No Brasil, vivemos um momento de aumento da violência e do crime. Mas, seria um problema de Saúde Mental que está por trás dessas mentes criminosas?
As contínuas ondas de violência e crimes que assolam o país, principalmente os casos de rebeliões nos presídios, tem demonstrado que a crueldade envolvida nestes atos tem crescido a níveis alarmantes. A banalidade com a qual execuções tem ocorrido alertaram a opinião pública para o debate: o que está por trás dessas mentes criminosas? Para debater o tema o psiquiatra e Diretor Clínico da Holiste, Dr. Luiz Fernando Pedroso, compareceu ao programa Saúde em Foco, da Rádio Excelsior.
O que são Mentes Criminosas?
O termo “Mentes Criminosas” ficou bastante conhecido por conta de um seriado de TV americano, onde investigadores tentam desvendar crimes realizados por psicopatas. Mas, é correto acreditar que existem mentes previamente formatadas para o crime? Existe algum transtorno mental responsável por tornar alguém criminoso? Segundo Dr. Luiz Fernando Pedroso, o termo é “genérico, dentro disso daí cabe um monte de coisa. Cabe pessoas com transtorno de personalidade, algumas outras doenças, pessoas com ausências de valores, problemas culturais, problemas sociais, problemas circunstanciais (porque uma pessoa normal, pouco propensa a ter uma mente criminosa, também pode cometer um crime por circunstâncias várias). Então, diante de uma situação de violência, de crime, a primeira coisa que a gente precisa fazer é um bom diagnóstico, pra ver causas físicas, psíquicas, sociais, culturais, circunstanciais; é um trabalho complexo”.
Psicopatia
Existem alguns casos que chamam a atenção pela capacidade que a mente criminosa tem em levar duas vidas paralelas, apresentando dupla personalidade. É bastante comum, inclusive na ficção, casos onde uma pessoa tem uma personalidade completamente de acordo com seu ambiente social, mas que leva uma vida de crimes e violência que não emerge na sua convivência com outras pessoas.
O psiquiatra aponta o psicopata como exemplo deste tipo de comportamento: “Esses casos são muito romanciados. Mas, um bom psicopata ele é muito dissimulado, ele é capaz de fingir, ele engana, ele se insere muito bem socialmente. Esse é um caso modelo de um bom psicopata, é aquele que se insere bem socialmente, se dá bem com todo mundo e apunha-la pelas costas”.
Tratamento das mentes criminosas: é possível?
Muito se questiona sobre a possibilidade de recuperação, de ressocialização dessas mentes criminosas. Afinal, é possível recuperar alguém com um histórico de violência e crimes? Segundo o especialista, tudo vai depender de cada caso, do transtorno envolvido e da vontade do delinquente se recuperar: “Você tem casos que não recupera, mesmo. Em toda área da medicina você tem doenças que não consegue vencer, doenças que vão ser fatais, que vão evoluir para o óbito. Você tem muitos casos de psicopatia, os mais clássicos, que você não consegue recuperar. Como a gente tá falando aqui, que a mente criminosa é um conceito genérico, e dentro dessa cesta cabem muitos e variados tipos de mentalidade, de personalidade e de transtornos, é preciso separar a joio do trigo; é preciso separar aqueles que você pode ajudar, aqueles que querem ser ajudados, e é preciso, também, reconhecer aqueles que não tem jeito”.
Outro ponto destacado pelo psiquiatra é a dificuldade de tratar do problema da violência em uma sociedade que apresenta distorção de valores, como a nossa, onde a sensação de impunidade reina no meio da população. “Primeiro, nós temos a coisa da impunidade. Nós temos medo, receio em prender o criminoso. Eles não podem ficar soltos. A primeira coisa para você tentar ajudar alguém, inclusive, é você se proteger. Então, se alguém vem me assaltar, se alguém me ameaça, eu não quero saber se ele vai ou não se recuperar: primeiro eu tenho que me defender dele. Depois é que a gente vai ver se ele é recuperável, se não é, se ele quer se recuperar ou não. Mas o que a gente não pode é ficar “a polícia prende/ a justiça solta”, em nome de mil causas, e deixando todos nós assustados e trancados em nossas casas” – finaliza.