Um onda recente de lançamentos de alimentos adicionados de cafeína nos EUA –como chicletes, aveia, waffle, marshmallows e até água e semente de girassol– despertou a atenção da FDA (vigilância sanitária do país).
Tanto que, neste mês, a agência abriu uma investigação desses produtos, preocupada com a segurança e os efeitos na saúde de crianças e adolescentes.
A Associação Americana de Pediatria não recomenda o consumo de cafeína e outros estimulantes e diz não haver nível seguro para essa faixa etária. Para adultos, a FDA sugere o limite de 420 mg por dia, equivalente a quatro ou cinco xícaras de café.
O consumo excessivo de cafeína pode causar ansiedade, dor de cabeça, arritmia cardíaca e até infartos.
Mas estudos mostram que a substância causa uma melhora temporária cognitiva e psicomotora em pessoas que não estão com o sono em dia, propriedade que é o chamariz dos produtos cafeinados.
E não é só nos Estados Unidos que esse mercado cresce. No Brasil, uma cápsula de cafeína lançada recentemente anuncia ser “recomendada” para esportistas, motoristas que dirigem à noite, estudantes que precisam ficar acordados e executivos que desejam mais concentração.
“O estimulante em cápsulas é prático. Tomar uma pílula gera menos olhares no trabalho do que um energético”, diz Samir Gabriel da Silva, diretor de novos negócios da pílula de cafeína Sintax.
Segundo ele, o produto (R$ 10 a cartela) tem vantagens em relação ao café e aos energéticos porque a cafeína anidra encapsulada é absorvida mais rapidamente e tem tempo de ação maior (seis horas por cápsula com 105 mg da substância).
Outra cápsula de cafeína à venda é a TNT Energy Caps (R$ 6 a cartela), que tem 210 mg de cafeína por comprimido –o mesmo que três latinhas de energético da mesma marca.
O cardiologista Luiz Antônio Machado César, coordenador da Unidade Café-Coração do InCor (Instituto do Coração da USP), afirma não ver vantagem nas cápsulas.
“Não faz sentido pra mim. Eu diria:’Tomem café’. É mais natural e tem antioxidantes.”
Para o nutrólogo Celso Cukier, as cápsulas podem ser úteis em algumas situações, mas é preciso cuidado com as doses. “Uma coisa é tomar 200 mg, 350 mg de cafeína ao longo do dia. De uma vez só, ocorre uma neuroexcitação elevada e pode haver até arritmias
A advogada Nicole Najjar, 30, sentiu os efeitos do excesso depois de ter ido a uma festa patrocinada por uma marca de energéticos, que oferecia a bebida à vontade.
“Não conseguia dormir depois. Estava com o coração acelerado e uma sensação de mal-estar. Fiquei tão preocupada que procurei um cardiologista depois, e ele disse para eu parar de usar.”
Para o neurologista Leonardo Ierardi Goulart, do hospital Albert Einstein, porém, o principal prejuízo relacionado ao uso “terapêutico” da cafeína é a ilusão de que se pode ultrapassar limites.
“A única coisa capaz de restaurar de forma eficiente as capacidades de um organismo é um bom período de sono. Se existe excesso de fadiga, é um sinal de sobrecarga ou de alguma doença e a atitude correta é buscar ajuda especializada. Tratar sonolência com estimulantes não é coerente.”
O pediatra José Luiz Setúbal, do Hospital Sabará, toca no mesmo ponto. “É reflexo da nossa sociedade, que precisa estar sempre hiperestimulada.”
FONTE – Folha de São Paulo