O Jornal Hoje estreia nesta terça-feira (8) uma série de reportagens para ajudar a entender melhor os mecanismos da fome, da vontade de comer e o que fazer para manter a dieta e resistir às tentações. Afinal, todo mundo saber o que fazer para manter o peso (cortar açúcar, pouca gordura e pouca massa), mas entre a intenção e a ação existe uma distância.
A boa notícia é que dá para por a culpa nos nossos instintos mais primitivos. Nosso corpo foi programado para armazenar energia, ou seja, para engordar. Nos tempos do homem das cavernas, quem era capaz de comer bastante conseguia fazer uma espécie de poupança de energia. “A obesidade era questão de sobrevivência. Naquela época, os obesos sobreviviam e os magros morriam”, explica o endocrinologista Lian Tock.
Contudo, o homem das cavernas não tinha problemas de obesidade porque fazia exercícios e comia de maneira balanceada. Corria para caçar e às vezes porque era a caça. Ele se alimentava de pequenos animais, folhas, frutas, nozes, castanhas. Quando descobriu a agricultura, parou de andar e começou a comer o que produzia. Ficou sedentário e com uma alimentação menos diversificada.
O homem de hoje não precisa caçar, nem plantar o que vai comer. O acesso à comida é muito mais fácil e dá para escolher. O lógico seria escolher uma alimentação saudável. Entretanto, quando a gente tem a vontade de comer alguma coisa, não é uma fruta, um legume. Pensamos em um sanduíche, chocolate.
Uma das explicações para esses desejos, nos leva de volta aos tais instintos primitivos. Procuramos alimento que nos dê energia rapidamente, como doces e carboidratos. O professor de neurologia da EPM/Unifesp, Esper Abrão Cavalheiro, explica que quando estamos com fome, ficamos desanimados, devagar e sonolentos.
É o corpo no piloto automático, no modo de espera, para poupar energia. “Existe um desconforto porque a glicose cai. Então você vai buscar algum alimento que traga esse nível de glicose, aquele que você precisa para se sentir bem”, fala.
A língua também é programada para manter o corpo gordinho. As células da língua identificam cinco sabores básicos: amargo, ácido, salgado, doce e umami – palavra japonesa que significa ‘sabor gostoso’ e descreve o que encontramos em molhos como shoyu e condimentos que usamos em churrascos, peixes, queijos.
A resposta para gostarmos tanto de doce está na ponta da língua. É nela que ficam as células que identificam o gostinho doce. Doce é açúcar, açúcar é energia, energia é tudo o que o corpo precisa. Isso é o que acontece quando temos fome.
O açúcar cai e os órgãos começam a sinalizar a falta de energia, mandando mensagens para o cérebro. As mensagens vão para uma região conhecida como hipotálamo, que desencadeia uma ação de busca rápida para resolver o desconforto. A solução pode ser comer.
O ser humano também come quando tem vontade. A vontade de comer é quando o cérebro busca na memória uma sensação agradável. “É aquela associação que você faz entre a fome ou não fome, com tudo aquilo que o ato de comer e a sensação de ter alguma coisa agradável na boca traz para você em termos de recompensa, em termos de prazer”, fala Cavalheiro.
A fome é uma ordem para manter o corpo em funcionamento e a vontade de comer é uma ordem para dar uma sensação de prazer e conforto. “É difícil imaginar que qualquer refeição que tenha que você vai buscar a sobremesa porque ainda está com fome. É o momento de maior alegria. O momento em que todos ficam ansiosos, alegres por causa do sabor adocicado”, comenta o neurologista.
O resultado de comer sem necessidade já é conhecido por todos. “Não há necessidade de ficar acumulando gordura. O acúmulo de gordura hoje passa a ser uma doença”, alerta Lian Tock.
O neurologista completa: “e aí é que é o perigo desse encaminhamento para situações de sobrepeso e obesidade.”
FONTE – G1