Cláudio Melo e Victor Pablo foram os palestrantes do primeiro evento do projeto Encontros Holiste, que tem como tema “Conversar é o melhor caminho para entender de saúde mental”. O projeto é voltado para familiares e cuidadores de pessoas que lidam com transtornos mentais.
Os cuidadores, termo que compreende todas as pessoas que dão suporte ao paciente com transtornos mentais (conjugue, filhos, amigos, etc.) geralmente têm que manter tudo ao seu redor: empregos, famílias, filhos, além de cuidar do paciente. A tensão e dificuldades envolvidas podem ser tantas que, muitas vezes, existe o risco do adoecimento do cuidador.
“A ideia do evento, não é trazer palestras técnicas, e sim estimular uma conversa mais próxima entre os profissionais e as pessoas que têm em comum familiares que lidam com os transtornos mentais. Esse é um assunto sensível e delicado, mas que deve ser discutido, visando sempre proporcionar a melhor condição possível para o paciente e também para seus familiares e cuidadores”, explica Dra. Fabiana Nery, psiquiatra e coordenadora do Centro de Estudos Holiste.
CUIDANDO DO CUIDADOR
O psiquiatra Victor Pablo realizou a primeira palestra com o tema “Cuidando do Cuidador” que abordou o processo de adoecimento e os sentimentos de culpa e frustração que muitas vezes afeta a família do paciente.
“As grandes síndromes psiquiátricas afetam o indivíduo no início da vida adulta ou durante a terceira idade, o que frustra as expectativas da família em relação ao indivíduo, decorrente de sua perda de autonomia e sua inesperada dependência de cuidados específicos. ”
Outro ponto destacado foi sobre o desgaste excessivo que pode acontecer quando o cuidado do paciente recai apenas sobre um dos familiares, o que pode levar o stress do cuidador a atingir um patamar preocupante.
“Por mais amor que tenhamos pelo ente adoecido existe um limite para exaustão relacionada ao ato de cuidá-lo. Entre os indicadores de que o cuidador chegou ao seu limite no manejo do paciente estão: a fadiga fácil, a diminuição da habitual capacidade de relaxar ou sentir prazer, insônia, queda da produtividade profissional, isolamento social, sintomas dolorosos, desenvolvimento de sentimentos raiva, rejeição e conformismo, atuações de superproteção e até pensamento e comportamento suicida”, explica o psiquiatra e cita tópicos para o autocuidado nesse contexto:
“Perceber os sinais do próprio adoecimento; informar-se a respeito da natureza e da gravidade do caso da pessoa a ser cuidada para redimensionar suas expectativas de prognóstico; diversificar as rotinas do cuidador para evitar o desgaste ou facilitar sua recuperação. ”
O PAPEL DA FAMÍLIA NO TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO
O psicólogo Cláudio Melo falou sobre a importância do “Papel da Família no Tratamento Psiquiátrico, observando as características dos transtornos mentais e como os sintomas podem afetar toda a família ao redor:
“Alguns sintomas são resistentes ao tratamento e podem levar o paciente a uma grande dependência dos familiares. O transtorno mental não é uma condição formada puramente por sintomas corporais, ele envolve o comportamento e as relações afetivas do paciente com as pessoas ao redor, o que influencia negativamente nas relações e tem como consequência o sofrimento da família.”
Outro processo importante que o psicólogo destaca é a culpabilização da família e a consequente vitimização do paciente, onde a família se culpa pela condição do paciente, retirando dele a responsabilidade de seus atos motivados pelos sintomas, dificultando a implicação do paciente com o tratamento.
“Esse é um processo que se torna prejudicial para ambas as partes. A família sofre por carregar um grande sentimento de culpa no adoecimento, o que não é correto e ao mesmo tempo exime o paciente de se responsabilizar pelos seus atos ou pela sua melhora.”
AJUDA PROFISSIONAL
Na última parte do evento, os dois profissionais responderam perguntas da plateia, moderados pela psiquiatra Fabiana Nery.
A mensagem passada pelos profissionais foi que a falta de informação e o preconceito dificultam a aceitação e a adaptação da família à condição patológica crônica. Buscar a informação especializada e o auxílio de um profissional pode tornar o tratamento mais efetivo, além de despertar a consciência da necessidade de acompanhar o cuidador para que ele não adoeça no processo.
ENCONTROS HOLISTE | SEGUNDO EVENTO
O segundo evento do Encontros Holiste acontece no dia 26 de outubro, abordando os temas “Como lidar com a Dependência Química”, com o psicólogo Pablo Sauce e “Tratamento Ambulatorial e Internamento: Quando são necessários? ”, com a psiquiatra Fabiana Nery.
“Sempre que possível o tratamento médico será realizado em nível ambulatorial. Entretanto, existem situações que exigem o tratamento em um ambiente diferenciado. Por diversas razões, especialmente em casos mais graves, alguns tratamentos precisam ser realizados em um meio que ofereça condições mais intensivas e abrangentes de abordagem de um determinado quadro clínico. Em princípio, este ambiente especial é o hospital ou clínica especializada, que facilita um cuidado mais intensivo ou possibilita a utilização de métodos e instrumentos terapêuticos especiais. Isto é verdadeiro para um tratamento clínico ou cirúrgico e esta é uma realidade que também é verdadeira no que diz respeito ao tratamento psiquiátrico” adianta a psiquiatra.