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Livros de colorir para adultos e o combate ao Estresse

Nova febre do mercado editorial, os livros de colorir para adultos viraram mania como uma arma de combate ao estresse.

Porém, até que ponto estes livros podem ser considerados uma ferramenta terapêutica? Para responder esta eu outras questões sobre o tema, André Dória, psicólogo do Espaço Holos, compareceu ao programa CBN Bate Papo. O programa contou, ainda, com a participação da arterapeuta Ana Pássaro.

 

Livros de colorir são arteterapia?

Um dos argumentos que sustentam a ideia de que livros de colorir são ferramentas de combate ao estresse é a sua associação à arteterapia. Para a arteterapeuta Ana Pássaro, esta é uma comparação simplista, que não condiz inteiramente com a realidade: “Arteterapia não tem nada a ver com os livros de colorir. (…) Dá para utilizar estes livros numa sessão de arteterapia? Dá sim, com certeza. Se você fizer o uso em casa, ele pode ou não funcionar como uma atividade que relaxa. Se você usar dentro do ambiente terapêutico com o arteterapeuta, a depender de sua preferência, de seu perfil, de todo um estudo, ele vai funcionar sim como uma grande aliada. (..) Então, que fique bem claro que não substitui uma terapia, uma psicoterapia, uma sessão de psicanálise”.

André Dória, psicólogo do Espaço Holos, concorda que o tratamento ideal vai depender do perfil e das preferências de cada paciente, sendo um equívoco afirmar que livros de colorir funcionam para “tratar” o estresse de qualquer pessoa: “Me parece que é uma solução coletiva, o livro é vendido como anti-estresse e todo mundo que compra este livro vai ficar sem estresse se pintá-lo. E a solução é individual. (…) Cada um tem uma resposta individual: tem gente que vai pintar este livro e vai ficar pensando nas dívidas, nos problemas”.

 

A massificação de soluções

Não à toa, este tipo de “solução mágica” surge em nossa sociedade de tempos em tempos. A cada ano, uma nova “terapia” ou “descoberta” promete solucionar o problema do estresse de uma forma simples, fácil e ao alcance de todos. Para Dória, isso é um reflexo da nossa sociedade de consumo em massa: “Me parece que vivemos uma crise de referenciais culturais. Se a gente tivesse no ano passado tendo esta conversa, provavelmente a gente estaria falando do “Cinquenta tons de cinza”; se fosse no ano retrasado seria o Ágape. A cultura vai oferecendo essas referências, os livros, e isso embalado com a chancela de alguém que nós referendamos como ideal. As celebridades, por exemplo: quando alguém posa no Facebook ou nas redes sociais com um livro desses a coisa vai como uma onda, como aconteceram com outras ondas no passado e acontecerão outra no futuro. Então, eu acho que é importante estar atento para esse movimento de adesão a o que vem desta forma, e principalmente a esta massificação de soluções, como se houvesse uma fórmula mágica”.

 

Infantilização e inversão de valores

Dentro da repercussão sobre os livros de colorir, muito se fala sobre uma possível infantilização no comportamento dos adultos; enquanto crianças e adolescentes despertam cada vez mais cedo para o uso de novas tecnologias e atividades empreendedoras, adultos buscam conforto nos tais livros de colorir: “É um sintoma de nosso tempo. A gente vivia numa sociedade, há algum tempo atrás, que era muito referenciada por ideais verticais: o pai da família, o chefe da empresa. De certa forma você tinha contra quem se rebelar ou a quem aderir. Hoje houve uma horizontalização. (…) A gente vive numa época onde uma pessoa abre um Blog, começa a postar ali uma, duas, três fotos de roupa e, de repente, vira uma referência em moda. (…) Então, estas referências estão pululando, digamos assim, na cultura, e cada um adere ao que lhe convém” – afirma Dória.

Para o psicólogo, não cabe elaborar um juízo de valor ou afirmar que se trata de um comportamento infantil, mas compreender o fato como um fenômeno cultural próprio do nosso tempo: “É o sintoma do nosso tempo, de algum jeito. (…) Não necessariamente isso é um trauma mal resolvido. É um sintoma, digamos assim, do nosso tempo, este retorno ao passado. Vira e mexe a gente vê artistas que somem da mídia e aparecem como “cult”; aí, de repente, eles desaparecem. O velho se torna novo e o novo se torna velho, muito rapidamente”.

 

Autoajuda x ajuda profissional

Dória atenta para o fato de que o ideal, sempre, é procurar ajuda profissional antes de tentar soluções por conta própria, através de sucessos midiáticos. Não necessariamente precisa ser um psicólogo, um psiquiatra também pode ser consultado: “O importante é que se procure um profissional capacitado para, mais do que entender o seu caso ou tentar te ajudar, entender o momento de encaminhar para outros. Porque tem muita gente que nos procura e é necessário, sim, o acompanhamento psiquiátrico, e a gente encaminha, sabe da nossa limitação. E o oposto, também: muitas vezes a pessoa vai direto para o psiquiatra e ele percebe – aqui é necessário um processo de análise, não vou medicar – e encaminha. Então, o importante é procurar um profissional de referência”.

Ouça a entrevista completa:

 

*André Dória é Mestre em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia.