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ESTRESSE: QUANDO ELE SE TORNA UM PROBLEMA?

Quando não tratado corretamente, o Estresse pode trazer riscos ao paciente e a terceiros.

Recentemente, um policial militar do estado de São Paulo que já havia pedido acompanhamento psicológico acabou baleando dois motoboys, levando um a óbito, em um surto psíquico aparentemente provocado por um caso grave de estresse. Para comentar o caso e falar mais sobre o tema, o psiquiatra e Diretor Clínico do Espaço Holos, Dr. Luiz Fernando Pedroso, compareceu ao programa Sinta-se Bem, apresentado por Olga Goulart.

 

ENTENDENDO O ESTRESSE

Ao contrário do que diz o senso comum, o estresse não é uma condição estritamente relacionada à vida moderna, como lembra Dr. Luiz Fernando: “Não necessariamente é uma coisa da vida moderna. A gente pode imaginar os nossos ancestrais andando no mato, com o risco de serem atacados por animais de toda ordem, a ausência de recursos para cuidar de feridas das mais simples, etc.. Eu quero crer que a humanidade, ao longo de toda sua história, sempre conviveu com o estresse”.

Natural à condição humana, o estresse na medida certa pode servir como estímulo para tomadas de decisões e resolução de problemas. O grande problema é quando esta condição atinge níveis insuportáveis, podendo desencadear problemas mais graves: “O estresse em um nível muito alto, exacerbado, ele é um gatilho importante para o desencadeamento de outras doenças: depressões, surtos psicóticos, síndrome de pânico, etc.. Síndrome de Pânico está muito associada, porque o estresse está muito ligado à ansiedade, e a Síndrome de Pânico incapacita a pessoa, e aí tem que ter uma abordagem não só psicoterápica, como medicamentosa. Então as pessoas não vão escapar nunca de viver o seu estresse, mas elas têm que buscar algum tipo de equilíbrio, compensar situações de estresse com situações de lazer para levar uma vida equilibrada. Quando este equilíbrio é rompido, aí o risco de desencadeamento de um sem número de transtornos mentais é muito alto” – pontua o médico.

 

ESTRESSE EM POLICIAIS E OUTRAS PROFISSÕES DE RISCO

Diante da violência cotidiana galopante do nosso país, é natural que os policiais sofram um estresse maior no exercício de sua função, por estarem na linha de frente do combate ao crime. Além disso, policiais não recebem o treinamento adequado, os equipamentos apropriados ao cumprimento do seu dever, remuneração condizente aos riscos enfrentados ou acesso a saúde e suporte psicológico compatível ao desgaste sofrido nesta função, como aponta Dr. Luiz Fernando: “O nosso policial médio é muito desassistido em termos de saúde: saúde é uma coisa cara e o SUS não corresponde” – o que, segundo o psiquiatra, aliado a uma realidade de total despreparo se torna uma tragédia – “Nunca me esqueço de uma vez em que eu estava em um stand de tiros, de vez em quando eu gostava de praticar tiro para desestressar, e às vezes me deparava com policias praticando tiro à custa do seu próprio salário, porque eles não recebem munição para isso, eles não recebem treinamento; o treinamento destas pessoas é absolutamente pífio. (…) E a sociedade, hoje, cobra muito do policial e não lhe dá as condições necessárias para o cumprimento do seu dever”.

Completando o quadro caótico ao qual os policias estão integrados, a sociedade brasileira passa por um momento de inversão de valores morais graves: “O policial hoje está em um beco sem saída, porque nós vivemos até uma crise moral: se você deixa o bandido fugir, todo mundo briga; se você prende o bandido e usa uma energia maior ou acerta o bandido, todo mundo crucifica o policial. É muito complicado” – diz o psiquiatra.

 

ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

Na outra ponta da violência urbana estão aqueles profissionais que são vítimas de atos violentos, como assaltos e sequestros. Profissões como bancários, caixas/ balconistas, cobradores e motoristas de ônibus, taxistas, caminhoneiros e qualquer outra profissão que lide com valores ou mercadorias. É o caso dos carteiros, população bastante conhecida por Dr. Luiz Fernando e que é atendida com frequência no Espaço Holos: “Nós atendemos muitas pessoas que trabalham nos Correios, entregando cartas, entregando valores. É impressionante o número dessas pessoas que nos procuram para atendimento com estresse, com o trauma, porque eles são constantemente assaltados e agredidos, e no dia seguinte eles têm que voltar para a mesma situação. É humanamente insuportável”.

Na psiquiatria, episódios de estresse decorrentes de grandes traumas são classificados como Estresse Pós-traumático: “Determinadas situações elevam o estresse a níveis insuportáveis. Hoje a Psiquiatria discute muito o Estresse Pós-traumático, em decorrência destas últimas guerras, como a do Iraque, que abalam a sociedade americana” – informa Luiz Fernando, que traça um paralelo com a realidade brasileira, a qual considera ainda pior, uma vez que os atos de violência estão inseridos em nosso cotidiano e não em situações de guerra – “O pior é que a gente acaba se acostumando com isso, como se isso fosse normal. Outro dia eu estava em um congresso no exterior e comentávamos, eu e outros colegas, que  o grande luxo que temos hoje, ao viajar para um país estrangeiro, da Europa, Estados Unidos ou Canadá, é você poder andar na rua (…) e aquela sensação que a gente tem de absoluta segurança, de absoluto respeito à vida”.

 

PROGRAMA DE TRATAMENTO DO ESTRESSE E TRANSTORNOS DE ADAPTAÇÃO

Conforme foi esclarecido por Dr. Luiz Fernando, casos mais graves de estresse merecem um tratamento adequado, mesclando a psicoterapia com o tratamento medicamentoso. No Espaço Holos disponibilizamos o Programa de Tratamento do Estresse e Transtornos de Adaptação, que consiste em uma estrutura multidisciplinar específica para a abordagem desta comorbidade. Aliando tratamento psiquiátrico com o psicológico, o acompanhamento é feito de forma individual e em psicoterapias de grupo, aliados à farmacoterapia.

Além dos diagnósticos de Estresse Pós-traumático, o programa engloba pessoas com Reação Agudo ao Estresse e Transtornos de Adaptação. A troca de experiências proporcionada nas psicoterapias de grupo é fundamental neste tratamento, pois compartilhar informações com pessoas que sofrem do mesmo mal ou que enfrentam sintomas parecidos faz com que, através da percepção dos problemas do outro, o indivíduo aceite e entenda melhor a sua condição, o que potencializa a adesão ao tratamento: “A adesão ao tratamento é 80% do tratamento. Se o paciente segue as instruções, comparece às consultas, tem um bom relacionamento com o seu médico, é um parceiro da sua própria saúde, as chances da coisa evoluir bem são enormes” – Finaliza o especialista.

 

Confira a entrevista completa:

*Dr. Luiz Fernando Pedroso é médico psiquiatra, Fellow da Associação Americana de Psiquiatria.