No terceiro episódio da websérie Bipolaridades, André Dória, psicólogo da Holiste, traz a evolução histórica dos conceitos que caracterizam o Transtorno Bipolar: Depressão e Mania.
Continuando a série de vídeos sobre o transtorno bipolar, é a vez de detalharmos como os conceitos que caracterizam as duas fases da doença, depressão e mania, evoluíram ao longo da história.
Assista ai vídeo completo:
O TRANSTORNO NO CORPO
Existem registros do Transtorno Bipolar desde a Grécia antiga. A Teoria dos Humores, de Hipócrates, já registrava as fases de mania e depressão, as quais o filósofo grego associava aos fluidos corporais do ser humano: a bile negra estaria associada à depressão; a bile amarela estaria associada à mania.
“Há um mérito, nessa teoria, que é tirar o processo da mania e da melancolia da questão divina. O curioso é que essa teria durou 2.300 anos, até o renascimento europeu” – explica Dória.
O TRANSTORNO NA MENTE
No Renascimento, René Descartes surge com o sua célebre “Penso, logo existo”. A partir daí, a mente passa a adquirir um outro contexto na civilização ocidental, e um desses impactos é trazer o entendimento dos transtornos mentais do fígado (onde se localizam os fluídos corporais da teoria de Hipócrates) para a mente.
“Era a primeira pista, para os psiquiatras da época, de que havia algo relacionado à alteração do humor que estava localizado na mente” – salienta o especialista.
A CORRELAÇÃO DOS SINTOMAS
Foi apenas no século XIX que os médicos começaram a associar as duas fases da doença como algo complementar, como parte de um único transtorno. Primeiro, criaram a terminologia de “loucura circular”, onde a pessoa oscilava períodos de depressão com períodos de euforia. Outros, nomearam como “loucura de dupla forma”.
“É Kraepelin quem vai falar, no final do século, de uma ideia de ‘psicose maníaco-depressiva’, que traz uma ideia de ‘espectro do humor’, e não necessariamente de um período distinto de mania e depressão. Uma seria contínua à outra” – afirma o psicólogo.
LUTO E MELANCOLIA
Depois de Kraepelin, a grande virada em torno da doença veio com Freu, em sua obra Luto e Melancolia. Nela, Freud deixa de focar apenas nos sintomas da doença para buscar uma explicação para o que os motivaria. É justamente na comparação entre luto e melancolia que se desenvolve o pensamento do psiquiatra austríaco:
“Se no luto a pessoa sabe o objeto que perdeu, na melancolia ela não tem ideia desse objeto, ela se identifica a um objeto perdido, e ai vem a famosa frase freudiana: ‘A sombra do objeto se recai sobre o eu’. […] Uma das falas dele nesse texto basilar é que uma das características mais notáveis da melancolia é a sua tendência em se transformar em mania, e a que mais necessita de explicação” – comenta Dória.
DEPRESSÃO X MANIA: CARACTERÍSTICAS
Depressão:
- Sentimento de “eu sou um nada”;
- Disfunção da culpa;
- Humor deprimido.
Mania:
- Sentimento de “eu posso tudo”;
- Disfunção da responsabilidade;
- Humor eufórico.
“É necessário que haja o acompanhamento profissional, para que se trate o que é dos sintomas gerais, para que se possa chegar ao que é da ordem do individual em cada processo de mania e de melancolia” – finaliza o especialista.