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Lidando com os Pais | Revista Holiste

Enquanto referências para os filhos, pais e mães são considerados importantes parceiros no tratamento de crianças e adolescentes.

Os pais ocupam um lugar especial na vida da criança e do adolescente, servindo de exemplo para eles, de forma consciente ou não. Atuam como figuras representativas, exercendo grande influência no comportamento e na formação psíquica dos seus filhos, que, por sua vez, tomam para si cada ato ou palavra dita por eles como valores para o fluxo das suas vidas.

É com esse olhar que a equipe multidisciplinar do Núcleo Infanto-Juvenil da Holiste busca a ajuda dos pais e responsáveis na realização do tratamento terapêutico dos filhos. Para os especialistas, eles são colaboradores estratégicos para o resultado positivo da psicoterapia, pois, além da representatividade natural, cuidam e convivem diariamente com as crianças e se relacionam com os adolescentes desde quando nasceram. Assim, compartilham momentos e situações, podendo ter mais facilidade de identificar as suas demandas.

Além disso, pais e responsáveis servem como fontes de informações importantes para a interpretação correta do quadro, fornecendo dados que poderão ser confrontados com aqueles apresentados pelos pacientes. Seja no atendimento ambulatorial, no tratamento em hospital dia ou na internação, a família (pais, irmãos, avós, tios, etc.) e outros cuidadores (professores, babás, etc.) são importantes aliados no tratamento terapêutico, funcionando como uma grande rede de apoio.

“A participação de pais ou responsáveis é fundamental no processo terapêutico, pois eles são referências para crianças, enquanto indivíduos em desenvolvimento mental que ainda não alcançaram todas as suas potencialidades”, explica Mateus Freire, psiquiatra do núcleo, acrescentando que esta relação com o outro vai refletir no futuro adulto, sendo importante não só o envolvimento dos pais e responsáveis no processo terapêutico, mais do que isso, “eles também precisam ter suas preocupações e demandas acolhidas, para que consigam ser um ponto de apoio para o jovem”.

Como cita a psicóloga Daniela Araújo, coordenadora do núcleo, a preocupação inicial dos responsáveis, mesmo estando tomados pela emoção e apreensão, deve ser bem acolhida, pois é neste contexto que são extraídas informações valiosas para a composição do plano terapêutico. “A criança chega ‘falada’ pelos pais ou responsáveis, que notam que algo não vai bem com ela. Depois, no segundo momento, passamos a palavra para a criança”, explica a psicóloga, frisando que a participação dos cuidadores, nesta etapa, viabiliza “localizar alguma coisa que é fundamental para o tratamento”.

Já no caso dos adolescentes, o manejo psicoterápico é diferente. Nesta fase de transição, ocorre o desencontro destes jovens com as figuras de autoridade, pois eles já são capazes de falar sobre si, mostrar suas demandas e insatisfações. Na sessão de psicoterapia, eles demostram uma postura madura, escutam, se responsabilizam ou discordam sobre o que os pais falam sobre eles.

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Aliados nas atividades terapêuticas

Na dinâmica das atividades terapêuticas com crianças, os cuidadores adultos têm uma missão importante: incentivar e ajudar o desenvolvimento das habilidades e competências do cotidiano, como amarrar o sapato, escovar os dentes e utilizar os talheres, que são tarefas diárias e trabalhadas nas sessões de terapia. Segundo Nadja Pinho, musicoterapeuta e psicopedagoga que atende crianças com dificuldade de aprendizagem e transtornos no processo de adaptação escolar, “neste processo de intervenção, os pais são nossos parceiros. Eles são orientados sobre como trabalhar com os filhos em casa, já que as crianças são atendidas na clínica apenas uma vez por semana, geralmente. É um investimento grande; tem que ter tempo, desejo e condição para colaborar nesta tarefa”, diz a especialista.

Desse modo, os pais auxiliam no cumprimento daquilo que foi estabelecido no contrato terapêutico entre o jovem e o profissional de referência. “Não adianta a criança ter um comportamento comigo e outro no ambiente social, pois ela tem que ter um padrão, uma rotina, cumprir horários e compromissos, manter uma disciplina no seu cotidiano, de forma a atender as necessidades do seu desenvolvimento humano”, afirma Nadja.

Os responsáveis podem contribuir no incentivo às mudanças de comportamento dos filhos. “Uma criança que precisa trabalhar a flexibilidade, por exemplo, tem que modificar determinados comportamentos. Para isso, é preciso o incentivo dos pais, através do exemplo, permitindo que que elas mudem. Se os responsáveis não cumprem os acordos, não fazem esse movimento, o jovem tende cristalizar seus comportamentos, e não se flexibilizar”, argumenta Nadja.

Itatiara Xavier, terapeuta ocupacional, compartilha com Nadja a opinião sobre a necessidade do compartilhamento do cuidado entre a equipe de especialistas e o cuidador. Para ela, não tem como acompanhar a criança e o adolescente sem desenvolver um relacionamento com os pais e responsáveis, inserindo-os no tratamento, esclarecendo suas dúvidas e cuidando de suas emoções e angústias. Temos que dividir a responsabilidade, trocar as informações e compartilhar o cuidado”, complementa ela.

Com os adolescentes

Os pais e responsáveis também são bem-vindos nas atividades terapêuticas dos filhos adolescentes. Esta faixa etária, que gira em torno dos 10 aos 18 anos, é marcada por uma fase de transição que os tornam vulneráveis pelos vários papéis sociais que precisam ser trabalhados, necessitando de muito recurso emocional para se reafirmarem como indivíduo.

Como parte do seu atendimento em consultório, Itatiara costuma criar, junto aos adolescentes, a cartografia do cotidiano, onde é mapeada cada atividade do dia e identificados os pontos que devem ser trabalhados. O adolescente se compromete em organizar o horário e realizar o cumprimento das atividades, que incluem o trabalho com pintura, argila e artesanato, além do manejo dos recursos digitais, como redes sociais e jogos eletrônicos, que podem ajudar no processo de sociabilidade.

“Construímos, juntos, o Facebook, Instagram, pois a rede social é uma realidade. Temos que usar esta ferramenta com cuidado, pois. do mesmo jeito que pode ajudar, pode potencializar um comportamento nocivo. Portanto, é importante a interferência dos pais e pactos de uso, para limitar o uso da internet”, lembrando que para cada caso é criada uma estratégia de trabalho, que deve ser compactuada entre os envolvidos, construindo o diálogo entre pais e filhos, mas sem perder de vista o espaço do adolescente.

Relacionamento saudável

A ajuda profissional é fundamental para o restabelecimento de um diálogo sincero, no sentido de modificar o relacionamento entre os familiares para algo saudável, um trabalho que exige tempo, trabalho, dedicação e paciência.

No entanto, algumas regras devem ser respeitadas e cumpridas pelos responsáveis/ cuidadores, durante o tratamento infantojuvenil. É muito comum, na consulta com o especialista, adultos apresentarem suas angústias em demasia, desejando resultados imediatos em relação ao tratamento do filho. Esperam a condução do tratamento de acordo com as suas expectativas e demandas pessoais, desconsiderando as necessidades pessoais do filho.

Para os especialistas, é de extrema importância ouvir, compreender e acolher as queixas dos pais, mas sempre considerando que o foco da abordagem terapêutica é a criança/ adolescente. Estes jovens devem ser trabalhados de acordo com o diagnóstico e suas demandas pessoais, o que leva à adoção de estratégias terapêuticas personalizadas. “Temos que respeitar a angústia dos pais, mas eles devem entender que os comportamentos dos filhos não podem estar sempre ajustados às suas necessidades. É preciso ofertar um lugar ao jovem, respeitá-lo enquanto indivíduo; e os pais devem reconhecer as escolhas, os limites e as condições do filho. Realizar o tratamento ao modo dos pais só atrapalha o processo”, analisa a psicóloga Daniela Araújo, ressaltando que, gradativamente, pais e cuidadores vão sendo trabalhados para que possam entender qual é sua real função dentro do tratamento.

Neste contexto, o discurso da criança ou adolescente é uma ferramenta estratégica para identificar se seus problemas envolvem, também, a relação com os pais. “A criança tem certa sinceridade e a gente possui meios de saber o que está acontecendo com ela, ouvindo o que tem a dizer” sinaliza Mateus Freire, pois “não podemos esquecer que quem está recebendo o cuidado é a criança ou adolescente”, defende o psiquiatra.

O lugar da criança e do adolescente

Pais e responsáveis ficam assustados ao perceberem algum comportamento diferente nos filhos. São situações difíceis de lidar no cotidiano, como a desobediência, agressividade, mentiras recorrentes, postura contestadora ou de isolamento do adolescente, o que de certa forma afeta, também, a vida deles, seja no rendimento escolar ou mesmo no relacionamento social.

Para o psiquiatra Mateus Freire, existe uma espécie de descompasso entre aquilo que o adulto acredita e o que de fato está acontecendo com a criança/adolescente. “Na verdade, essas reações adversas se traduzem em insatisfação ou algo que está incomodando no campo emocional, necessitando, portanto, de cuidado e atenção”, explica o psiquiatra.

Com a falta de comunicação entre o jovem e o adulto, estes comportamentos e emoções tendem a se desenvolver ao longo do tempo, com a dificuldade da criança em externar suas emoções. Fatalmente, nestas condições, o distanciamento entre eles toma contornos consideráveis, podendo refletir em desajustes emocionais em toda a família.