NOVA YORK – Pesquisadores da Universidade Johns Hopkins e dos institutos nacionais de saúde descobriram um composto que fortalece o aprendizado e a memória quando administrado em dose única, no dia do nascimento, em roedores com uma condição parecida com a síndrome de Down. O estudo foi relatado na edição desta quarta-feira da revista “Science Translational Medicine”.
O tratamento com o composto experimental parece permitir que o cerebelo dos roedores cresça normalmente — a maioria das pessoas com síndrome de Down tem 60% do cerebelo — mas ainda não é uma promessa de cura para a síndrome, apenas um sinal para a criação de novos medicamentos.
– Tratamos os roedores com a condição parecida com o Down para normalizar o crescimento do cerebelo e funcionou. Não esperávamos os desdobramentos no aprendizado e na memória, geralmente controlados pelo hipocampo, não pelo cerebelo – diz o professor Roger Reeves, do Instituto de Medicina Genética McKusick-Nathans, da Escola da Medicina da Universidade Johns Hopkins.
Reeves dedicou sua carreira a estudar síndrome de Down, condição que ocorre quando a pessoa tem três (em vez de duas) cópias do cromossomo 21. Como resultado da trissomia, quem tem Down tem cópias extras de mais de 300 genes alojados nesse cromossomo, o que leva a deficiências intelectuais, dificuldades espaciais, características faciais e, muitas vezes, problemas no coração. Com o envolvimento de tantos genes, desenvolver um tratamento é um grande desafio, segundo o pesquisador.
Para este experimento Reeves e equipe usaram roedores geneticamente modificados com a cópia extra de cerca de metade dos genes encontrados no cromossomo 21 para mimetizar as características da síndrome de Down. Com base em experiências anteriores sobre como a síndrome de Down afeta o desenvolvimento do cérebro, os pesquisadores tentaram sobrecarregar a cadeia bioquímica de eventos que desencadeia o crescimento e desenvolvimento. O composto foi injetado nos roedores apenas uma vez, no dia do nascimento, enquanto seus cerebelos ainda estavam em desenvolvimento. Além de medir o cerebelo, a equipe examinou possíveis mudanças de comportamento.
– Modificar os animais, sintetizar o composto e chegar à dose certa foi tão difícil e consumiu tanto tempo que buscamos conseguir o máximo de dados – explica Reeves.
A equipe testou os roedores modificados e os comparou com animais modificados com Down mas não tratados, e com camundongos sem a modificação genética. Os roedores tratados com o composto experimental se saíram tão bem no teste espacial, de localização em um labirinto de água, quanto os roedores sem a modificação genética para Down.
O pesquisador acredita que são necessários mais testes para descobrir por quê exatamente o tratamento funciona, já que exames em algumas células no hipocampo, envolvidas no aprendizado, não mostraram alteração com o tratamento. Uma hipótese é que o tratamento tenha melhorado o aprendizado por fortalecer a comunicação entre o cerebelo e o hipocampo.
Quanto ao potencial do composto para se tornar um medicamento humano, o problema, Reeves diz, é que a alteração de uma cadeia biológica importante de eventos provavelmente teria muitos efeitos indesejados em todo o corpo, como o aumento do risco de câncer, desencadeado pelo crescimento inapropriado. E mesmo que sua equipe conseguisse desenvolver uma droga clinicamente útil, no entanto, Reeves adverte que não constituiria uma “cura” para a aprendizagem e os efeitos relacionados à memória da síndrome de Down.
Fonte: O Globo.