O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) se desenvolve normalmente na infância, atingindo cerca de 3 a 5% das crianças, segundo informações da Associação Brasileira do Déficit de Atenção.
Em entrevista à rádio Sociedade, o psiquiatra da Holiste, Dr. Matheus Freire, falou sobre o transtorno e a importância do diagnóstico ainda na infância.
“A maioria dos portadores deste transtorno chegam na vida adulta apresentando algumas dificuldades, mas sem receberem um diagnóstico. Eles aprendem a lidar com algumas de suas limitações e desenvolvem estratégias para contornar os problemas. Porém, existe uma parcela destes indivíduos que trazem estes sintomas da infância e acabam tendo prejuízos de rendimento nos estudos e no trabalho”.
Mas ainda hoje, muitas crianças não são reconhecidas como portadoras deste transtorno, especialmente as que não apresentam hiperatividade. Ou seja, existem indivíduos que alcançam a fase adulta e nunca foram diagnosticados com déficit de atenção.
Afinal, o que é TDAH?
O TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.
Para caracterizar um indivíduo com TDAH é necessário que a pessoa apresente um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfira no funcionamento e no desenvolvimento. Para tanto, ela precisa apresentar sintomas destes dois aspectos. De acordo com o psiquiatra, os que apresentam déficit de atenção normalmente “são pessoas que têm dificuldades para lidar com detalhes, se distraem com facilidade por qualquer estímulo e precisam estar em um ambiente muito estruturado para render, se perdem no tempo-espaço, têm dificuldades para concentrar em atividades consideradas “enfadonhas”, como assistir um filme ou ler um livro”.
Já os indivíduos que possuem a hiperatividade, “são pessoas que têm dificuldade de esperar a vez, tipo, em uma sala de espera. Ficar em lugares que tenha que permanecer sentado o tempo todo como sala de aula ou uma igreja. São pessoas que geralmente falam bastante e de forma impulsiva. Muitas inclusive podem ter excesso de energia, andando de um lado para outro, sem conseguir relaxar”.
Outros transtornos associados
Ainda segundo Matheus Freire, o TDAH é muito associado também a outros transtornos e pode ser caracterizado como uma comorbidade. Ou seja, é quando o indivíduo não apresenta apenas o TDAH, mas um outro transtorno como o de ansiedade ou um transtorno comportamental, ou ainda um transtorno de conduta. Pode vir a apresentar, inclusive, um quadro depressivo ou de dependência de substâncias químicas.
“Nós nos preocupamos muito com essa população, pois os estudos mostram que estas pessoas têm uma vulnerabilidade maior a outros transtornos. O risco de não se diagnosticar e não tratar um indivíduo que talvez se beneficiasse com o tratamento ainda na infância, é que ele vai ter uma chance maior de desenvolver outros problemas no futuro”.
Acompanhamento especializado
Uma vez que o TDAH pode se apresentar de forma diferente em cada criança, elas precisam de um diagnóstico preciso e abrangente antes que seja realmente possível decidir quais tratamentos podem funcionar melhor em cada situação.
Mas em que momento os pais devem procurar um profissional? Para o psiquiatra, quando os pais perceberem alterações no comportamento dos filhos, que esteja trazendo prejuízos no rendimento escolar e nas atividades de casa, cabe buscar ajuda de um especialista.
“O profissional é importante não apenas para identificar o TDAH, mas mais do que isso, para auxiliar o indivíduo a se desenvolver e entender o que é o transtorno. É o que chamamos de psicoeducação, estimular a pessoa a conhecer a si mesmo, traçando estratégias para lidar com sintomas, sem depender exclusivamente de um cuidador ou de medicação”, conclui.