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Transtornos Mentais, um trabalho árduo

A psiquiatra Fabiana Nery e o psicólogo Cláudio Melo falaram para a Revista ABM sobre o aumento de afastamentos do emprego no Brasil devido a transtornos psiquiátricos.

Os transtornos mentais são a terceira causa de afastamento do emprego no Brasil.  Segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o número de benefícios concedidos em um intervalo de cinco anos (entre 2007 e 2012) aumentou mais de 1800%.  Uma realidade que pesa nos cofres públicos na produção das empresas e na vida do trabalhador.

A priori atribuídos ao ambiente de trabalho, não há uma relação de causalidade explicita entre uma coisa e outra, o que não impede de consideramos que há determinantes sociais para o adoecer e que também a respostas singulares. Em teoria, a causalidade da doença mental é multifatorial, depende de aspectos genéticos, físicos, psicológicos, sociais e ambientais.

Cláudio Melo, psicólogo da Holiste, traz a tona a ideia de normatividade como alternativa de leitura para esses casos.  “Trata-se da capacidade que qualquer pessoa tem de de adaptar as condições adversas da vida, o que chamamos também de resiliência.   Isso amplia muito o conceito de transtorno mental e dá mais dinâmica.  O indivíduo pode até ter predisposição à doença, mas não a desenvolve, já que está protegido por uma estrutura de personalidade formada por suas condições de vida”, argumenta.

Fabiana Nery, psiquiatra da Holiste, perita em psiquiatria ocupacional, assinala que a prevalência dos transtornos depressivos e ansiosos são semelhantes em diversos países, o que leva a crer que fatores ambientais, culturais, conjunturais podem influenciar na resposta ao tratamento.  “ Mas em termos de gatilho, de desenvolvimento de doenças, impacta pouco.  Podemos pensara que esse aumento de afastamentos decorre de maior acesso à informação da população e do reconhecimento das patologias por outras especialidades médicas, o que ocorre mais ou menos há uma década.  Morria-se de tristeza.  Ou seja, a depressão sempre existiu, mas cm outra roupagem.  É importante apresentar mais informação para a população em geral, pois é isso que permite a busca por ajuda”, avalia.

 

DE OLHO NOS SINAIS

Mas quais são os sinais de que preciso para procurar auxílio profissional?  A chamada saúde mental não implica a ausência de sofrimento, pois as necessidades do ser humano nem sempre serão satisfeitas completamente.  Tristezas, traumas e outras vicissitudes da vida tem seu período de luto natural.  De acordo com o Manual Diagnostico e Estatístico de Transtornos mentais (DSM, sicla em inglês de Daignostic and statistical manual of mental disordes), de um modo geral, a adaptação psíquica do sujeito em um tempo médio de três meses.

Além da questão da temporalidade, a alteração do padrão de funcionamento do indivíduo pode ser a chave para identificar que algo não vai bem.  Excesso de ansiedade, insônia, alterações no estado de ânimo (tristeza e cansaço excessivo, falta de apetite alimentar e sexual, etc.), mudanças bruscas de hábitos e estilo de vida, além do uso abusivo de álcool ou outras substancias psicoativas são alguns dos alertas que impões a necessidade de um tratamento.

Quando falamos especificamente em trabalho, o que se observa no ambiente laboral é o presenteísmo.  Ou seja, o funcionário que trabalhava bem, que tinha boa funcionalidade, começa a ter baixa produtividade, a chegar atrasado no trabalho.  As faltas já acontecem em um outro nível de patologia, quando a doença se encontra em uma fase mais severa”, relata Dra. Fabiana Nery.

 

O QUE FAZER?

Reconhecer o problema é o primeiro passo na busca por um tratamento, que deve ser seguido pela busca de um profissional para avaliação do paciente.

O tratamento medicamentoso associado ao psicoterápico são complementares e com resposta muito melhor.   Costumo fazer uma analogia com a perda de peso de maneira saudável.  Se você fizer só dieta, vai emagrecer.  Se fizer só exercício também.  Se fizer os dois, será muito melhor, mais sustentável”, assegura a psiquiatra.

E para cada paciente existe um tratamento muito específico.  Cada paciente apresenta uma constelação de sintomas muito particular e vai responder de forma muito singular.   Isso demanda tempo.  E tempo é muito relativo, diria Einstein”, pondera Cláudio Melo.

Vale lembrar que 50% das pessoas que apresentaram um episódio depressivo, por exemplo, vão apresentar o segundo.  A partir daí, já é possível considerar esse paciente como portador de um transtorno depressivo recorrente, que não tem cura, mas um controle com uso de medicação, assim como um diabético ou um hipertenso.

 

PREVENIR É O MELHOR REMÉDIO

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 25% da população do planeta, em algum momento da vida, vão apresentar algum tipo de transtorno psiquiátrica e precisara de atendimento médico.  Diante desta estatística, seria prudente anteciparmo-nos aos riscos.  Para Dra. Fabiana Nery, o treinamento de gestores das empresas para identificar sinais precoces de transtorno evitariam o afastamento do indivíduo.  “Um monitoramento precoce do trabalhador com baixo rendimento, mais nervoso, com mudanças bruscas de comportamento, possibilitaria a intervenção de profissionais capacitados e o encaminhamento desses pacientes.  Infelizmente ainda não avançamos o suficiente nesse sentido”, lamenta.

A reinserção do indivíduo no ambiente de trabalho também deve ser objeto de atenção.  Como os afastamentos em psiquiatria são mais longos, no entender da médica, as empresas deveriam desenvolver um sistema interno par recebe-los e reinseri-los de modo a não serem estigmatizados por conta de sua patologia.

*Matéria publica na Revista ABM, 31, agosto/2016

 

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