajuda”, avalia Nadja Pinho.
O transtorno da matemática é conhecido como discalculia. Ter o transtorno não significa que a pessoa não tenha qualquer habilidade com a matemática. Ela pode saber fazer um cálculo, mas não conseguir interpretar um problema.
Fatores de interferência
Para que uma criança aprenda, existem fatores que precisam ser observados. A criança precisa saber os objetivos da aprendizagem. Então, é importante explicar o que aquilo vai trazer para a vida dela, onde ela vai empregar esse conhecimento, contextualizando dentro da linguagem da criança.
Em relação à cognição, é preciso ter em mente que a criança só responde algo que ela tem condição de responder.
“Pode-se estimular, mas não exigir. É ela que vai me dizer o que ela pode dar naquele momento. Além disso, a criança precisa se sentir à vontade com aquela metodologia. Também interferem no processo fatores externos, como a fome, o sono, as questões sociais, familiares e até as políticas”, salienta Nadja Pinho.
Os tratamentos para os problemas são diversos. A psicopedagogia é uma ciência nova que trata justamente dos processos do aprender, não se atendo, apenas, ao aprendizado da escola.
“Aprendizagem é amarrar um calçado, é andar, é um processo que começa antes da escola e segue para sempre. A psicopedagogia é interdisciplinar, ela precisa ser trabalhada com as diversas visões de diferentes profissionais – fonoaudiólogo, psicólogo, psiquiatra, a terapia ocupacional, arteterapia, o que for necessário para aquele caso, sempre com um olhar individualizado e dentro do contexto da criança”, explica.
Jornada de Saúde Mental
Com o tema “Abordagens Terapêuticas no tratamento dos Transtornos Mentais”, a Jornada de Saúde Mental, promovida pela Holiste, ocorreu em outubro, em Salvador, e abordou questões relacionadas ao trabalho multidisciplinar no tratamento em Saúde Mental.
O evento contou com a intensa participação de profissionais e estudantes da área que, durante dois dias, debateram sobre psicologia, psicanalise, psicopedagogia, terapia ocupacional, nutrição e acompanhante terapêutico no tratamento dos transtornos mentais.