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O psiquiatra Valentim Gentil Filho analisa, brilhantemente, o atual cenário da psiquiatria no Brasil e no mundo.

Psiquiatra Valentim Gentil Filho fala sobre ansiedade, depressão, uso de medicamentos e os avanços e desafios da psiquiatria.

O Roda Viva recebeu, no dia 4 de novembro, o psiquiatra Valentim Gentil Filho, para falar sobre ansiedade, depressão, uso de medicamentos e os avanços e desafios da psiquiatria nos dias de hoje.

O estudioso, que costuma dizer que cérebro humano é “o ápice da perfeição” explica que essa uma máquina quase perfeita também está sujeita a certas avarias.

“Em termos de reestruturação da matéria, de fato a gente não conhece nada mais sofisticado com 100 bilhões de células, e cada uma delas podendo estabelecer mil conexões, usando uma infinidade de substâncias químicas. E cada vez que essas substâncias químicas chegam aos receptores provocam uma cadeia de outras reações químicas, que acaba transformando inclusive a composição do neurônio que receber a reação. Uma estrutura tão sofisticada, ao longo de 80 anos de vida, inevitavelmente está sujeita a intempéries e avarias. Nós nos submetemos a todo tipo de agressão e apesar disso continuamos operacionais. Se fosse uma máquina não resistiria muito”.

Atualmente, cerca de 23 milhões de pessoas sofrem de algum transtorno mental no Brasil, número que corresponde a 12% da população.

O psiquiatra explica que a depressão é o nome dado para algumas síndromes. Segundo ele, a tristeza é apenas uma das manifestações desse transtorno mental. “Basicamente a depressão é uma alteração sistêmica de ineficiência de processamento”.

Valentim ressalta que a depressão foi descrita desde o Velho Testamento, na Bíblia, só que existem muitas síndromes, muitas formas de ver a depressão e algumas conceituações são mais recentes. “Houve uma expansão no conceito de depressão, não ficamos naquelas síndromes clássicas. Nós temos hoje algumas formas de depressão reativa, que passam a ser reconhecidas como formas de depressão sazonais, que não eram bem identificadas e que a gente sabe que existe”.

Segundo o estudioso, teve uma na conceituação de depressão. Essa população pede ajuda e só um terço recebe efetivamente. E o volume é crescente. Com isso cresce também o mercado de antidepressivos. No entanto, o psiquiatra ressalta que a questão maior é: Será que todo mundo precisa ser tratado com medicação? Valentim diz que há casos em que a psicoterapia pode ser muito eficaz. O psiquiatra ressalta ainda que é preciso pensar também no que pode ser feito como prevenção. “Quais coisas a gente faz que deflagram a depressão? Nós ainda não temos programas de prevenção”.

Valentim diz que a indústria farmacêutica encontrou moléculas diversas capazes de serem mais eficazes nesses diversos casos do que o placebo, que é uma substancia inerte.

“O que temos hoje são 30, 40 moléculas antidepressivas. E é claro, que por razões econômicas, os medicamentos mais recentes tem mais publicidade. O que está acontecendo hoje é que não existe mais perspectiva de lançar novas moléculas nos últimos anos. As linhas de produção estão secas, muito poucas moléculas vão aparecer. No entanto, as já lançadas são mais eficazes do que placebo, alguns funcionam mais em determinadas situações do que em outras”.

Valentim Gentil Filho fez Medicina na Universidade de São Paulo e doutorado no Instituto de Psiquiatria da Universidade de Londres. Professor titular da Faculdade de Medicina da USP, ele é um dos mais influentes profissionais da moderna psiquiatria brasileira.

A bancada de entrevistadores foi formada por Fernanda Bassette (repórter de saúde do jornal O Estado de São Paulo), Ulisses Capozzoli (editor-chefe da Revista Scientific American Brasil), Paulo Saldiva (professor titular da Faculdade de Medicina da USP, especialista em poluição atmosférica), Aureliano Biancarelli (jornalista da área de saúde) e Luciana Saddi (psicanalista, escritora e blogueira da Folha de São Paulo). O programa ainda teve a participação do cartunista Paulo Caruso

 

FONTE – TVE