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Craving e Ibogaína - Novas Abordagens no Tratamento do Dependente Químico | Vídeo

Craving e Ibogaína foram os temas apresentados pelos médicos Luiz Guimarães e Bruno Rasmussen Chaves durante a primeira edição do evento Psiquiatria em Debate, que tratou sobre “Novas Abordagens no Tratamento do Dependente Químico.

O evento reuniu no auditório da Holiste Psiquiatria, uma seleta plateia formada de psiquiatras, psicólogos, terapeutas e outros profissionais da saúde mental, em sua maioria especializados no tratamento de dependente químicos.

Luiz Fernando Pedroso, psiquiatra e diretor clínico da Holiste, realizou a abertura do evento e destacou a importância de estar sempre atento a novas possibilidades de tratamentos, como no caso da Ibogaína.

“Por mais que a gente estude, que tenha acesso a novos medicamentos e terapêuticas, a dependência química é algo que está sempre me desafiando. Por isso, acredito que precisamos ser curiosos, temos que nos perguntar, temos que buscar armas para lidar com esse problema. 

Hoje fala-se muito sobre a Ibogaína no tratamento do dependente químico e percebemos muitos leigos fazendo uso sem muitos critérios.   E esse foi um dos motivadores para realizarmos esse evento e debatermos sobre o assunto”, afirmou o psiquiatra.

 

ASSISTA AO VÍDEO COM OS DESTAQUES DAS PALESTRAS

 

 

FISSURA X CRAVING

craving ou a fissura é um comportamento que está relacionado ao forte desejo de repetir a experiência em relação ao consumo de determinada substâncias, desde alimentos como o chocolate, até drogas psicoativas, como o álcool, crack ou heroína.

A 5ª revisão do DSM*, lançada em 2013, trouxe de volta o craving na sua lista de diagnósticos psiquiátricos, o que motivou um aumento de pesquisas sobre o tema.  A maioria dos estudos aponta o craving como uma experiência subjetiva, mas que o seu entendimento é relevante para compreender a motivação pelo uso da droga.

“O significado do Craving (fissura) no manejo do dependente” foi o tema da palestra do psiquiatra Luiz Guimarães, que iniciou sua fala explicando o porquê de adotar o termo “craving” ao invés da “fissura”.

“As definições da palavra fissura, não fazem jus a relação com os hábitos aditivos, por isso a preferência pelo termo em inglês, craving, quando nos referimos a compulsão pelo uso de álcool ou drogas, além do fato de encontramos mais respaldo na literatura técnica internacional.

O termo diz respeito não somente ao desejo, como a intenção de realizar este desejo, a antecipação dos efeitos positivos associados à sua utilização e o alívio do afeto negativo e dos sintomas relacionados à abstinência”, explica o psiquiatra.

Os usos continuados e intensos de substâncias químicas provocam alterações na circuitaria cerebral, alterando, entre outros pontos, a memória que o indivíduo tem a respeito da experiência do uso.  Estudos sugerem que essas alterações cerebrais estão relacionadas fisicamente ao craving, contrariando conceitos que limitam o fenômeno apenas ao aspecto subjetivo.

“O paciente apresentar o craving, não significa que ele vá recair, porém, nós que trabalhamos com dependência química, sabemos que isso é preditivo para a retomada do uso das drogas.

Por isso que é tão importante entender esse fenômeno e desenvolver táticas para o manejo dos pacientes nesse estágio, seja na internação ou no acompanhamento ambulatorial”, conclui Dr. Luiz Guimarães.

*O  DSM-5 ((Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) é um manual diagnóstico e estatístico feito pela Associação Americana de Psiquiatria para definir como é feito o diagnóstico de transtornos mentais.  É usado ao redor do mundo por clínicos e pesquisadores bem como por companhias de seguro, indústria farmacêutica e parlamentos políticos.

 

IBOGAÍNA E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA

A Ibogaína é uma substância psicoativa (Onirofrênico) com efeitos neurológicos e psicológicos.  É um dos 12 alcaloides presentes na planta Tabernanthe iboga, que cresce na África ocidental, principalmente no Gabão e é utilizada a centenas de anos em rituais medicinais e outros cerimoniais.

Apesar de ainda desconhecida do grande público, o primeiro estudo farmacodinâmico sobre suas propriedades medicinais foi realizado já em 1901. O seu uso no combate à dependência química tem o seu primeiro registro em 1955, nos Estados Unidos, onde foi utilizada, com sucesso, no tratamento de dependentes de morfina.

O clínico e gastroenterologista Bruno Rasmussen Chaves, que trabalha com dependência química há mais de 20 anos, trouxe o tema “Ibogaína no tratamento da Dependência Química”, onde falou sobre sua experiência com a substância.

Não existem abordagens farmacológicas efetivas para o tratamento de dependência química até a presente data.  Todas as opções terapêuticas utilizadas são utilizadas visando aliviar o sofrimento causado por um quadro grave e com sérias implicações sociais.  O problema é tão sério e tão grave, que tentamos fazer de tudo que estiver ao nosso alcance, por isso vale a pena a gente prestar atenção na Ibogaína como opção terapêutica”, explica o Dr. Bruno Chaves.

O efeito da Ibogaína no cérebro é aumentar o GDNF – Glial-Cell Dereivated Neurotrophic Factor – que é uma substância que estimula o crescimento de neurônios, o aumento de sinapse e conexões entre os neurônios. 

“Isso provavelmente causa no paciente dependente químico, uma espécie de restauração do funcionamento do cérebro e um reequilíbrio da quantidade de neurotransmissores, e quase que instantaneamente o paciente perde o craving pela droga” destaca o gastroenterologista.

Porém, o médico alerta, que não é correto pensar na Ibogaína como um promotor da abstinência ou uma “vacina milagrosa”.

“A ibogaína sozinha não resolve nada, não é milagre, não é uma solução final.  Ela atua exatamente na sensação do craving, agindo como um estabilizador da dependência e facilitador para a terapia.  É importante para que o resultado seja proveitoso que o paciente faça psicoterapia, tanto antes quanto depois, se não o efeito vai aos poucos se perdendo.  Ele precisa continuar a fazer a sua parte”, conclui o Dr. Bruno.

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O EFEITO DA IBOGAÍNA

O efeito da aplicação da Ibogaína dura em torno de 12 a 24h, e pode ser dividido em 03 fases distintas:

  1. Pequenas reações sinalizam que a substância começou a fazer efeito – calor, tontura, zumbido, formigamento nos braços e pernas;
  2. Seguida pela fase das onirofrenias – pensamentos acelerados, lembranças do passado (principalmente infância e adolescência) – com duração de 03 a 04 horas – geralmente as lembranças são de momentos difíceis ou traumáticos do passado, que trazem para o paciente uma outra compreensão dos eventos;
  3. Aos poucos o pensamento vai acalmando e o paciente entra na fase de perguntas e respostas, ele começa a pensar nas lembranças e começa a ter insights, ele vai entendendo melhor os erros cometidos e reavaliar suas atitudes;

Em 50 anos, tem-se registrado mais de 30 mil tratamentos com a Ibogaína em todo o mundo. No mesmo período, 19 mortes foram registradas, supostamente relacionadas ao seu uso. Todos os episódios têm as mesmas características – realizadas sem a presença de um médico, fora do ambiente e com medicação de origem desconhecida.  Além disso, alguns pacientes possuíam doenças graves preexistentes e faziam uso concomitante de outras drogas (heroína e cocaína).

 

IBOGAÍNA NO BRASIL

No Brasil, a Ibogaína não é proibida, não é controlada, não está banida e não está incluída na portaria 344 do Ministério da Saúde – que dispõe sobre a regulamentação técnica de substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial.

Apesar de não estar regulamentada pela Anvisa como medicação, a mesma permite que pessoas físicas importem na forma de medicamente para uso pessoal, sem fins comerciais.

O tratamento com Ibogaína é um procedimento médico.  Deve ser realizado em ambiente hospitalar, com acompanhamento médico-psiquiátrico e psicoterapêutico, utilizando a Ibogaína medicinal, com 99,4% pureza e fabricado seguindo boas práticas da indústria farmacêutica.

 

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