Em artigo publicado no jornal A Tarde, Luiz Fernando Pedroso, psiquiatra e Diretor Clínico da Holiste, analisa a perseguição ideológica sofrida pela psiquiatria e algumas de suas práticas, como a internação e a eletroconvulsoterapia.
Parados no tempo. Essa é a sensação que temos quando no deparamos com a atroz força tarefa que, em dezembro, notificou e/ ou apreendeu aparelhos de eletrochoque em 40 clínicas psiquiátricas do país. A ação, liderada pelo Ministério Público, Conselho Federal de Psicologia e Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, é um espasmo tardio das convulsões esquerdistas dos anos 70, uma manobra ideológica que nada agrega à assistência dos pacientes psiquiátricos e agrava o quadro de baixa oferta de leitos públicos.
Nenhum dos agentes envolvidos propõe ou discute soluções para a crescente demanda por leitos. São funcionários públicos empoderados, que passam a carreira em sindicatos e associações, criando normas às quais nunca cumprirão, pois estão fora do mercado e da realidade tanto do sistema de saúde, quanto dos pacientes. São os mesmos responsáveis pela reforma psiquiátrica, que se gabam de fechar milhares de leitos enquanto a população fica desassistida.
Desde então, as diretrizes nacionais na saúde mental são norteadas por um viés ideológico, sendo uma plataforma da militância de esquerda, um palanque de gente medíocre e oportunista em busca de relevância e visibilidade social. Essa militância viúva da ditadura fez da psiquiatria seu último moinho de vento; prova disso é que confundem internação com cárcere privado e eletrochoque com tortura, numa demonstração de ignorância e despreparo. Não à toa, o mestrado de um dos líderes da operação é em “Educação, sociedade e movimentos sociais” – saúde mental passou longe.
É inadmissível que internação e eletrochoque sejam vistos como ferramentas de punição, quando são poderosos instrumentos terapêuticos no tratamento de transtornos graves. Nenhum movimento de esquerda contribuiu mais para a desospitalização de pacientes quanto essas ferramentas. Também é inadmissível que entidades médicas não se manifestem sobre esses abusos do poder público, uma injustificável hipervigilância que põe o psiquiatra sob eterna suspeição, monitorado justamente por quem sucateou o sistema público.
Enquanto a psiquiatria for controlada por burocratas, mais pacientes podem ficar desassistidos. A medicina é uma prática fundamentalmente liberal, onde a relação médico x paciente não deve ter intermediários. O populismo do SUS, enquanto sistema único, fomenta a ideia de que a saúde é barata e acessível, enquanto segue fechando leitos e tutelando a escolha dos seus usuários. Sempre haverá hospitais bons e ruins, e somente um mercado livre, competitivo, que respeite o poder de escolha do consumidor, sentenciará os incompetentes à falência e valorizará os bons profissionais. O Estado, esse sim, precisa ser controlado pela sociedade, certificando-se de que ele atenda aos seus anseios.