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Neuroestimulação sem preconceito

Dados do Ministério da Saúde informam que cerca de 17 milhões de brasileiros sofrem de transtornos causados pela depressão, mas muita gente não sabe que as terapias de neuroestimulação são as mais eficazes no tratamento dessa e de outras doenças.

A falta de informação e até mesmo o preconceito impede que milhares de pessoas se beneficiem dos tratamentos de neuroestimulação, considerados eficazes e importantes ferramentas no tratamento dos transtornos mentais. As terapias de neuroestimulação funcionam de duas maneiras diferentes: na primeira, ondas magnéticas são emitidas para estimular alguns circuitos neuronais, procedimento conhecido como Estimulação Magnética Transcraniana (EMT); na outra, pulsos elétricos são utilizados para induzir convulsões controladas, terapia conhecida como Eletroconvulsoterapia (ECT).

 

Eletroconvulsoterapia: uma revolução na psiquiatria

Apesar de não ser um tratamento novo, a Eletroconvulsoterapia ainda é considerada, pela grande maioria dos psiquiatras, como o mais eficaz tratamento contra a depressão grave. A ECT ainda é alvo de muito preconceito por ter sido combatida política e ideologicamente nos anos sessenta e setenta. Nessa época, movimentos de contracultura demonizavam  a psiquiatria, associando-a ao establishment conservador. Pregavam que a doença mental era uma invenção do capitalismo para estigmatizar pessoas comportamentalmente diferentes e contestadoras, e que os psiquiatras eram agentes do sistema opressor, encarregados de enquadrar e punir os dissidentes. Assim, a internação psiquiátrica ficou associada ao encarceramento de opositores políticos, enquanto procedimentos como a ECT eram vistos como mecanismos de tortura. No Brasil, a ECT foi associada às sessões de tortura realizadas pela ditadura militar, onde presos políticos eram submetidos a choques elétricos. Após trinta anos do fim da ditadura, o estigma persiste, residualmente.

Mesmo com toda perseguição ideológica, a ECT permaneceu sendo muito utilizada e valorizada pelos psiquiatras, tendo sua técnica aprimorada ao longo dos anos. “As pessoas tendem a pensar somente na questão do choque elétrico, quando na verdade o foco da terapia é a convulsão induzida. No século XVIII utilizava-se óleo de cânfora para induzir a convulsão, depois que se observou que elas produziam uma importante melhora nos sintomas psicóticos. Posteriormente, na busca por métodos mais seguros para realizar o procedimento, foram desenvolvidas técnicas que utilizavam a aplicação de injeções de Cardiazol e Insulina, até que se chegou ao uso da eletricidade como meio mais seguro e eficaz de se produzir um estímulo à convulsão. O eletrochoque é, portanto, um avanço da técnica em busca de preservar o bem estar do paciente” – explica Dr. Luiz Fernando Pedroso, médico responsável pelo procedimento na Holiste. A partir daí, a Eletroconvulsoterapia se popularizou e realizou a primeira grande revolução na psiquiatria, recuperando milhões de pessoas até então desenganadas nos antigos manicômios.

Hoje, o procedimento é realizado com a utilização de sofisticados aparelhos que controlam o tempo, a carga e a frequência dos pulsos elétricos, permitindo a liberação de estímulos reguláveis de pulsos breves e ultra breves, reduzindo consideravelmente os efeitos colaterais do tratamento. “A aplicação da Eletroconvulsoterapia evoluiu bastante com a corrente de pulso breve. Ela reduz consideravelmente as alterações de memória que, embora transitórias, limitavam muito o número de aplicações. Com isso, aumentou a tolerabilidade ao tratamento permitindo um número maior de aplicações e até seu uso como terapia de manutenção”, esclarece o Dr. Luiz Fernando Pedroso.

Embora seja um tratamento por si só indolor, a ECT é realizada com anestesia geral para promover o relaxamento muscular e trazer mais segurança e conforto ao paciente. Além disso, a anestesia ampliou muito as possibilidades terapêuticas da Eletroconvulsoterapia, possibilitando que ela seja aplicada em gestantes e idosos.

Entre as principais indicações da ECT está a necessidade de uma reposta terapêutica mais rápida, principalmente em pacientes com risco de suicídio, negativismo intenso e catatonia. Ela é praticamente obrigatória nos casos em que os pacientes não respondem às medicações ou são sensíveis a elas. “Além de ser a terapia mais eficaz para alguns tipos de transtornos, ela recupera pessoas e salva vidas. Contudo, suas indicações são muito precisas, e o número de sessões varia de acordo com o caso” – conclui o Dr. Luiz Fernando Pedroso.

 

Estimulação Magnética Transcraniana: uma nova arma

Já a Estimulação Magnética Transcraniana é dos tratamentos mais recentes e avançados da psiquiatria moderna. Aprovado em 2008 pelo FDA nos Estados Unidos e em 2012 pelo Conselho Federal de Medicina do Brasil, é um procedimento não invasivo, indolor e realizado com o paciente acordado.

A partir do mapeamento de área motora do cérebro e de mensurações realizadas antes da sessão, se localiza a área específica que receberá o estímulo, assim como se determina a intensidade do mesmo. O paciente recebe os pulsos magnéticos somente no local a ser estimulado, sentado confortavelmente em uma poltrona. A estimulação é feita através de uma bobina repousada sobre a cabeça do paciente, que estará envolta por uma touca de tecido especial marcada com o ponto a ser estimulado. É criado um campo eletromagnético que, a depender da frequência utilizada, pode estimular ou inibir a atividade neuronal, chegando ao resultado esperado em cada caso.

A Estimulação Magnética Transcraniana é bastante eficaz no tratamento dos transtornos depressivos moderados e graves, incluindo os casos refratários (situação em que a doença não responde a outras terapias). Por se tratar de um método pouco invasivo, ela pode ser utilizada com segurança em situações clínicas específicas, nas quais o uso de antidepressivo é arriscado ou contraindicado, como em gestantes e idosos. A técnica também é indicada no tratamento das alucinações auditivas resistentes à farmacologia, e tem demonstrado eficácia no tratamento de dependentes de cocaína e na dor crônica, em especial na fibromialgia.

Pacientes com histórico de neurocirurgia e epilepsia precisam ser avaliados com mais minúcia, mas sem contraindicação absoluta. Já indivíduos com implantes metálicos e marca-passo não podem realizar o procedimento. “Até 2004 foram registrados apenas 8 casos de crise convulsiva causada por esse tratamento, sempre associadas ao uso fora dos parâmetros de segurança, que posteriormente foram estabelecidos. É um número muito pequeno quando comparado às milhares de estimulações que são realizadas todos os dias ao redor do mundo. Na Holiste, já realizamos o procedimento a um bom tempo sem apresentar qualquer problema relacionado a este tipo de complicação”, informa Dr. André Gordilho. Segundo o especialista, os efeitos colaterais, quando ocorrem, limitam-se a uma breve dor de cabeça, que pode ser manejada com uso de qualquer analgésico comum.

 

Fora de contexto

Enquanto a neuroestimulação enfrenta preconceitos, um cenário preocupante se expande sem enfrentar críticas. Trata-se do uso indiscriminado de medicamentos psiquiátricos, sem a prescrição médica, para outros fins que não aqueles originais: o do tratamento de transtornos mentais.

Um bom exemplo pode ser visto com o metilfenidato (Ritalina, Concerta), um dos medicamentos mais vendidos do mundo, indicado, dentre outras coisas, para casos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Segundo pesquisas, a droga vem sendo usada sem critérios por quem não sofre ou nunca sofreu com esses problemas. É comum encontrá-la em faculdades de medicina, cursos pré-vestibulares e até em grandes empresas, já que ganhou o apelido de “pílula da inteligência” devido à sua capacidade de aumentar a concentração e driblar o cansaço, o que deixa a pessoa mais ativa.

A preocupação reside nos problemas que o uso equivocado de medicamentos pode causar. “Nenhuma medicação é isenta de efeitos colaterais, alguns podendo até ser fatais. O desenvolvimento de tolerância pode ser um grande problema, não só nos psicofármacos, mas também, por exemplo, no uso de antibióticos. Existe o risco de dependência que algumas drogas podem causar, além das diversas interações medicamentosas” – explica o psiquiatra André Gordilho – “Nem tudo na vida se resolve com remédios. Às vezes é preciso atitude, esforço e fazer a escolha certa. É importante o esclarecimento para que as pessoas saibam o risco que correm quando ingerem medicamentos sem a devida indicação”.