Em entrevista ao programa Sinta-se Bem, Dr. Luiz Guimarãesfalou sobre o “comportamento dependente”, fator importante da dependência química ou não-química.
A dependência química é um dos transtornos mentais mais frequentes na população, sendo uma das principais causas de afastamento do trabalho. Além disso, cerca de 25% dos acidentes de trabalho são decorrentes do uso ou abuso de álcool ou outras drogas. Diante dessa realidade, associada a uma oferta cada vez maior de novas substâncias sintéticas, o debate sobre a dependência química ocupa um espaço cada vez maior na sociedade.
DEPENDÊNCIA QUÍMICA X COMPORTAMENTO DEPENDENTE
Para o psiquiatra, é preciso iniciar a conversa sobre a dependência química chamando a atenção para um fator essencial à questão: o comportamento dependente. Guimarães avalia que o comportamento dependente vai além do simples uso de uma substância química, estando relacionado a problemas mais complexos da mente humana.
“As pessoas confundem muito ‘fazer algo’ com ‘as consequências’ de algo. Por exemplo: não é pelo fato de eu beber que necessariamente vou ter um problema com o álcool; não é pelo fato de eu usar a internet que eu necessariamente vou ter problemas com a internet; (…). Aí é que entra o termo de dependência, é quando a consequência de um comportamento me é danosa e mesmo assim eu continuo a fazer. Então, existem os comportamentos dependentes químicos e não químicos, também” – afirma o especialista.
Esse comportamento dependente pode ser interpretado como uma compulsão. O indivíduo pode ter uma compulsão por drogas, por jogo, por sexo, por compras, mas o que acontece no seu cérebro é sempre um mecanismo de recompensa que reforça o comportamento, mesmo que ele traga um dano associado, e que vai gradativamente estabelecer a compulsão.
RISCOS DA DEPENDÊNCIA NÃO QUÍMICA
Apesar de toda a atenção que a dependência química desperta no meio social, vivenciamos um momento onde a dependência não química começa a ocupar um espaço importante do debate. O uso abusivo das novas tecnologias, a internet, smartphones, videogames, ou mesmo hábitos relacionados ao modelo de sociedade de consumo, como as compras compulsivas, passam a figurar na lista de comportamentos dependentes que podem causar prejuízo ao indivíduo, estando cada vez mais presentes nos consultórios dos especialistas.
Segundo o psiquiatra, estes comportamentos compulsivos geralmente decorrem do desenvolvimento de episódios de ansiedade patológica, podendo acarretar uma série de prejuízos ao paciente. “As pessoas começam a desenvolver uma privação de sono e no outro dia ela está com menor concentração, está mais irritada, ela come mal, ela produz menos. (…) É um comportamento dependente mesmo” – avalia.
Há, ainda, o risco de comportamentos dependentes em atividades que são bem vistas ou socialmente aceitas, que aparentemente não causariam prejuízos, mas que, na prática, ocasionam diversos transtornos para o indivíduo. “A pessoa que só pensa em trabalho também adoece. A sociedade, às vezes, aceita esse tipo de dependência, mas não percebe o prejuízo familiar e pessoal que isso traz. Converse com a família de uma pessoa que tem dependência de trabalho, como a vida pessoal dela se destroça. Mas o paciente vai argumentar que está bem, que está produzindo, que está trabalhando. Então, a gente tem que observar todo esse complexo de comportamentos que causam dependência” – lembra o profissional.
TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA NÃO QUÍMICA
O tratamento destes transtornos de dependência é parecido com o que é realizado com dependentes químicos, pois o ponto central a ser trabalhado é o comportamento dependente, mudando apenas o objeto daquela dependência.
“Nos casos graves das dependências não químicas a internação psiquiátrica, inclusive, pode ser um recurso essencial para a recuperação do paciente. Pessoas que possuem dependência de tecnologia, de compras compulsivas, de sexo ou quaisquer outros comportamentos que causam prejuízo devem passar pelas mesmas etapas do tratamento: abstinência daquilo que lhe causa dependência, motivação para manter-se no tratamento, reabilitação e manutenção para prevenção de recaídas. Intervenções medicamentosas também são realizadas, auxiliando na contenção das crises de ansiedade e na manutenção da abstinência” – finaliza.
Ouça a entrevista completa: