O acompanhante terapêutico (AT) é um profissional que atua diretamente no cotidiano do paciente. Alguns transtornos mentais, como o Transtorno Bipolar do Humor, desorganizam a rotina do individuo, o que dificulta sua recuperação e ressocialização.
O AT contribui para a reconstrução dos laços sociais, seja no ambiente familiar, profissional, social, ou em qualquer outro espaço que integre o seu dia a dia, indo além dos muros das instituições de saúde. No caso do transtorno bipolar, onde as mudanças de humor provocam alterações na organização subjetiva do individuo, o AT é fundamental para que o paciente consiga reestruturar as atividades do seu cotidiano.
Isabel Castelo Branco, acompanhante terapêutico da Holiste e integrante do Programa de Tratamento do Transtorno Bipolar, falou para a rádio Excelsior sobre o papel do AT na recuperação de pacientes com esse diagnóstico.
“>“A rotina das relações fica muito desorganizada após uma crise. O AT faz intervenções inserido nos ambientes do paciente, mostrando que é possível retomar e reorganizar essas relações de uma forma saudável e positiva”, salientou a especialista.
O transtorno bipolar
A alternância de fases de depressão com períodos de euforia caracteriza, de modo geral, o transtorno bipolar. Nos períodos de mania (ou euforia), o paciente muitas vezes é tomado por uma sensação de potência que pode levá-lo a se colocar em situações de risco. Já na depressão, se instala um sentimento contrário, de vazio, inutilidade e incapacidade.
“Ao longo dos anos as pessoas vêm banalizando o termo bipolar, para rotular uma pessoa que tem humor variável, o que não necessariamente tem relação com o transtorno. A bipolaridade tem duas fases distintas – a mania e a depressão. Quando essas duas fases passam do eixo, transtornando a vida do sujeito e se tornando causa de sofrimento, isso precisa de cuidados específicos, pois se tornou patológico”, ressaltou Isabel.
Preconceito
No transtorno bipolar, assim como acontece com outros transtornos mentais, há uma grande dificuldade das pessoas aceitarem o diagnóstico. Isso ocorre porque ainda existe muito estigma em torno da doença. Mas, quando devidamente tratado, o paciente se estabiliza e retoma sua vida, o que é extremante positivo. O risco está em, a partir da estabilização do quadro de crise, o paciente acreditar que não precisa mais manter o tratamento, aumentando o risco de recaídas.
“O preconceito do próprio sujeito e da família faz com que a doença não seja aceita, sendo tomada como o temperamento da pessoa. O próprio diagnóstico do transtorno é difícil e exige muito cuidado da equipe que atende o paciente”, alertou a AT.
Equipe multidisciplinar e papel do AT
O tratamento do transtorno bipolar demanda uma equipe multiprofissional, formada por psiquiatra, psicólogo, acompanhante terapêutico e demais especialidades que possam contribuir para o plano terapêutico do paciente. Isabel explica que as intervenções são feitas também com a família, quando possível, e continuam após a internação e estabilização do episódio de crise. O acompanhamento terapêutico propõe ferramentas que objetivam colaborar para que a pessoa recupere sua autonomia, além de promover a reinserção social e a organização subjetiva do paciente.
“O acompanhamento terapêutico pode atuar tanto em estados de crise aguda, como em períodos crônicos de angústia e estagnação. O trabalho clínico realizado se desenvolve através de encontros com o paciente, com o objetivo de facilitar seu processo terapêutico, para que ele conduza sua vida com mais autonomia e resgate seu cotidiano. A ideia é que o AT possa mediar as relações do paciente em três níveis: no âmbito de suas rotinas diárias (inclusive de autocuidado e autonomia), em suas relações sociais e familiares e no seu autoconhecimento, entendendo seus limites e possibilidades para que possa desenvolver o seu potencial”, detalha Isabel