Na edição de maio do Encontros Holiste, a psiquiatra Camila Coutinho palestrou sobre os transtornos alimentares e os danos causados à saúde física e mental. O evento é voltado para pacientes e familiares de pessoas que lidam com transtornos mentais.
Os transtornos alimentares (TAs) são caracterizados pelo comprometimento persistente no comportamento alimentar, bem como pela forma como o indivíduo percebe o próprio corpo. Gostar de comer, ter preferências e até mesmo aversão a certo alimento é algo normal. Mas, esses comportamentos podem ser considerados danosos à saúde quando desencadeiam hábitos alimentares que não são saudáveis, seja com a redução drástica ou o excesso do consumo.
A psiquiatra Camila Coutinho explica que o indivíduo com esse tipo problema passa o tempo inteiro pensando em comida, seja em restringir ou evitar o consumo compulsivo, seja para eliminar calorias que consumiu.
“Em muitos casos há uma distorção da imagem corporal, o que se torna um pensamento tão perseverante e intenso que o indivíduo acaba tendo uma vida disfuncional”, destaca Camila.
Confira a palestra na íntegra.
Diagnóstico e causas
Para ser considerado um transtorno, o comportamento alimentar incomum precisa durar um certo período, causando prejuízo à saúde física e à capacidade de desempenhar funções no trabalho ou escola, afetando negativamente as relações sociais.
A psiquiatra explica que por ser multifatorial, o transtorno alimentar engloba fatores neurobiológicos, socioculturais, psicológicos e familiares. A influência social para manter-se magro, seguindo padrões estéticos, a baixa autoestima, entre outros, são aspectos determinantes para desencadear o transtorno alimentar.
“Quem sofre de transtorno alimentar não consegue fazer escolhas livres em relação à sua alimentação ou ao seu corpo, e acaba sendo refém dos medos e obsessões que dominam sua vida”, explica a psiquiatra Camila Coutinho.
Tipos de transtornos alimentares
Distúrbios de comportamento alimentar, quando não tratados, podem levar à morte. As patologias mais comuns são: anorexia, bulimia, obesidade, vigorexia e transtorno de compulsão alimentar periódica.
A anorexia, por exemplo, atinge mais as mulheres: 90% dos casos ocorre neste público. Camila ressalta que nos casos onde a restrição alimentar é enorme, “as pessoas têm medo de engordar e nunca vão admitir que estão abaixo do peso; 80% dessas pacientes desenvolvem quadros depressivos e 71% apresentam transtorno de ansiedade”.
Aspectos psicossociais
O transtorno alimentar afeta não só a saúde física, mas também a psicossocial. Aspectos de personalidade como dificuldade em lidar com perdas, intolerância à frustração, baixa autoestima, são alguns dos fatores que podem desencadear um transtorno alimentar. Camila salienta que os pensamentos e as emoções ligados ao corpo e à alimentação provocam sofrimento e dificuldades no convívio social:
“Indivíduos que tem, por exemplo, anorexia severa, deixam de sair de casa porque sabem que vão ficar expostos a comportamentos que direcionam à comida. Um outro exemplo é a compulsão alimentar: o indivíduo começa a comer demais, ter vergonha, ganhar peso, pensa que as outras pessoas estão falando dele e evita sair de casa ou comer em frente a outras pessoas”, enfatiza a psiquiatra.
Padrões de beleza e exposição da mídia
A indústria da moda impõe padrões de beleza que trazem corpos magros e musculosos como padrão. Estudos indicam que os TAs que mais acometem as mulheres são aqueles vinculados à cultura do emagrecimento, que atribui aceitação social à pessoa que está dentro dessa referência.
A exposição da mídia reforça essa idealização do corpo perfeito, principalmente nessa nova era fitness, com blogueiras que cultuam um comportamento alimentar e esportivo bastante restrito e específico.
“A pressão social sobre a mulher é muito maior. O homem mais gordinho é aceito socialmente e não tem essa cobrança da sociedade em geral. A mulher tem que estar com o corpo perfeito, e tem que estar bem. A mulher magra é considerada como uma pessoa de sucesso”, comenta Camila.
Assim, os transtornos alimentares devem ser acompanhados e tratados com abordagem multidisciplinar, respeitando a singularidade do sujeito, e envolvendo acompanhamento psicológico, psiquiátrico e nutricional, podendo contar com o acompanhamento de um fisioterapeuta e/ ou educador físico.