A atuação multidisciplinar tem um papel muito importante no trabalho realizado na Residência Terapêutica no cuidado com pacientes crônicos. No artigo “A Clínica das Sutilezas”, Lucielma Cruz fala sobre a atuação da Terapeuta Ocupacional nesse trabalho.
Leia o artigo completo.
A Residência Terapêutica (RT) é compreendida como um espaço de moradia protegido, para o cuidado e atenção a pacientes acometidos por transtornos mentais crônicos. Muitas vezes, esses indivíduos desenvolveram limitações em sua funcionalidade, interferindo na execução de tarefas cotidianas, no desempenho de suas atividades de cuidados básicos, na sua sociabilidade, havendo prejuízos importantes em sua independência e autonomia.
Muitas vezes, a identificação com um espaço de “casa”, de “lar”, se perde em decorrência da cronificação da doença e dos “rompimentos” sociais decorrentes das internações psiquiátricas de longa duração. Diante disso, a intervenção da Terapia ocupacional na Residência Terapêutica destina-se a identificar competências, habilidades, vulnerabilidades e, a partir desta identificação, estimular e favorecer o resgate das relações estabelecidas entre o sujeito e o seu cotidiano. O terapeuta ocupacional está atento à forma como cada um desempenha as suas ações na realização das Atividades Básicas da Vida Diária – ABVD´s (alimentação, higiene pessoal, vestuário,…) bem como na realização das Atividades Instrumentais da Vida Diária – AIVD´s (gerenciamento financeiro, mobilidade na comunidade, compras, cuidados com a saúde,…), e nas atividades lazer.
UM NOVO CONCEITO DE MORADIA
Para além da atenção ao desempenho na realização das atividades cotidianas, busca-se uma ressignificação do “conceito de moradia”, favorecendo a reaproximação desses sujeitos com esse espaço de convivência e a reconstrução dos laços afetivos.
Os conceitos norteadores das ações terapêuticas desenvolvidas no espaço da RT passam pela atenção, respeito às individualidades, pelo estabelecimento de um laço de confiança e da construção de uma identidade grupal. Trata-se de aposta diária nas possibilidades e potencialidades existentes em cada morador.
Dentro desta perspectiva, ampliam-se as possibilidades de compreensão sobre maneira como os moradores lidam com suas questões individuais, como estabelecem as relações com os demais moradores, com a equipe assistente e com o território, que abrange os espaços que estão para além da estrutura física de residência.
TERRITÓRIO TERAPÊUTICO
O território representa um espaço potente para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas que favorecem o desempenho das funções/habilidades sociais, que foram perdidas e/ou prejudicadas ao longo do processo de cronificação.
A realização destas atividades terapêuticas externas, individuais e em grupo, colaboram para a promoção da autonomia e instrumentalizam os sujeitos para a execução das suas atividades cotidianas e na sua forma de se relacionar com ele mesmo e com o “mundo”.
A CLÍNICA DA SUTILEZA
Neste contexto, o terapeuta ocupacional atua, também, potencializando a qualidade das relações estabelecidas entre os moradores, bem como na mediação de conflitos que emergem naturalmente dentro do processo de convivência.
As intervenções desenvolvidas na Residência Terapêutica visam favorecer a criação de um espaço coletivo, onde os moradores são estimulados a atuarem como protagonistas nas decisões referentes à gerência da sua vida cotidiana, sendo os profissionais assistentes apenas mediadores deste processo. Assim, constrói-se a ideia do “estar com”, do “fazer com”.
Desenvolve-se a “clínica das sutilezas”, ampliando o leque de caminhos para o cuidado, estimulando uma maior independência e autonomia a partir do que emerge enquanto fragilidade/ potencialidade para cada um.