MADRI – O sexo é a atividade que nos faz sentir mais felizes, pelo menos de forma temporal. esta é uma das conclusões científicas que o catalão Pere Estupinyà revela em seu livro “S=EX². A ciência do sexo”, recém-lançado na Espanha. Estupinyà é químico, físico e abandonou um doutorado em genética para fazer outras pesquisas: foi o primeiro homem a ter um orgasmo em um aparelho de ressonância magnética funcional, por exemplo.
Para a ciência, o sexo também é um tabu?
A ciência faz parte da sociedade. Disfunções sexuais, sexualidade na infância, na velhice, hipersexualidade ou pedofilia não são suficientemente investigadas. Os cientistas costumam argumentar que não há financiamento, mas não é só isso. Recentemente, perguntei a uma cientista que está pesquisando sobre a relação entre sexo e dor se ela incluía sadomasoquistas em sua investigação, e ela respondeu que preferiu não incluí-los para não ser acusada de frívola. Ou seja, o sexo é um tabu para os que financiam e para os que investigam.
Hoje existem mais estudos sobre a sexualidade feminina?
Entre 2012 e 2013, pela primeira vez na história, se igualaram os estudos e publicações científicas sobre disfunções masculinas e femininas. Antes as investigações eram, basicamente, sobre problemas de ereção e ejaculação precoce. Eu diria que, há 15 anos, 97% dos cientistas tratavam somente homens.
Por que?
Sempre se dizia que os problemas relacionados às disfunções femininas eram uma questão psicológica, mas esta afirmação é um mito.
O orgasmo é muito investigado?
O mais investigado são os problemas de excitação sexual. Atingir ou não o orgasmo é importante, óbvio, mas mais importante é poder começar. Então, geralmente as pesquisas se centram no âmbito médico: no caso dos homens, a falta de ereção ou a ejaculação precoce, e no caso das mulheres, a dor, por exemplo.
O senhor compara o orgasmo com o ataque de um leão…
Fisiologicamente o orgasmo é muito parecido com um ataque de medo, porque se ativa o sistema nervoso simpático, que é uma resposta de alarme, de escape, de estresse repentino que é o mesmo que o organismo tem para fazer uma pessoa correr diante de um ataque de leão.
A existência do ponto G ainda desconcerta os cientistas?
Sim. No ponto G os cientistas não encontraram mais terminações nervosas nem uma estrutura anatômica responsável por este maior prazer. Alguns, então, concluíram que o ponto G era um mito. A teoria atual mais inovadora é que, como o corpo interno do clitóris é muito maior do que sua parte aparente e também aumenta de volume durante a excitação sexual, o ponto G poderia ser um lugar pelo qual, fazendo uma certa pressão, se pudesse chegar ao clitóris interno.
Todas as mulheres podem ejacular?
Existem dois tipos de ejaculação feminina, e uma delas deveria ser comum a todas as mulheres. No entanto, costuma passar despercebida, porque não sai em grande quantidade e muitas vezes fica dentro da vagina. No máximo, pode umedecer um pouco o lençol. Este tipo de ejaculação seria o equivalente ao sêmen, mas sem espermatozoides.
Qual a sua opinião sobre a associação de Freud entre a imaturidade sexual e a falta de orgasmos vaginais?
Defasada. Há muitas mulheres que só têm orgasmos clitorianos e de nenhuma maneira se pode dizer que sejam imaturas sexualmente.
Quais as semelhanças entre o orgasmo masculino e o feminino?
São muito parecidos. O clitóris e o pênis têm a mesma estrutura. Na verdade, são o mesmo órgão mas com formas diferentes. A excitação chega ao cérebro da mesma maneira e sensação física é praticamente a mesma.
O sexo para o homem termina quando ele atinge o orgasmo, enquanto a mulher pode, perfeitamente, continuar. O senhor conta no livro que, durante as suas pesquisas, para evitar estes cortes, aprendeu a ter multiorgasmos. Como isso acontece?
É preciso entender que a sensação do orgasmo é uma ativação dos nervos, e que a ejaculação é uma ativação dos músculos. Se o homem é capaz de aproximar-se ao momento do orgasmo de maneira muito controlada e frear qualquer excitação, deixando que os nervos sejam ativados, comprimindo os músculos, respirando muito, tentando contrair todo o corpo, haverá orgasmo sem a expulsão do sêmen. Assim, a ereção se mantém e a relação sexual continua, podendo haver outros orgasmos ao longo da relação. Os orgasmos, digamos, completos, são mais intensos, mas este outro tipo, sem ejaculação, também é orgasmo.
O que a ciência diz sobre o tamanho do pênis? É importante ou não?
A ciência se preocupa com os micropênis, que têm menos de sete centímetros e são resultado de um problema no desenvolvimento. Isso ela estuda. No entanto, a influência do tamanho do pênis no prazer sexual quase não tem sido objeto de investigações. Há, sim, estudos que mostram que as mulheres preferem, visualmente, os pênis maiores, são mais atraentes. Mas se falamos de prazer, as pesquisas mostram que, o tamanho dentro da normalidade, não é o mais importante para a satisfação sexual feminina.
O senhor menciona no livro um estudo que diz que a mulher não se excita ao ver a foto de um homem nu bonito e musculoso, mas se excita ao ver a foto de duas mulheres nuas se acariciando. As mulheres têm maior predisposição à bissexualidade?
Não necessariamente. Não quer dizer que ela sinta atração por estas mulheres, e sim que, ao ver duas mulheres juntas, surge uma empatia e, consequentemente, uma excitação. Ao ver um homem bonito pelado existe o reconhecimento daquela beleza, mas não uma excitação. Esta pesquisa prova a questão da empatia.
A máxima de que os homens têm mais necessidade de sexo do que as mulheres é verdade?
Em geral, sim. Os homens pensam mais em sexo durante o dia, se masturbam mais… Todos os indícios mostram que os homens têm mais desejo sexual do que as mulheres. Isso é a média, mas é verdade que existe muita diversidade e há muitas circunstâncias que podem alterar estas situações.
O senhor fala de estudos que provam que os homens, quanto menos sexo fazem mais se masturbam, enquanto as mulheres, quanto mais sexo fazem mais se masturbam. Qual é a explicação?
Isso é muito interessante. Para os homens a masturbação funciona como um substituto do sexo, mas para a mulheres faz parte do repertório de sua sexualidade plena. Para as mulheres, a masturbação não é um substituto do sexo.
O homem é mais infiel do que a mulher?
Existe a monogamia social, que é ser um casal, e a sexual, que é a fidelidade. A ciência diz que somos monogâmicos sociais mas não sexuais. Temos a predisposição de nos apaixonar e de estar sempre com a mesma pessoa, de maneira estável. Isso faz parte da nossa natureza. Mas também faz parte da nossa natureza querer ter aventuras sexuais com outras pessoas. Somos, tanto homens como mulheres, monogâmicos infiéis. Este é nosso instinto. No entanto, na prática, ser ou não infiel é, mais do que uma questão biológica, uma questão sociocultural, já que em determinadas sociedades, a infidelidade feminina ainda é, tradicionalmente, mais mal vista.
FONTE – O Globo