Acompanhando a campanha do Setembro Amarelo, a Holiste realizou uma edição especial do Encontros Holiste sobre suicídio infantojuvenil, com a participação da psicóloga Ethel Poll e da psicopedagoga Nadja Pinho.
A campanha do Setembro Amarelo trouxe bastante visibilidade para o tema do suicídio ao longo dos anos. A sociedade já percebe que o suicídio é um problema de saúde pública, e que é preciso falar sobre isso para disseminar informação e contribuir com a prevenção de novos casos.
Contudo, falar sobre suicídio entre crianças e jovens ainda é um tabu que precisa ser encarado. Dados de pesquisas recentes apontam para um crescimento das tentativas e mortes por suicídio nesse público nos últimos anos.
Pensando nisso, a Holiste resolveu trazer como tema de sua campanha de Setembro Amarelo o Suicídio Infantojuvenil, com a participação de Ethel Poll, psicóloga e Coordenadora do Núcleo de Depressão, e Nadja Pinho, psicopedagoga e musicoterapeuta do Núcleo Infantojuvenil.
“Mais de 14 mil pessoas cometeram suicídio em 2021, e para cada suicídio consumado ocorreram 25 tentativas. O suicídio é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Isso nos dá a dimensão do problema e a necessidade de abordar o tema.” – explica Ethel.
SUICÍDIO E SAÚDE MENTAL
O suicídio é um tema complexo e que atrai pensadores de diversos campos do conhecimento, como a sociologia, a psicologia e a medicina. Portanto, podemos encontrar diferentes interpretações sobre o fenômeno, sobre o que leva uma pessoa a decidir tirar a própria vida.
Durkheim escreveu uma importante obra onde avaliava as questões sociais em torno do tema. Shneidman, psicólogo clínico e fundador do Centro de Prevenção ao Suicídio de Los Angelis, afirmou que o suicídio era “Resultado de uma dor psicológica (Pychache) insuportável, uma turbulência emocional, sensação angustiante de estar preso em si mesmo, sem encontrar saída”.
A psicanálise também se dedica ao tema. Freud, em sua obra Luto e Melancolia, tenta estabelecer a relação entre esses fenômenos e a tendência do indivíduo à autodestruição. Mais tarde, Freud elaboraria o conceito de Pulsão de Morte, como uma tendência do indivíduo à autodestruição.
“O importante é entender que um conceito não encerra o outro, pois o suicídio é algo complexo e que não possui uma explicação definitiva. O que vale a pena ressaltar é que em todas as teorias existe uma dor psicológica muito grande, um adoecimento mental grave, que se torna tão insuportável ao ponto de fazer a pessoa desistir de viver.” – afirma a psicóloga.
Assista a palestra de Ethel completa:
ACTING OUT E PASSAGEM AO ATO
Algo muito importante, quando falamos de suicídio, é entender os conceitos de acting out (atuação) e passagem ao ato. A atuação se dá quando a pessoa tenta atrair a atenção de quem está próximo para demonstrar seu sofrimento, como quando ela diz que não quer mais viver ou provoca automutilações.
Já a passagem ao ato consiste em todas as ações que o indivíduo faz com a real intenção de acabar com a própria vida. É importante salientar que o que importa, aqui, é a intenção do ato e não sua letalidade. Uma pessoa que toma veneno para se matar deve ser encarada com a mesma seriedade de outra que bebeu água com a mesma intenção, ainda que a segunda não tenha sofrido perigo real.
“Tanto a atuação quanto a passagem ao ato são indicadores de transtornos mentais, e devem ser levados a sério. A pessoa que se automutila para chamara atenção, por exemplo, pode realizar um corte mais profundo do que planejava e colocar sua vida em risco. Em todos os casos, o ideal é buscar ajuda especializada de imediato.” – lembra a especialista.
SUICÍDIO INFANTOJUVENIL
Quando tratamos do suicídio em crianças e adolescentes, o tabu é muito maior. A ideia de que alguém ainda no começo da vida já tenha uma dor psicológica tão insuportável, a ponto de desistir de viver, nos parece inaceitável. O fato é que crianças e jovens também podem apresentar transtornos mentais que, como vimos, são os principais fatores que desencadeiam uma tentativa.
Nadja Pinho lembra que, apesar de existirem casos envolvendo crianças, a maioria deles estão concentrados na adolescência, a partir dos 11 anos, que é uma fase da vida onde o indivíduo vai atravessar uma série de transformações importantes em sua vida.
“É um estágio predominantemente afetivo, onde o sujeito atravessa uma série de conflitos internos e externos. Os grandes marcos desse estágio são a busca de autoafirmação e o desenvolvimento da sexualidade. Há, ainda, uma série de mudanças corporais e a influência dos hormônios que serão responsáveis pela transição para a fase adulta.” – pontua a psicopedagoga. Assista a palestra de Nadja completa:
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
O suicídio não é um transtorno em si, mas um indicador de gravidade de alguma doença mental que necessita ser diagnosticada e tratada. Assim, não é possível diagnosticar e prever um suicídio. Mas, existem alguns sinais que podem ligar um alerta de que algo não está bem e merece a atenção de pais e educadores:
“Dificuldade em lidar com a frustração, déficit cognitivo, ansiedade crônica, histórico de suicídio na família, abuso de substância químicas, isolamento social, traumas não resolvidos, impulsividade, histórico de violência familiar e relatos de sensação de vazio são pontos que merecem atenção e que podem ser identificados pela família e amigos.” – salienta Nadja.
Uma vez mapeado o risco de suicídio, o importante é não tentar resolver o problema por conta própria. Buscar ajuda profissional é fundamental, pois somente um profissional será capaz de identificar qual transtorno está desencadeando a ideação suicida, e assim propor um tratamento.
“A família às vezes fica receosa de levar o seu filho para um psiquiatra, um psicólogo, mas isso é de fundamental importância. O acolhimento familiar é essencial, mas não basta. É necessária uma abordagem multidisciplinar para tratar o transtorno e, assim, fazer a ideação suicida desaparecer.” – finaliza.