Em entrevista à rádio Metrópole, o psicólogo e coordenador do Programa de Transtorno Bipolar da Holiste, André Dória, falou sobre a importância de tratar cada paciente em sua singularidade.
O transtorno bipolar é uma patologia caracterizada pela alternância de períodos de euforia (ou mania) e depressão (ou melancolia), carregando uma série de sintomas que, muitas vezes, são atribuídos à personalidade do doente. Essa associação entre sintomatologia e personalidade prejudica o tratamento, na medida em que estigmatiza o paciente e banaliza o entendimento do transtorno.
“Temos hoje um excesso de diagnósticos que nos faz ter uma sensação de que, se pararmos para analisar, nenhum de nós escapa de alguma patologia. (…) Então, existe sim um quadro que é real, de alternância de episódios de euforia e depressão, que é muito antigo e precisa ser olhado e tratado. Não podemos banalizar ou desconsiderar isso”, pontua Dória.
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Um dos desafios para pacientes e médicos é lidar com o estigma que envolve o transtorno bipolar. A doença, que já foi chamada de psicose maníaco-depressiva, carrega uma série de preconceitos que terminam por rotular o individuo, que muitas vezes assume o rótulo como parte de sua personalidade. A mudança do nome para Transtorno Bipolar do Humor, por exemplo, foi uma alternativa para reduzir preconceitos e facilitar o tratamento e a aceitação da doença.
Mas, somente a mudança de nome não é capaz de extinguir os rótulos. É preciso enxergar cada paciente como um indivíduo único, com suas particularidades, e inserir esse olhar na abordagem terapêutica:
“O transtorno bipolar pode ter quadros de delírio, a exemplo de quando a pessoa está em mania e se sente muito poderosa. Mas esses quadros ocorrem em momentos específicos e não em todos os pacientes. Na verdade, buscamos fugir da padronização, procurando tratamento e olhares individualizados, o que nos faz considerar que existes ‘bipolaridades’, ou seja, diferentes apresentações dentro da própria doença. Há características gerais do transtorno, mas a forma como se deflagra um episódio é absolutamente particular”, salienta o psicólogo da Holiste.
O transtorno Bipolar e o Suicídio
Outro ponto que merece muita atenção é o risco de suicídio que envolve pacientes com o transtorno. Segundo o psicólogo, é importante salientar que, embora a ideação suicida fique mais evidenciada na depressão, quando muitas vezes o doente perde o desejo de viver, o risco também existe nos episódios de mania.
Como a pessoa tende a se sentir “invencível” nas fases de euforia, ela pode assumir comportamentos que colocam sua vida em risco, como dirigir perigosamente, usar drogas ou se envolver em brigas:
“Quando a pessoa está em mania, quase nunca busca ajuda, pois ela se sente poderosa, onipotente. Por isso, quem costuma assumir esse papel é a família. Na fase da depressão, é mais comum o paciente procurar tratamento, porque a tristeza dói”, explica André.
Para ele, o importante é ficar atento ao tipo de prejuízo que o problema está causando para a vida da pessoa – se há perdas financeiras, profissionais, pessoais, conflitos graves nos relacionamentos e outros.