As contribuições e possibilidades da “Medicina Personalizada na Psiquiatria” foi o tema da palestra da psiquiatra Fabiana Nery, durante o evento Psiquiatria em Debate, realizado pela Holiste.
Falha terapêutica, biomarcadores, teste genético e farmacogenética foram alguns dos assuntos destacados pela psiquiatra em sua apresentação, que reuniu psiquiatras e profissionais de saúde mental.
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FALHA TERAPÊUTICA
Pacientes com Alzheimer ou câncer chegam a apresentar índices de falha terapêutica – quando a medicação não tem a resposta esperada – de até 70%. Na psiquiatria, é possível constatar que 30% a 40% dos pacientes tratados com antidepressivos não vão responder da forma esperada, apresentando pouca eficácia ou efeitos adversos.
“Nós não somos iguais, essa é uma verdade universal. Mas, se somos diferentes, por quê a grande maioria dos tratamentos para determinadas patologias é o mesmo para toda a população que sofre com a mesma patologia? Isso explica a alta taxa de variabilidade de respostas em determinados tratamentos. Os estudos na área da Medicina de Precisão estão focados justamente no entendimento dos mecanismos que levam às falhas terapêuticas”, destaca a Dra. Fabiana Nery
Medicina de Precisão ou Medicina Personalizada é um modelo que busca personalizar o diagnóstico e caracterizar a patologia, partindo do mapeamento do perfil genético, molecular e clínico daquele indivíduo. Esse modelo traz diversas vantagens, entre elas a maior efetividade na escolha do tratamento, com redução de custos e tempo.
BIOMARCADORES E FARMACOGENÉTICA
A Medicina Personalizada preconiza que, através de biomarcadores, seria possível subclassificar novos grupos em um universo de pacientes com o mesmo diagnóstico. Dessa forma, teríamos um aumento da taxa de resposta para todos os subgrupos.
Biomarcadores são indicadores utilizados para identificar ou mensurar a presença de características específicas de uma determinada patologia. Podem ser por exemplo uma mutação genética ou o nível de determinada proteína no organismo. São utilizados no processo de diagnóstico em diversas áreas da medicina, através de exames de neuroimagem, teste de sangue, testes genéticos ou farmacogenéticos.
Com o estudo dos biomarcadores e o desenvolvimento de testes de avaliação, a Medicina Personalizada avança no sentido de utilizar os dados obtidos – biológicos, genéticos e metabólicos – para indicar medicações de maneira mais específica e em um futuro próximo, criar medicações específicas para subgrupos de pacientes de determinada patologia. A farmacogenética – área da ciência que estuda relação entre a variabilidade genética e a resposta das medicações, moduladas pelo biomarcadores – é a principal aposta dentro da Medicina Personalizada.
“Ao invés de criar uma medicação e testar em vários grupos de pacientes, devemos entender melhor os mecanismos da patologia, quais são os caminhos e os circuitos envolvidos, para elaborar novas medicações, ainda mais efetivas para aqueles subgrupos. É a medicação certa, para o paciente certo, para a doença certa, no tempo certo e com a dosagem certa”, explica a psiquiatra.
SAIBA MAIS SOBRE O TESTE GENÉTICO NA HOLISTE
FARMACOGENÉTICA NA PSIQUIATRIA
Através de uma simples amostra da saliva do paciente, é possível fazer uma avaliação do seu perfil genético, identificando as possíveis respostas do seu organismo a determinadas medicações psiquiátricas, auxiliando na escolha mais adequada no tratamento medicamentoso.
“O Exame Farmacogenético, também conhecido como Teste Genético, permite reduzir o tempo e o custo do tratamento, a partir da escolha de medicamentos que terão uma maior chance de resposta e uma menor possibilidade de efeitos colaterais, aumentado a efetividade e segurança do tratamento, ampliando, também, a adesão do paciente aos medicamentos”, afirma Dra Fabiana.
A Medicina Personalizada e a farmacogenética abrem uma nova dimensão para o trabalho do psiquiatra, na medida em que possibilita o maior entendimento dos mecanismos patológicos das doenças psiquiátricas, mudando o foco para o tratamento da doença e não dos sintomas. Essa pode ser uma grande mudança de paradigma na medicina, trazendo um maior foco na individualidade clínica do paciente, a partir do acesso a maiores informações, como sua constituição genética.
A psiquiatra, porém, lembra da importância de investir na relação médico-paciente.
“Apesar de todas as promessas e possibilidades, o principal recurso do nosso trabalho continua sendo a confiança do paciente nas orientações de seu médico. A construção de uma aliança terapêutica sólida é a base fundamental de todo tratamento, principalmente da psiquiatria.
Citando o médico canadense Wilian Osler, conhecido como um dos pais da medicina moderna: Se não fosse a grande variabilidade entre os indivíduos, a medicina talvez seria apenas uma ciência e não uma arte”, encerra Fabiana Nery.