Em entrevista à rádio BandNews, a psiquiatra Fabiana Nery fala sobre a importância de discutir sobre a prevenção ao suicídio e como a campanha do Setembro Amarelo colabora para derrubar mitos sobre o tema.
O suicídio é um problema grave e que, anualmente, atinge 800 mil pessoas em todo o mundo. Buscando medidas para reduzir esse número, foi criado o Setembro Amarelo, mês de discussão sobre a prevenção do suicídio. Fabiana Nery salienta que uma das formas de prevenir o suicídio, é falar sobre ele.
“O suicídio é uma questão de saúde pública. É importante a gente conversar sobre ele, para que se possa prevenir, pois não existe como tratar, mas é possível evitar, prevenir esse desfecho absolutamente catastrófico para a pessoa que o comete e para toda a família e amigos. Quando temos um suicídio, ele afeta até 20 pessoas próximas. A pessoa que está sofrendo precisa saber que existe tratamento para isso, que há formas de aplacar esse sofrimento e ela não está sozinha: dever procurar ajuda, pois é possível encontrar”, destaca a psiquiatra.
Confira a entrevista:
Suicídio e pandemia
Neste momento de pandemia, no qual a saúde mental já é uma das principais preocupações das autoridades de saúde mundiais, falar sobre o assunto se torna ainda mais urgente. O medo do adoecimento e da morte, a crise econômica e o isolamento social são alguns dos fatores que fazem com que a saúde mental se torne um motivo de atenção redobrada.
“Em tempos de pandemia, é preciso ficar ainda mais atento, pois se espera uma ‘quarta onda’, que seria um aumento dos sintomas e dos transtornos psiquiátricos, associados a todas essas questões e mudanças que a Covid-19 trouxe. Ou seja, olhar para o tema do suicídio é ainda mais fundamental”, analisa Fabiana.
O olhar para o outro
Em quase 90% dos casos, o ato de tirar a própria vida está associada a algum transtorno mental. A psiquiatra ensina que é importante ficar atento ao outro, pois é possível observar alguns sintomas de que a pessoa não está bem e que ela pode precisar de ajuda.
“Um dos aspectos fundamentais é a gente entender que a mudança do padrão de comportamento é o que vai caracterizar uma patologia ou um sintoma, ou mesmo o início de um adoecimento. Muitas vezes, porém, o indivíduo que está sofrendo com aquilo não percebe que se trata de um transtorno. E aí, o papel da família e dos amigos mais próximos é essencial”, salienta a psiquiatra.
Ela enfatiza que a mudança no comportamento é um alerta: se a pessoa é alegre e começa a ficar mais fechada, calada; se é tímida e fica desinibida, falando coisas que normalmente não falaria; se tinha um bom desempenho na escola ou no trabalho, e começar a faltar ou não dar conta das tarefas, tudo isso é um sinal de que ela pode não estar bem.
Saúde mental e mitos
Em muitos casos, o suicídio está associado à depressão, patologia ainda estigmatizada socialmente. Fabiana ressalta que a depressão é uma doença com alta incidência (cerca de 10%) no mundo e que é sistêmica, ou seja, afeta o organismo inteiro do paciente.
“Infelizmente, como a pessoa não apresenta nenhum tipo de lesão aparente, muitas vezes, tende-se a achar que aquela não é uma doença como outras tantas. Mas, é uma patologia grave, que leva a prejuízos importantes e, se não tratada de forma adequada, pode levar à morte. É importante que as pessoas que estão ao redor desse paciente tenham esse entendimento, pois muitas vezes esse indivíduo não tem energia para buscar ajuda e precisa que outras pessoas façam isso por ele”, alerta a médica.
Fabiana enfatiza que o primeiro passo na prevenção do suicídio é a informação, que deve ser disseminada através de um debate consciente sobre o assunto. Além disso, ela destaca que é preciso garantir o acesso ao tratamento o mais rápido possível.