Experiência, serviços diferenciados e permanente evolução garantem resultados promissores no tratamento dos transtornos mentais
“Guardar uma coisa não é escondê–la ou trancá–la. Em cofre não se guarda nada. Em cofre perde-se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la (…) iluminá-la”. Os versos do poeta e filósofo Antonio Cícero dizem muito sobre a história da Holiste. Fundada em 2000 por um grupo de profissionais de saúde mental liderados pelo psiquiatra Luiz Fernando Pedroso, o então Espaço Holos foi criado em meio à luta antimanicomial, movimento político/ ideológico que pregava o fim da internação psiquiátrica, associando-a ao simples encarceramento de pessoas e classificando o procedimento como desumano. Neste período, centenas de leitos (públicos e privados) de internação psiquiátrica foram fechados em todo o país, deixando uma parcela da população com distúrbios mentais graves completamente desassistida.
Com o objetivo de cuidar destas pessoas, e por acreditar na capacidade terapêutica da internação, Dr. Luiz Fernando Pedroso decidiu fundar sua clínica: “O indivíduo, em verdade, é encarcerado pela doença, e não pelo profissional que está tratando seu transtorno. A partir da observação contínua e intensiva de seu comportamento, o que só é possível na internação, é que podemos aferir um diagnóstico mais preciso e tratá-lo da forma mais adequada. Neste sentido, a internação psiquiátrica é libertadora”, argumenta o psiquiatra que é diretor clínico da instituição.
Olhar apurado, profissionalismo e sólidos valores éticos contribuíram para que a pequena clínica atingisse o status de excelência em psiquiatria e saúde mental na Bahia. Hoje, mais de 120 colaboradores compõem uma equipe multidisciplinar que trabalha de forma unificada. “Diferente de outras especialidades, afora o tratamento medicamentoso, na psiquiatria o profissional só tem duas coisas com as quais pode trabalhar: a observação e a expressão, seja através da fala ou do corpo. O caminho é observar para poder intervir de um modo saudável. Os pacientes costumam dizer que a clínica é a casa do BBB, onde tudo é observado. E sempre tem alguém intervindo”, brinca Sandra Simon Siqueira, diretora técnica da clínica.
Enxergar o paciente como “sujeito único”, com suas devidas particularidades, é a base para o desenvolvimento de um projeto terapêutico individualizado, que se inicia no momento do acolhimento e segue até sua reinserção na sociedade. Dentro desse contexto, a família ocupa lugar de destaque e também ganha atendimento específico. “Talvez esse seja um dos nossos grandes diferenciais. Existem famílias em que as pessoas não se entendem mais, onde as relações já estão desgatadas; outras não têm autoridade sobre o paciente… Isso tudo tem de ser trabalhado. As necessidades são particulares e por isso trabalhamos de forma individualizada. Caso contrário, o tratamento do paciente não terá continuidade pós-internação. O resgate do relacionamento com a família é importante, na medida em que é por meio dela que o paciente inicia sua volta ao mundo”, esclarece Sandra.
Para atender todos os aspectos envolvidos no tratamento do paciente, a clínica organizou uma grande gama de serviços que abarcam as necessidades de cada indivíduo, mantendo o constante aperfeiçoamento de sua equipe multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, acompanhantes terapêuticos, educadores físicos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, nutricionistas, entre outros. Estes diversos atendimentos estão disponíveis não só na internação, como no atendimento ambulatorial e domiciliar.
Em 2013, foi criada mais uma modalidade de atendimento: a Holiste Dia, um serviço de hospital dia psiquiátrico voltado para a reabilitação e suporte ao paciente com dificuldades de reinserção sóciofamiliar (leia mais na página 12).
Nova estrutura Holiste
Cuidar de pessoas também implica em atenção ao ambiente que as cerca, e isso esta expresso no conceito de ambientoterapia (leia mais na página 18). Para além do espaço físico adequado, a ambiência terapêutica é feita pelas relações pessoais e institucionais que se estabelecem neste espaço.
Para valorizar ainda mais este aspecto, verificou-se a necessidade de uma mudança para um espaço de vivência maior e mais adequado, além de uma nova marca, a Holiste, que simboliza evolução e maturidade dos valores construídos em 15 anos de existência. Essas mudanças reafirmam o compromisso de levar aos pacientes e familiares os melhores recursos terapêuticos da psiquiatria moderna.
Prevista para ser inaugurada em 2016, a nova estrutura foi exaustivamente pensada para que os resultados do tratamento sejam ainda mais promissores. “Foram necessários diversos estudos para que chegássemos ao que está sendo executado hoje. Isso demonstra o quanto toda a equipe se esmerou para ter o que há de melhor. Investimos R$ 24 milhões para fazer o que gostamos de fazer, que é cuidar de pessoas. Não vamos ampliar número de leitos, a mudança é qualitativa. Investimos em qualidade de atendimento”, afirma Dr. Pedroso. “Teremos mais área verde, mais salas de atividades, academia completa, espaço para terapias corporais, uma quadra, uma piscina maior, com parte adaptada para hidroginástica, além de quartos padronizados. A ideia é replicar a vida fora da internação”, detalha Sandra.
Equipe de excelência
De acordo com a diretora técnica, para que essa nova engrenagem esteja azeitada, é preciso investir em pessoas o tempo todo. Nesse sentido, a Holiste sempre cuidou de sua equipe. Os funcionários passam por constantes cursos de reciclagem e reuniões semanais são feitas para orientar e monitorar a adequação dos colaboradores no manejo do paciente psiquiátrico. O comprometimento de todos é grande e exige uma oferta constante de conhecimento: “Não podemos correr o risco de entrar no automático, de perder a criatividade. O crescimento da clínica ajuda, pois sempre há algo novo a se fazer. Mas há espaços que precisam de renovação, pois o olhar de quem chega é crítico. E isso é bom. A renovação é importante para gente se reavaliar”, pondera a diretora.
Cidadania
Todos esses recursos amparam um conceito que é intrínseco ao projeto da Holiste: o do paciente cidadão. Ao entender o transtorno mental como uma patologia igual a tantas outras, a Holiste busca resgatar no indivíduo a responsabilidade sobre si mesmo e sobre a doença. “Estamos aqui para ajudar no que for possível, mas contamos com o próprio paciente querendo se ajudar. Mostramos que a doença não pode ser desculpa para tudo”, pontua Sandra.
Dentro dessa perspectiva, o projeto terapêutico busca o desenvolvimento pessoal e a autonomia do paciente: “Queremos que ele volte ao seio familiar, ao seu trabalho, à sua carreira profissional, aos seus negócios. Queremos que ele volte tratado, mas também consciente de sua responsabilidade consigo próprio e com os outros”, afirma a diretora.
Segundo ela, a interação com outros pacientes também serve de parâmetro para essa conscientização. “Existem conflitos, e é bom que aconteçam durante a internação, pois são um espelho dos comportamentos e das dificuldades que o paciente enfrenta fora da clínica e podem ser trabalhadas no “aqui e agora” pela equipe. No decorrer do tratamento, é possível perceber que as pessoas vão ficando nais tolerantes umas com as outras, vão podendo trocar experiências e discutir soluções”, revela.
Essa percepção não é apenas interna. A resposta positiva de familiares e de toda a sociedade se traduz em confiança e reconhecimento. O caminho a seguir permanece o mesmo: cuidar de pessoas, guardá-las!