A capacidade da mente humana de se manter tranquila e focada é limitada, e pode ser perturbada por ruídos constantes e pela agitação e tensão da vida nas grandes cidades, além de causar, às vezes, uma doença chamada fadiga mental– os cientistas já sabem disso há algum tempo.
A pessoa com fadiga mental desconcentra-se facilmente, fica esquecida e distraída. Em outras palavras: eu. Um estudo novo e inovador, realizado na Escócia, porém, sugere que é possível diminuir esses sintomas apenas caminhando em um parque com árvores cobertas de folhas.
A ideia de que ir a parques ou praças cheias de árvores diminui o estresse e melhora a concentração não é nova. Pesquisadores vêm desenvolvendo teorias de que os espaços verdes tranquilizam e exigem menos atenção direta da mente que as ruas movimentadas das cidades há bastante tempo. Os ambientes naturais geram uma ‘fascinação sutil’, ou contemplação silenciosa, durante a qual quase não é necessária atenção direta e o cérebro pode reaver os recursos utilizados em excesso.
Embora agradável, essa teoria tem sido difícil de comprovar. Estudos anteriores descobriram que os níveis de cortisol – o hormônio do estresse – presentes na saliva são menores nas pessoas que moram em locais arborizados ou próximas de parques que nas que moram essencialmente em meio ao concreto, e que as crianças com déficit de atenção tendem a se concentrar e ter desempenhos melhores em avaliações cognitivas após caminhar em parques e jardins botânicos. Mais precisamente, eletrodos foram presos às cabeças dos participantes em um laboratório. Os cientistas mostraram aos voluntários fotos de ambientes naturais e urbanos e descobriram, por meio da leitura das ondas cerebrais, que eles ficavam mais tranquilos e meditativos ao observar fotos de ambientes naturais.
Mas o estudo do cérebro de pessoas quando elas estão em áreas externas, se movimentando pela cidade e nos parques, nunca foi possível. Ao menos até a criação recente da versão leve e portátil do eletroencefalograma (EEG), tecnologia que estuda os padrões de ondas cerebrais.
Para o novo estudo, publicado mês passado no periódico The British Journal of Sports Medicine, pesquisadores da Universidade Herriot-Watt, em Edimburgo, e da Universidade de Edimburgo prenderam EEGs portáteis no couro cabeludo de 12 adultos jovens e saudáveis. Escondidos sob um gorro de tecido, os eletrodos leram as ondas cerebrais dos participantes e as enviaram para laptops que eram carregados pelos voluntários dentro de mochilas.
Os pesquisadores haviam estudado o impacto das áreas verdes sobre a cognição por algum tempo e fizeram com que todos os participantes caminhassem aproximadamente 2,4 quilômetros por três zonas diferentes da cidade.
Nos 800 metros iniciais, os participantes tiveram que percorrer uma área de compras histórica repleta de pedestres, com prédios bonitos e antigos e tráfego leve de veículos. Nos 800 metros seguintes, eles foram para um local semelhante a um parque. E finalmente, eles passearam por um bairro comercial movimentado, com prédios e tráfego intenso.
Os cientistas pediram aos participantes que caminhassem em seu próprio ritmo, sem correr ou vaguear. A maioria realizou o percurso em cerca de 25 minutos.
Enquanto isso, os EEGs portáteis enviavam informações sobre os cérebros dos participantes aos laptops que eles carregavam.
Mais tarde, os pesquisadores compararam as leituras, procurando padrões de onda que eles acreditavam que estivessem relacionados a frustrações, atenção direta (que eles chamaram de envolvimento), excitação mental e contemplação ou tranquilidade.
As descobertas confirmaram a ideia de que as áreas verdes diminuem a fadiga cerebral.
Quando os voluntários passaram por áreas urbanizadas e movimentadas – nesse caso, o bairro de tráfego pesado do final do estudo – os padrões de ondas cerebrais mostraram com regularidade excitação e frustração maiores que as experimentadas quando eles caminharam no parque, local em que se tornaram mais meditativos.
A mente dos participantes ficou mais tranquila quando eles caminharam no parque.
Isso não significa que eles não estivessem prestando atenção, afirmou Jenny Roe, professora da Escola Herriot-Watt do Ambiente Construído, que supervisou o estudo. “Os ambientes naturais continuam envolvendo” a mente, afirma, mas essa atenção não exige “esforço”. Psicologicamente, isso se chama atenção involuntária. Essa paisagem prende nossa atenção e ao mesmo tempo permite a reflexão e fornece um paliativo para a atenção ininterrupta que as ruas das cidades geralmente exigem.
É claro que esse estudo de pequenas proporções representa mais um teste da nova e atraente tecnologia portátil EEG que uma análise definitiva dos efeitos cognitivos da contemplação de áreas verdes.
Mesmo assim, essas foram descobertas consistentes e de peso, além de valiosas para quem vive em áreas urbanas monopolizadoras de atenções. Eles sugerem que, neste momento, as pessoas devam consideram fazer pausas no trabalho, afirmou Roe, e “caminhar em áreas verdes ou apenas ficar sentado ou observá-las da janela de seu escritório”.
Esse não é um tempo ocioso e improdutivo, assegurou Roe: “Esse tempo provavelmente terá um efeito reparador e ajudará a lidar com a fadiga de atenção e a curar o estresse”.
FONTE – UOL Saúde