Com o intuito de explicar sua metodologia de trabalho, as rotinas das atividades desenvolvidas, o papel de cada uma delas e as metas para 2017, o Núcleo da Terceira Idade da Holiste realizou um evento direcionado exclusivamente para as famílias dos seus pacientes.
O cuidado de pacientes da terceira idade exige o domínio de uma série de práticas muito específicas, que se adequam às condições e necessidades dessa etapa da vida. Profissionais especializados no atendimento desse público dominam e se valem dessas técnicas diariamente; mas, raramente as famílias compreendem ou têm conhecimento dessas práticas e rotinas essenciais no cuidado de idosos. Por esse motivo, o Núcleo de Terceira Idade da Holiste convidou as famílias de seus pacientes para apresentar o seu plano de tratamento e as metas para 2017.
COMO AJUDAR O PACIENTE IDOSO?
Michelle Campos, terapeuta ocupacional e coordenadora do Núcleo da Terceira Idade, abriu o encontro abordando as especificidades do envelhecimento, uma fase natural da vida que precisa ser compreendida pela família. Apesar de todas as limitações relacionadas a esse estágio, bem como os cuidados a ele necessários, é preciso auxiliar esses pacientes a exercitarem sua autonomia e exercer sua cidadania, com a atenção de não superprotegê-los e privá-los de vivenciar suas experiências cotidianas, o que é muito comum no ambiente familiar.
“Não é porque a pessoa está envelhecendo que ela deve deixar de fazer as coisas que fazem parte da sua vida, ou que tem o costume de realizar. Por exemplo: meu familiar está envelhecendo e para poupá-lo eu vou ao supermercado no lugar dele, escolho os produtos que ele vai utilizar, mas esse não é o momento em que se deve poupar o familiar. Claro que se ele tiver alguma dificuldade em realizar essa atividade, alguma incapacidade, o correto seria criar estratégias para possibilitar que ele próprio realize essa atividade, não que ele deixe de fazê-la. Então, esse é um dos grandes desafios do envelhecimento; ele não é sinônimo de incapacidade, e temos que estar o tempo todo incentivado nossos familiares a realizar as atividades que fazem parte de seu dia-a-dia e que ele sente prazer em fazer” – avalia Michelle.
A TERCEIRA IDADE E OS TRANSTORNOS MENTAIS
“Essa é uma fase onde os transtornos mentais, de intensidade leve ou moderada, podem se agravar. A partir do momento em que a família percebe uma mudança no comportamento desse idoso, é o momento de procurar ajuda especializada para que seu familiar seja avaliado” – avalia Michelle. Outros problemas de saúde, comuns à idade avançada, podem agravar ainda mais o quadro físico do paciente e, consequentemente, sua saúde mental.
Além disso, doenças de origem neurológica, como Alzheimer ou demência degenerativa, também costumam surgir nessa fase da vida, o que dificulta a autogestão da vida do idoso. O importante, segundo a especialista, é que a família não demore muito a procurar ajuda, uma vez que os sintomas já foram identificados: “Geralmente, quando as famílias procuram um acompanhamento, um tratamento, o estado de saúde do paciente já está bem comprometido, o que se transforma em um dificultador do tratamento”.
PROJETO TERAPÊUTICO
O Núcleo da Terceira Idade possui um projeto terapêutico particular, uma grade de atividades que contempla as necessidades específicas do público idoso. São atividades físicas (academia, hidroginástica, exercícios funcionais), grupos de terapia ocupacional, arteterapia, musicoterapia, terapia em grupo, fisioterapia, além do acompanhamento psiquiátrico e psicológico individualizado. Cada paciente atende às atividades que mais se adequam ao seu perfil, ou que estão relacionadas a aspectos que precisam ser trabalhados para minimizar as consequências do transtorno psiquiátrico.
Cada uma das atividades vai desempenhar um papel na recuperação do paciente, desenvolvendo determinada habilidade que ficou abalada pelos sintomas da doença. “A arteterapia é um instrumento facilitador do processo terapêutico, desenvolvido através das expressões artísticas. Ela facilita o contato com as experiências emocionais e o desenvolvimento de potenciais, como a criatividade, a motivação, a autoestima, a cognição e a capacidade relacional” – explica Narajane Oliveira, arteterapeuta da Holiste. Ela frisa, ainda, que as atividades contemplam técnicas de desenho, colagem, pintura, modelagem, artesanato e outras formas de expressão.
O interessante é pensar que todas essas práticas terapêuticas ganham uma abordagem muito própria quando direcionadas para esse público, como é o caso da terapia de grupo. “A maioria das pessoas pensa que o psicólogo tende a fazer grupos de fala, sempre. É, também, mas não significa que o psicólogo não possa realizar atividades que fujam do espaço de fala. É importante compreender que, seja qual for a estratégia de abordagem adotada, o objetivo não é apenas abrir espaço para um desabafo pessoal, mas possibilitar a reflexão, o debate, a implicação do indivíduo na fala do outro, ressignificando seus próprios problemas e possibilitando que os demais também consigam fazer uso do que foi exposto naquele momento” – avalia Raissa Silveira, psicóloga do núcleo.
Outra atividade importante dentro do núcleo é a musicoterapia. Nadja Pinho, musicoterapeuta da Holiste, explica como ela funciona no tratamento dos idosos: “A musicoterapia provoca vários tipos de resposta. Você pode trabalhar o ritmo, retomar lembranças, estimular qualquer coisa que gente queira trabalhar. Então, é possível utilizar a música como elemento de transformação. Por exemplo, temos algumas respostas fisiológicas dos estímulos criados: batimento cardíacos que em algumas músicas são acelerados e em outras são ralentados (bem como a resposta respiratória), arrepios na pele, etc. Outras respostas são psicológicas: alegrias, tristezas, memórias despertadas por determinadas músicas que ajudam a acessar sentimentos que poderiam estar há muito tempo esquecidos, e que contribuem no resgate da história desse indivíduo, potencializando a abordagem dessas questões”.
É fundamental frisar que todos os pacientes participam dessas atividades, mas cada um vai se identificar melhor com uma delas, de forma singular, e é aí que se abre o caminho para o terapeuta explorar pontos importantes da individualidade do idoso.
PROGRAMA DE ESTIMULAÇÃO COGNITIVA
Ao longo do tempo cuidando desse público, a equipe multidisciplinar da Holiste identificou que, naturalmente, perdas cognitivas importantes ocorriam com o passar dos anos, decorrentes do quadro psiquiátrico ou mesmo de outros problemas de saúde. Essa avaliação é feita através do desempenho observado na execução das atividades terapêuticas e nas ações rotineiras do cotidiano.
A partir de um teste cognitivo realizado individualmente com cada paciente, no intuito de mensurar aspectos cognitivos como a atenção, concentração, memória, linguagem, função executiva, entre outros, o idoso atenderá às atividades específicas do programa durante três dias na semana, por um prazo de quatro meses. Ao final deste período, um novo teste será aplicado para mensurar quais foram as perdas e ganhos cognitivos após a participação do paciente nessas atividades.
O programa não é restrito aos pacientes que já apresentam perdas cognitivas, pois, para aqueles que estão com sua funcionalidade normal, as atividades servem como forma de prevenção e manutenção do bom funcionamento cerebral.
SAIBA MAIS SOBRE O PROGRAMA DE ESTIMULAÇÃO COGNITIVA HOLISTE
SAÚDE MENTAL NA TERCEIRA IDADE
A “Saúde Mental na Terceira Idade” é o tema oitavo vídeo da série Desmistificando a Saúde Mental. Nossa equipe fala sobre as especificidades dos transtornos mentais em idosos, cuidados, tratamentos e possibilidades de uma vida mais plena. Participam do vídeo os psiquiatras André Gordilho e Victor Pablo, a psicóloga Raissa Silveira e a terapeuta ocupacional e coordenadora do Núcleo da Terceira Idade, Michelle Campos.
ASSISTA AO VÍDEO: “SAÚDE MENTAL NA TERCEIRA IDADE”