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Gato por lebre | Artigo Luiz Fernando Pedroso

Em artigo publicado no Jornal A Tarde, Luiz Fernando Pedroso – psiquiatra e diretor clínico da Holiste – comentou sobre o intenso controle exercido pelos Planos de Saúde e sobre a insatisfação dos dois principais envolvidos na relação: os médicos e os pacientes.

Leia o artigo completo.


 

Segundo pesquisa recente do Datafolha, 96% dos usuários de planos de saúde, nos últimos dois anos, tiveram problemas para receber atendimento, enquanto 90% dos médicos sofreram cerceamento de sua autonomia profissional por parte das operadoras.

O principal problema é a barreira de acesso ao serviço. Pessoas pagam o plano e, quando precisam, uma série de entraves impedem os atendimentos mais especializados e caros. Do outro lado, médicos são coagidos a conter a demanda, não prescrevendo serviços. Assim, médicos e pacientes se tornam reféns de um intermediário que não entrega o que promete.

A tal qualidade de gestão, apreogoada pelas operadoras, não se vê na prática. O  combate ao desperdício e fraudes é pura retórica para encobrir seu real papel: controlar preços e demanda para manter a saúde subfinanciada. Em termos de valores, em um setor competitivo e regido pelas leis de mercado, o sistema suplementar pouco agrega; mas, em contrapartida, copia o modelo estatal nos seus defeitos.

Gestado pela ditadura militar e sanitaristas egressos do antigo partido comunista, o SUS traz a visão estatizante e autoritária dos seus criadores. Da ditadura, herdou a melagalomania de um estado monopolista, que queria mover o Brasil pelo sistema Brás de estatais. Dos comunistas, trouxe a burocracia da planificação social e a aversão ao mercado. Por pouco, a medicina privada sobreviveu à constituinte de 1988, tornando-se “suplementar” e subordinada ao SUS. Era a época do “tudo pelo social” do governo Sarney. Com o país quebrado, o congelamento de preços, confisco de bois nos pastos e da poupança eram as soluções apresentadas. O SUS virou um feroz sistema de controle estatal e supressão das leis de mercado para viabilizar a utopia populista da saúde, colocando-a como um direito e não como um bem a ser conquistado.

Com a decadência do SUS, a medicina suplementar ganhou prestígio.  Mas, o controle permaneceu com o estado, tornando a saúde suplementar o SUS da classe média. Através de uma regulação autoritária e variadas benesses – reserva de mercado, cartel, etc. – o estado usou a medicina suplementar para aliviar a pressão sobre o SUS. Ao impedir um mercado regulado pelas leis da oferta/procura e da livre concorrência, reproduziram em mãos privadas o modelo estatal, um híbrido controlado por banqueiros, políticos e burocracia estatal, que lucram em cima de esquemas ao invés de fazê-lo legitimamente, através do necessário financiamento do setor.

Se continuarmos a fazer mais do mesmo, a saúde suplementar poderá ter o mesmo destino do SUS: a obsolescência e o sucateamento. Nesse momento, a sociedade hesita entre a cronificação da insatisfação e a assunção de responsabilidades mais liberais, eliminando os intermediários do caminho.

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Artigo publicado no Jornal A Tarde – 07/09/2018