Cercado por muita desinformação, o Transtorno Bipolar atinge cerca de 4% da população mundial. A psiquiatra Livia Castelo Branco falou sobre o tema em entrevista à rádio Excelsior.
Anteriormente conhecido como Transtorno Maníaco Depressivo, o Transtorno Bipolar do Humor é uma doença mental grave, onde os casos mais avançados podem levar o paciente a óbito. Assim, é importante que as pessoas entendam mais sobre a doença, suas causas, sintomas e tratamentos.
Ouça a entrevista completa:
ALÉM DA VARIAÇÃO DO HUMOR
O transtorno bipolar é caracterizado, basicamente, pela existência e alternância entre dois estados do humor: a depressão e a euforia (ou mania). A maioria das pessoas confundem muito essa definição, acreditando que alguém com transtorno bipolar apresenta alteração repentina do humor, a todo tempo, quando na verdade essas alterações costumam durar dias ou meses. Além disso, essa não é a única característica do transtorno:
“Na verdade, o transtorno bipolar envolve muito mais coisas. Tem, realmente, uma alteração do humor, mas você vê uma alteração do comportamento, alteração dos movimentos, alteração das relações interpessoais, da energia. Então, envolve um monte de coisas que vão além de uma simples alteração do humor” – explica a psiquiatra da Holiste.
Também é comum a dúvida sobre como identificar se um quadro com sintomas depressivos é um caso de depressão ou de transtorno bipolar. Por isso, não é aconselhável que o paciente se automedique, pois existe o risco de desencadear uma crise de euforia caso seja uma depressão bipolar.
“Existem pessoas que têm transtorno bipolar, mas que só têm os episódios depressivos, sem essa parte da agitação, da euforia, da irritabilidade. Então, realmente, às vezes é muito difícil você separar o que é a depressão comum e o que é a depressão bipolar” – afirma Livia.
CAUSAS
O transtorno bipolar é uma doença multifatorial, ou seja: possui mais de uma causa. Entre as causas, podemos apontar: fatores genéticos, traumas psicológicos na infância, perdas e lutos, estresse e até problemas nutricionais.
“Geralmente a gente fala de uma vulnerabilidade genética. As pessoas que têm transtorno de humor na família, principalmente transtorno de humor bipolar, têm o risco maior de ter transtorno bipolar, também.
Então, a gente fala do estresse, da personalidade, da forma como a pessoa reage aos estressores ambientais, o que ela passou na vida – se ela passou por algum tipo de trauma, se ela passou por negligência, abusos durante a infância, problemas nutricionais, infecções -, qualquer tipo de estresse emocional ou físico pode predispor, também, ao transtorno bipolar” – pontua a especialista.
TRATAMENTO
Como a maioria dos transtornos mentais, o transtorno bipolar não tem cura. Contudo, com o tratamento adequado os sintomas desaparecem e o individuo pode levar uma vida normal. Os casos simples podem ser tratados ambulatorialmente, enquanto as crises necessitam de uma intervenção mais contundente, como uma internação psiquiátrica.
O tratamento envolve o acompanhamento psiquiátrico e psicológico, envolvendo tratamento medicamentoso, psicoterapia, adoção de hábitos saudáveis e, em alguns casos onde o paciente apresente algum bloqueio social, um acompanhante terapêutico pode ser necessário.
“Quando a gente fala de transtornos mentais, geralmente eles são crônicos. Então, a gente não espera uma cura, mas a gente espera um tratamento, um manejo, uma melhora da qualidade de vida, e adaptar aqueles sintomas para que a pessoa tenha uma vida mais satisfatória possível.
Às vezes a pessoa tem aquele negócio de dizer – ‘Ah, agora eu tenho o diagnóstico de transtorno mental, o que vou fazer? Minha vida acabou’ – Não! Com a medicação, com a psicoterapia, com os tratamentos não farmacológicos, atividade física, dieta, etc., é possível, sim, que a pessoa tenha a remissão completa dos sintomas e tenha uma vida normal” – finaliza a psiquiatra.