Pesquisa americana mostra que enfermidades levam a perda de células cerebrais e sugerem que o controle da glicemia e da pressão arterial poderia retardar males como o Alzheimer.
ROCHESTER – Pessoas com diabetes ou hipertensão arterial na meia idade podem ser mais propensas a perder células cerebrais e sofrer danos no cérebro, assim como problemas de memória e habilidades cognitivas, indica nova pesquisa da Clínica Mayo, em Rochester, nos Estados Unidos. A equipe de cientistas sugeriu que controlar a ingestão de açúcar e a pressão arterial poderia, então, servir como instrumento para retardar o aparecimento de males como o Alzheimer.
Publicado na revista científica “Neurology“, o estudo conseguiu relacionar o diabetes tipo 2 ou hipertensão entre os 40 e 64 anos com problemas de disfunção cognitiva mais tarde. Por outro lado, o aparecimento de tais condições após os 64 anos não teve impacto considerável na saúde mental.
– Nosso estudo mostra que quanto mais cedo você tem essas condições, pior é a patologia cerebral mais tarde na vida – disse Rosebud Roberts, principal autor do estudo e membro da Academia Americana de Neurologia.
Para chegar ao resultado, Roberts e sua equipe analisaram 1.437 pessoas com idade média de 80 anos. Os participantes foram divididos em três grupos: pessoas com nível cognitivo normal, com leve deterioração mental e com demência.
Os cientistas realizaram exames clínicos para análise neuropsicológica e exames de ressonância magnética para avaliar infartos corticais ou subcorticais, lesões e volume da substância branca, volume do hipocampo e volume do cérebro inteiro.
Registros de saúde anteriores de todos os participantes foram revisados para extrair informações de diagnóstico de diabetes ou hipertensão. O início das duas condições foram categorizados em entre os 40 e os 64 anos (meia idade) e após os 64 anos.
De todos os participantes, 72 desenvolveram diabetes na meia idade, 142 em idade mais avançada e 1.192 eram saudáveis. Ao todo, 449 pessoas tiveram hipertensão entre os 40 e os 64 anos, 448 mais para frente e 369 nunca tiveram problemas de pressão.
A equipe comprovou que, na comparação com aquelas sem diabetes, quem sofria da doença possuía um volume do cérebro total 2,9% menor e do hipocampo – região do cérebro que está envolvida na regulação da memória e da emoção -, 4% menor. Eles tinham o dobro do risco de sofrer problemas de memória, assim como aqueles que tinham hipertensão.
“Estes resultados sugerem que, em pessoas com diabetes, a perda de volume cerebral pode ser um mecanismo para a associação com o Alzheimer ou pode compartilhar um mecanismo comum para o seu desenvolvimento. A falta de uma associação do diabetes após os 64 anos com a cognição sugere, ainda, que o processo fisiopatológico exige décadas para se manifestar como sintoma”, escreveram os pesquisadores no artigo publicado na “Neurology”, sugerindo que a perda de funções cognitivas poderia ser adiada com o controle da glicemia e da pressão arterial.
Pesquisas antigas já sugeriam a relação
Outros estudos já haviam relacionado o diabetes e a hipertensão com problemas mentais. Um deles, publicado em 2011, sugeriu que pessoas com diabetes tinham o dobro de risco de ter Alzheimer do que aquelas com taxas normais de glicose no sangue. No entanto, eles não foram capazes de apontar uma associação direta entre os dois males.
Diferentes pesquisas também mostraram a ligação entre a hipertensão e o Alzheimer, mas não falavam em maior risco de desenvolvimento, e sim em uma evolução duas vezes mais rápida do mal em pessoas que sofriam com problemas de pressão. Mas a relação direta entre as duas doenças era comprometida pelo uso de medicamentos que poderiam influenciar o resultado.
A pesquisa da Clínica Mayo conseguiu estabelecer uma relação entre os males e problemas mentais, mas, segundo Roberts, “ainda não está claro os mecanismos pelos quais se produzem as lesões cerebrais da demência. Elas podem acontecer nas estruturas dos vasos sanguíneos, nas células neurais ou na sinapse que afeta o processo neurodegenerativo”.
FONTE – O Globo