Em entrevista à rádio Metrópole, Daniela Araújo, psicóloga da Holiste, abordou a importância da autoridade e da participação ativa dos pais na formação de crianças e jovens.
A infância e adolescência são períodos da vida romantizados como fases repletas de alegria e beleza. As descobertas e a ausência de inúmeras responsabilidades da vida adulta trazem à tona um saudosismo saudável, aos que já passaram dessa etapa.
Isso não significa dizer que crianças e jovens estejam livres de sentir angústias, ansiedade e sofrimento. Por esta razão, o aumento no número de suicídios entre jovens aquece o debate sobre transtornos que afetam crianças e adolescentes, que vão além das dificuldades de aprendizagem e passa pela automutilação, transtornos de ansiedade e depressão, trazendo a necessidade de refletir sobre fatores da vida moderna que podem interferir na saúde mental deste público.
A psicóloga e coordenadora do Núcleo Infantojuvenil da Holiste, Daniela Araújo, destacou que, por vezes, a pressa em buscar um diagnóstico para a criança ou jovem pode não colaborar para sua recuperação.
“Percebemos que na ânsia de se dar um nome a certos comportamentos e situações relacionados ao jovem, muitos ficam presos a um determinado diagnóstico, o que termina não sendo positivo, pois eles poderiam se desenvolver de uma outra maneira. A nossa atualidade apresenta uma realidade na qual estamos mais propensos ao sofrimento psíquico, e podemos usar para definir isso a palavra excesso: excesso de uso de tecnologia, de atividades, de tempo ocioso desassistido, e, junto com isso, a dificuldade do estabelecimento de limites”, salienta Daniela.
Ouça a entrevista completa:
De quem é a responsabilidade?
A especialista percebe que as crianças têm se tornado mais imperativas, ou seja, ditando as regras que deveriam vir das figuras de autoridade. Nesse sentido, ela avalia que os pais têm delegado responsabilidades na criação dos filhos.
“Vemos cada vez a responsabilidade sendo transferida às escolas, aos avós, a quem cuida da criança no tempo livre, que muitas vezes não são os pais. Então, mesmo com o trabalho, com o tempo reduzido, é importante que haja qualidade nesse tempo juntos e o estabelecimento de limites”, aponta a psicóloga.
Ela alerta que, em relação ao uso da internet, por exemplo, se não houver alguém para acompanhar, estabelecer regras de uso, a criança ou o jovem tende a passar horas nessa ferramenta, o que dificulta que ele aprenda a interagir de outras maneiras.
Olho no olho
Em tempos de online, Daniela aponta que é fundamental o cuidado para utilizar bem essa ferramenta, de forma que esta não substitua o contato.
“A internet tem uma série de possibilidades, facilidades de comunicação, aprendizagem e conhecimento tanto para os jovens, quanto para os pais, mas a criança e o jovem estão aprendendo a construir laços. Por isso, eu sempre repito que é preciso cuidado para não deixar de priorizar o contato, a conversa olho no olho, a brincadeira física, e vivência na família e também com os amigos e colegas”, comenta.
Automutilação e outros alertas
Dos sintomas que aparecem entre crianças e adolescentes, Daniela Araújo destacou que os casos de automutilação e tentativas de suicídio têm aumentado. Segundo ela, a automutilação é um alerta e indica que o jovem está tentando sinalizar que algo está errado com ele, que existe uma dor psíquica.
“Também temos observado um aumento dos transtornos alimentares entre os jovens, das compulsões, do uso de drogas, além de quadros depressivos. É preciso atenção para sintomas como isolamento, mudanças de comportamento, agressividade, agitação, dificuldades de aprendizagem ou de fala, além de sintomas físicos que podem estar associados a questões psicológicas. É preciso ficar atento aos filhos, pois alguma alteração pode indicar que algo não vai bem”, aconselha a psicóloga.