O Jornal ATarde publicou o artigo da psiquiatra Fabiana Nery sobre o ciúme patológico. Confira o artigo na integra.
“A origem da palavra ciúme vem do grego zelos, que significa zelo. Por isso, muitas vezes ele é visto como uma prova de amor, de cuidado. Daí parte a controvérsia sobre ser o ciúme algo bom ou ruim, já que, em excesso, ele pode trazer sofrimento tanto ao amante quanto ao amado. La Rochefoucauld, em sua celebre frase “o ciúme sempre nasce com o amor, mas nem sempre morre com o amor”, aponta para o caráter ambivalente do ciúme.
A maneira como o ciúme é visto varia em diferentes culturas e épocas. No século XIV, por exemplo, ele estava relacionado à paixão, devoção e zelo, sem conotações pejorativas de possessividade e desconfiança. Nas sociedades monogâmicas, o ciúme se associa à honra e moral, sendo um instrumento de proteção da família, adaptação à necessidade de ciência da paternidade. Atualmente, ainda se atribui ao ciúme algum papel positivo, considerando-o um sinal de amor e cuidado.
Dependendo da nossa personalidade, situação e circunstâncias, o ciúme pode variar em termos de tipo e grau de intensidade. Embora existam pessoas com mais e menos tendência a serem ciumentas, a verdade é que ninguém lhe escapa. Mas qual é o limite entre o que é normal e natural e o que é disfuncional e patológico? Em questões de ciúme, a linha divisória entre imaginação, fantasia, crença e certeza frequentemente se torna vaga e imprecisa.
No ciúme patológico observa-se o desejo de controle absoluto sobre os comportamentos do companheiro, associado a diversos sentimentos perturbadores, desproporcionais e absurdos. Esses sentimentos envolvem um medo desproporcional de perder o ente amado, e uma desconfiança excessiva e infundada, gerando significativo prejuízo no relacionamento do casal. Nesses casos, as dúvidas se transformam em certezas e a pessoa é compelida à verificação compulsória de suas desconfianças.
E como saber se o seu ciúme, ou do seu parceiro, está em níveis normais? A pessoa cujo ciúme encontra-se dentro do normal baseia os seus questionamentos, desconfianças e inseguranças em fatos reais e concretos. Já o ciumento doentio tende a fantasiar situações, viver buscando indícios de infidelidade e tem a sua vida pessoal prejudicada pela compulsão.
O ciúme pode causar sofrimento, mas não precisa ser uma sentença irrevogável. É possível mudar sua percepção, minimizando as reações do ciúme. Já dizia Shakespeare “Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança, e começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança”.
Confira a palestra da Dra. Fabiana Nery sobre o ciúme patológico no Ciclo de Palestras Holiste: “SOFRER POR AMOR: QUAL O LIMITE?