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Transexualidade é retirada da lista de doenças mentais

By Bruno Trindade

June 26, 2018

Especialistas destacam que ação era esperada, pois a transexualidade já não era considerada patologia mental pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais. O que precisa ser abordado é o sofrimento que pode ser causado pela disforia de gênero.

 “O sofrimento de uma pessoa por não se identificar com seu gênero de nascimento, incluindo aquele proveniente do preconceito e da falta de aceitação social, muitas vezes gera transtornos mentais que precisam ser tratados – a exemplo da depressão e ansiedade. A transexualidade em si não é uma doença e a decisão de retirá-la da lista de patologias mentais confere dignidade e auxilia a reduzir o sofrimento dos pacientes.”

A fala da médica psiquiatra da Holiste, Livia Castelo Branco, traduz os benefícios que a decisão da Organização Mundial da Saúde anunciada recentemente traz para todos os transexuais.

Com a retirada da transexualidade da lista de doenças mentais, esta passa a integrar a categoria de condições relacionadas à saúde sexual. Segundo a OMS, essa medida assegura o direito a assistência médica, necessária para que os transexuais possam ter acesso a serviços como acompanhamento psicológico, tratamento hormonal e cirurgia.

“O objetivo é tratar como uma questão de saúde sexual e não mental. Se você trata como saúde sexual você dá mais acesso para as pessoas ao tratamento e diminui o estigma de sofrimento metal”, opina a especialista.

Dra. Livia explica que a disforia de gênero se refere ao sentimento de profundo desconforto com o gênero atribuído ao nascimento e suas características. Ainda de acordo com ela, “apesar de nem todos os indivíduos terem o sofrimento como resultado desta incongruência, muitos sofrem quando não têm acesso a adequações físicas por meio de hormônios ou cirurgia”.

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Tratamento

Conforme explica a psiquiatra da Holiste, Paula Dione, os casos de transtornos de disforia de gênero demandam abordagem multidisciplinar, pois o paciente necessitará ser orientado por profissionais de várias áreas. “O papel do psiquiatra será, entre outras coisas, diagnosticar, tratar e/ou excluir a existência de patologias associadas ao evento”, afirma.

Nestes casos, Dra. Livia recomenda que sejam realizadas intervenções precoces, com um acompanhamento psicológico e psiquiátrico. “O objetivo é ajustar o paciente mais cedo possível a uma vida mais compatível e satisfatória, evitando dificuldades de adaptação física e psíquica e outras complicações na vida adulta. Os tratamentos biológicos (hormônios e cirurgia em alguns casos) visam adequar o físico do indivíduo à identidade de gênero psíquica”, explica.

A psiquiatra completa que tanto o tratamento hormonal quanto o cirúrgico possuem regras próprias para serem efetuados.  No Brasil, pela portaria do Sistema Único de Saúde (SUS), a hormonioterapia pode ser feita a partir dos 18 anos. Já para a realização de cirurgia, a idade mínima é de 21, com dois anos de acompanhamento multiprofissional.

Despatologizando o Sexo

“A ordem é “despatologizar” o sexo. Comportamentos sexuais que são inteiramente privados ou consensuais e que não resultem em danos às outras pessoas não devem ser considerados uma condição de saúde. Não há razão para isso”, afirmou Geoffrey Reed, diretor de saúde mental da OMS.