O número de mortes por suicídios em 2003 chegou a 900 mil, aproximadamente, segundo levantamentos da OMS. De acordo com Fabiana Nery, psiquiatra da Holiste, é preciso que a população e os profissionais da saúde estejam alertas e informados em relação ao tema: “Estudos apontam que pelo menos 80% das pessoas que cometem suicídio passaram, dias antes, por algum médico e sinalizaram sobre o desejo de acabar com a própria vida. Por isso essa campanha é tão importante: não podemos permitir que as pessoas morram por falta de informação”, alerta a médica. Com base nestes dados surge o Setembro Amarelo, uma iniciativa que visa colocar o tema em pauta para quebrar paradigmas e combater o problema.
SUICÍDIO E TRANSTORNO MENTAL
O senso comum tende a impregnar os atos suicidas com uma carga conceitual a respeito do sentido da vida ou do significado da dignidade humana, em diferentes épocas e culturas. Realmente, existem suicídios racionalmente motivados e direcionados a objetivos pessoais, mas esses são uma minoria frente ao vultuoso problema de saúde pública chamado “comportamento suicida patológico”. Há, ainda, correlação entre suicídio e comportamentos autodestrutivos e de negligência com o cuidado de si, em faixas etárias mais jovens e da terceira idade.
Segundo Victor Pablo, psiquiatra da Holiste, “Na maior parte das vezes os atos e planejamentos suicidas não são operados por um desejo pessoal refletido, mas como consequência de gestos impulsivos e por reações emocionais desesperadas e sofrimento psicológico extremo” – pontua.
QUEM ESTÁ EM RISCO?
Na faixa etária entre 15 e 35 anos essa é uma das três maiores causas de morte, haja vista que nos últimos 50 anos a mortalidade por suicídio vem migrando do grupo de idosos para pessoas mais jovens.
O suicídio executado tem predomínio masculino; entretanto, se estima que os custos dos outros comportamentos suicidas sejam maiores e mais difíceis de serem mensurados. Por exemplo: o número de tentativas de suicídio parece superar em 10 vezes os suicídios. Assim sendo, como mensurar os custos sociais e dos sistemas de saúde, causados por um indivíduo que se expõe alcoolizado ao trânsito sob a influência de um transtorno de humor, ou um idoso que deixa de se importar com a ingestão regular dos medicamentos para diabetes e hipertensão por influência de sintomas depressivos?
SINTOMAS DO SUICÍDIO
Apesar de não ser possível prever um suicídio com precisão, alguns sinais ajudam a identificar o risco de suicídio, tais como as mudanças bruscas de comportamento. “Pessoas que trabalhavam bem e passam a não render; desinteresse repentino por coisas que antes chamavam atenção, condutas de risco como dirigir embriagado, falta de esperança com tudo e desapego de forma muito fácil merecem uma atenção especial”, esclarece Fabiana Nery.
SETEMBRO AMARELO – A IMPORTÂNCIA DA CONVERSA
Falar a respeito de suicídio não inspira nem instiga mais suicídios. A maior parte dos planejamentos, tentativas suicidas, suicídios e comportamentos autodestrutivos está relacionada a um transtorno mental, especialmente a depressão maior, os transtornos por uso de substância psicoativa, a esquizofrenia e os transtornos de personalidade.
Com o objetivo de estimular a prevenção e diminuir os danos familiares e sociais, incapacitações e sofrimentos pessoais relacionados ao comportamento suicida, foi criado o movimento do Setembro Amarelo. Trata-se de um momento privilegiado para desmistificarmos esse tema e esclarecer a sociedade sobre esse relevante problema de saúde pública, cujo os danos podem ser evitados ou reduzidos com uma conversa, com a escuta do sofrimento e encaminhamento a um serviço de tratamento especializado. Segundo André Dória, psicólogo da Holiste, “É importante escutar a queixa desse paciente, ouvir o que ele tem a dizer. Muita gente ainda acredita que tocar neste tema estimula o ato; isso é uma fantasia, e a escuta pode ser um fator de prevenção poderoso” – finaliza.