Casos recentes de suicídios de jovens, o jogo virtual “Baleia Azul” e a série “13 reasons why” têm sido responsáveis por trazer à tona um assunto muito silenciado pela sociedade: o suicídio juvenil.
Em entrevista ao portal iBahia, dr. Victor Pablo, psiquiatra da Holiste, falou sobre o assunto e as possíveis motivações para o suicídio. Segundo ele, o suicídio é uma iniciativa individual e em 90% dos casos o indivíduo possui um transtorno mental. Dr. Victor acredita que questões ambientais podem motivar uma pessoa que encontra-se em um estágio depressivo, por exemplo. “Uma situação gatilho ou um acontecimento estressor importante ocorrido recentemente pode aumentar muito o risco em um indivíduo que já tenha algum tipo de doença mental, como depressão ou bipolaridade”.
Tabu e Desinformação
O tabu que envolve este tema ainda é muito grande, principalmente quando se trata desta faixa etária. É difícil aceitar que uma criança ou adolescente possa querer tirar a própria vida. Mais complicado ainda é explicar por que esse comportamento está em ascensão.
O suicídio é a segunda causa de morte de jovens entre 15 e 24 anos. Sentimento de abandono, experiência de abusos físicos ou sexuais, desorganização familiar, bullying escolar ou familiar e abuso de álcool e drogas são alguns dos fatores que aparecem como principais motivadores.
De qualquer modo, quer seja motivados por transtornos mentais ou porque decidiram entrar em um jogo de desafios macabros, muitos jovens hoje são potenciais suicidas. O fato de ter se mantido o tabu sobre o tema por muitos anos não adiantou, pelo contrário, só agravou a situação.
Jogo da Baleia Azul e a série “13 reasons why”
O jogo virtual Baleia Azul chamou atenção quando mortes recentes de alguns jovens se tornaram suspeitas. O jogo consiste em 50 desafios que envolvem automutilação e atividades arriscadas em geral. Quando deixa de cumprir as ordens, o participante é ameaçado pelo administrador. Na etapa final, o jogador deve se matar. “No caso do jogo da baleia, temos um pacto suicida virtual, onde existe um encontro entre um curador com liderança racional e jovens emocionalmente vulneráveis. Como um controle remoto sedutor cruel e irresistível”, relata o psiquiatra Victor Pablo.
Para o médico, “o jogo tem potencial de estrago, mas por sorte, produz mais interesse pela prevenção e entendimento das causas do comportamento suicida”.
Já na repercutida série da Netflix, “13 reasons why”, é narrado o suicídio de uma garota de 17 anos após ser vítima de bullying, isolamento, assédio sexual e estupro na escola em que estuda. Para Victor Pablo, a forma como a série foi abordada destoa um pouco da realidade do indivíduo que tem propensão a atos suicidas. “As motivações da personagem para cometer suicídio fariam sentido se ela estivesse realmente deprimida, mas isso não é enfatizado. Questões ambientais podem servir como gatilho, mas é necessário um estado mórbido de base”, comenta.
Identificando os sinais
Crianças e adolescentes podem dar indícios de que precisam de ajuda. Não significa necessariamente que eles vão cometer suicídio, mas mostra a necessidade de se abrir um canal de diálogo. Pais, professores e amigos devem ficar atentos em alguns sinais.
“Pais e familiares devem ter atenção às mudanças de comportamento; isolamento no quarto; roupas que escondem mais partes do corpo; queda da produção escolar; humor irritável persistente e agressividade; descuido com higiene e queda do apetite. É importante observar também situações de risco: abuso de álcool e drogas; ambiente familiar com abusos morais, sexuais e físicos; negligência familiar; preconceito pela orientação sexual e bullying escolar; histórico familiar de doença mental e tentativas de suicídio”, orienta o psiquiatra.
Prevenção e valorização da vida
O suicídio entre adolescentes brasileiros cresceu mais de 25% nos últimos 30 anos, contrastando com a tendência de queda em 24 países, onde foram lançadas massivas campanhas de prevenção ao suicídio juvenil. No Brasil, o assunto ainda é tratado com muito sigilo, mas diversas campanhas veem surgindo com o intuito de falar sobre o problema.
“Iniciativas de valorização da vida podem ser mobilizadas em grupos escolares, motivando o debate de pontos de vista no meio virtual e em encontros presenciais. Diálogos a respeito do cuidado de si, da ocorrência de desmotivação para manter rotinas e a ressignificação de atividades do cotidiano são alguns exemplos”, finaliza Victor Pablo.
Qualquer um pode se tornar um agente de acolhimento para pessoas com ideações suicidas e essas pessoas se sentirão mais à vontade para buscar ajuda. Mas será mais seguro somar essa mobilização à busca de ajuda especializada com profissionais de saúde mental.
Tem dúvidas a respeito desses sentimentos? Disque: 141. Este é o número do Centro de Valorização da Vida, contatos também pelo site/skype: http://www.cvv.org.br