No primeiro Encontros Holiste de 2020, o psiquiatra Mateus Freire falou sobre a importância do tratamento medicamentoso na dependência química.
A dependência química é um conjunto de fenômenos comportamentais e fisiológicos decorrentes do uso de substâncias psicoativas.
Com o tempo, após o uso repetido dessas substâncias, o cérebro se torna dependente da sensação de prazer provocada pela droga. Mateus Freire aponta que a dependência química é considerada um transtorno mental, que geralmente se inicia ainda durante a adolescência:
“Muitos problemas de saúde mental se iniciam na adolescência. A adolescência é um momento muito delicado. Quanto mais cedo as pessoas iniciam o uso de substâncias psicoativas maior a chance de desenvolver quadros de dependência química na vida adulta”, destaca o psiquiatra.
Assista à palestra completa:
DROGAS X PSICOFÁRMACOS
É interessante notar que o assunto ainda é cercado de bastante tabu, o que impede uma conversa mais franca sobre o tema. Mas, é necessário analisar o problema de frente, sem preconceitos: “O termo ‘droga’ é facilmente revestido por conotação negativa. Aqui falamos de uma classe específica: as drogas psicoativas, que tem um potencial de abuso e podem levar à dependência química”, explica o psiquiatra.
Esse abuso acontece porque as drogas possuem, sim, um efeito prazeroso, uma recompensa ao usuário. Por isso, milhões de pessoas fazem uso dessas substâncias para ajudá-las a lidar com os problemas que encontram em seu dia a dia.
O próprio medicamento é uma droga, com a diferença que lhe foi conferido diversas regulações e significados que o afastam de uma possível conotação negativa.
“O que confere o status de tratamento não é simplesmente a substância ou o efeito que ela causa, mas tudo o que está ao redor dela. É possível lidar com o sofrimento psíquico através de um veículo químico – é a base do tratamento medicamentoso hoje”, pontua.
TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DA DEPENDÊNCIA
Os usuários buscam nas drogas um paliativo para um problema interno, geralmente uma angustia para a qual a substância psicoativa promove algum conforto. “Muitas pessoas usam a droga para ‘cuidar’ de um problema que já tinham antes. E esse uso entra como uma espécie de ‘tratamento’” – explica Mateus.
É essa relação entre uso da substância e alívio do sofrimento ou sensação de prazer que vai gerar a dependência. “Não é a quantidade ou frequência do uso da substância que determina se a pessoa tem dependência ou não” – afirma o especialista, elencando alguns dos sintomas que precisam estar presentes para a definição de um quadro de adição: desejo intenso pela substância, uso compulsivo, aumento da tolerância aos efeitos da droga, prejuízos nas relações sociofamiliares, persistência no uso apesar dos danos e síndromes de abstinência.
Como se sabe, não existe uma medicação capaz de tratar definitivamente a dependência química. As medicações são auxiliares do tratamento, atuando em alguns dos sintomas mencionados ou provocando o próprio efeito da droga, exercendo um papel substitutivo.
“A gente pode pensar em um medicamento que seja capaz de substituir aquela droga. É um medicamento que entra para suprir alguns efeitos que aquela droga fornece para aquela pessoa. (…) A outra possibilidade é um medicamento que possa aliviar a compulsão, ou seja, devolver à pessoa a possibilidade que ela controle esse uso. (…) E a outra possibilidade é um medicamento que faça a pessoa ter uma sensação ruim ao invés de boa no momento do uso da droga, o que a gente chama de efeito aversivo” – pontua.
MELHORES RESULTADOS
Seria muito bom que existisse uma medicação milagrosa que acabasse com a dependência química. Mas, a realidade é que o tratamento da dependência demanda uma abordagem multiprofissional, envolvendo acompanhamento psicológico individual, terapias de grupo e, também, a utilização de fármacos que auxiliam no manejo de alguns sintomas do transtorno.
“O tratamento tem uma chance muito maior de dar certo quando existe vínculo, quando existe acolhimento, quando a pessoa se sente bem com o profissional, respeitada, quando tem a sua autonomia preservada e pode escolher sobre o seu tratamento, isso melhora os resultados.” – finaliza Mateus.