Com o objetivo de incluir os familiares no tratamento de seus pacientes, o Holiste Dia desenvolve grupos de família para estreitar os vínculos e desenvolver estratégias de autonomia.
O tratamento em hospital dia psiquiátrico tem o objetivo de desenvolver as habilidades de socialização de pacientes psiquiátricos que, por alguma razão, perderam a capacidade de interagir com suas famílias e sociedade de maneira funcional.
Há vários motivos que podem desencadear esse tipo de problema no quadro do paciente: passar longos períodos internado, gravidade do transtorno e falta de suporte adequado no ambiente familiar são alguns dos principais. Assim, convocar as famílias para atividades terapêuticas pode trazer benefícios significativos ao tratamento.
“O trabalho no Holiste Dia vai muito além das oficinas terapêuticas com os pacientes. Os grupos de família fazem parte de estratégia multifatorial, fundamental para conseguirmos resgatar a vida social dos pacientes, pois a família é o nosso primeiro círculo social.” – explica Lívia Brandão, Coordenadora do HD.
QUEM CUIDA DE QUEM CUIDA?
Cuidar de um paciente com transtorno mental não é uma tarefa fácil. Os sintomas da doença acabam impactando nas relações familiares, pois é muito difícil separar o que faz parte do quadro de adoecimento e o que está relacionado ao comportamento da pessoa. Assim, costuma-se dizer que a família sempre adoece junto com o paciente, variando em intensidade.
Assim, a psicóloga Luana Dantas propôs o tema “Quem cuida de quem cuida?” para o grupo de família que organizou, visando o compartilhamento de experiências para encontrar pontos de atenção comuns e estratégias de manejo que podem ser replicados.
“Pensamos nesse tema por compreender a emergência da construção de fontes de apoio e da criação de estratégias de autocuidado, na redução de angústias, medos e fantasias dos familiares. Isso propicia a aproximação das famílias, pacientes e equipe profissional.” – pontua a psicóloga.
O LIMITE COMO FORMA DE CUIDADO
Um dos grandes problemas que a família enfrenta no manejo do paciente é estabelecer limites. E, quando falamos em limites, essa é uma via de mão dupla: entender os limites que o transtorno impõe sobre o paciente é tão importante quanto estabelecer limites para as intervenções da família com o mesmo.
Se é verdade que os sintomas podem tornar certas atividades mais difíceis para o indivíduo, é preciso que o cuidado com essas limitações não coloque a família em uma posição superprotetora, impedindo o desenvolvimento pessoal do paciente, sua responsabilidade com o tratamento e com o curso de sua vida.
“Foi pensando nisso que, em um dos encontros, trouxemos o tema ‘O limite como forma de cuidado’. Muitas vezes, a família tem dificuldade em compreender as potencialidades e capacidades daquele familiar, podendo cair no equívoco de se verem “reféns do cuidado” por acreditarem que o paciente não pode contribuir nas rotinas da casa, nem ter uma vida mais autônoma e livre.” – pontua Maria Eugênia, também psicóloga do HD.
EXPECTATIVA X REALIDADE
É comum que, ao delegar o cuidado de seu familiar a uma instituição de saúde mental, a família espere que a equipe de terapeutas resolva os problemas de seu familiar. Essa responsabilização unilateral pode atrasar a recuperação do paciente, pois é necessário que a família dê o suporte adequado nos momentos em que o paciente está fora do espaço institucional.
Por isso, é preciso que a equipe convoque as famílias para ajustar suas expectativas em relação ao trabalho realizado nas oficinas terapêuticas do HD, além de esclarecer o seu papel complementar no tratamento do paciente. A psicóloga Camila Caldas explica que esse foi o objetivo por trás da escolha do tema “Expectativa x Realidade”, em sua participação nos grupos de família:
“É nesta troca de saberes complementares que reforçamos a importância da tríade: paciente, família e profissionais. Neste encontro, iniciamos com um momento de relaxamento, seguimos com o compartilhamento de experiências e encerramos com uma dinâmica, em que se percebeu as dúvidas e ambivalências emocionais na relação cuidador x paciente.” – finaliza a especialista.