Jovens são mais vulneráveis à experimentação de drogas e à dependência química.
Os problemas causados pelo consumo das drogas ilícitas vêm crescendo nos últimos anos, não só na Bahia, mas em todo o país. É cada vez maior o número de homicídios relacionados ao tráfico de drogas, além da precocidade com que os jovens estão se tornando usuários e por vezes dependentes químicos. Outro fenômeno observado é a proliferação das chamadas drogas sintéticas, como anfetaminas, extasy e LSD, as quais apresentam maior risco de overdoses e forte poder de adicção. Diante deste cenário, as famílias buscam respostas sobre a melhor forma de abordar o tema e educar os seus filhos, evitando futuros problemas relacionados à droga.
Em entrevista ao Jornal da Manhã, Dra. Fabiana Nery, psiquiatra do Espaço Holos, levantou as principais causas da dependência química, seus sintomas e possíveis abordagens: “Características de personalidade como curiosidade, busca do novo, tendência ou desejo de transgredir, o desafio, isto são questões específicas relacionadas à própria adolescência. Além disso, você tem questões fisiológicas, por exemplo, como a questão relacionada ao sistema inibitório, que se localiza numa parte específica do cérebro que ainda está em desenvolvimento durante a adolescência. A capacidade de avaliar risco-benefício, de dizer não, de não seguir impulsos imediatos também está menos desenvolvida do que em um adulto, o que também propicia que o jovem esteja mais suscetível à experimentação da droga”.
Fator genético.
O fator genético foi apontado pela psiquiatra como um dos mais importantes no desenvolvimento de um quadro de dependência: “Existe uma questão genética envolvida, que aí ninguém tem como saber quem tem este padrão genético ou não. Seria uma alteração no centro responsável pelo prazer e pela recompensa, aonde alguns indivíduos teriam uma alteração neste sistema cerebral da recompensa que favoreceria, após uma experimentação de uma substância, a potencialização do risco”. Esta predisposição genética ao uso de substâncias psicoativas é tão forte que dificilmente pode ser compensada com outra atividade que estimule este sistema cerebral da recompensa: “Para quem tem este padrão genético, a recompensa produzida pela substância psicoativa é muito maior do que um estímulo considerado normal, ou do ambiente, como: esporte, prazer, namoro ou sair com os amigos”.
Formas de abordar o problema.
Para os pais, abordar este tema com seus filhos é uma tarefa desafiadora. A maioria das pessoas adota uma postura de vigilância, com foco na condenação do comportamento e punição. Para Dra. Fabiana, esta não é a abordagem mais indicada: “Diálogo aberto e franco, sem simplesmente dizer: a droga é ruim e pronto. Tem estudos que demonstram que campanhas escolares baseadas apenas na criminalização ou na repulsa em relação à droga não são suficientes”.
Dr. Luiz Guimarães, psiquiatra do Espaço Holos e membro do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas – CETAD, também suporta a via do diálogo como a melhor forma de trabalhar o problema: “Tem que ser evitado o confronto direto porque, se você parar para pensar, a bebida traz prazer, a droga traz prazer, e eu vou falar com aquela pessoa de uma coisa que é boa para ela; o ruim são as consequências dela. Então eu tenho que falar de consequências daquele comportamento, e não do comportamento em si. Isso já causa uma sensibilização na pessoa”.
O psiquiatra ainda faz um alerta importante: “É preciso atentar para o fato de que as drogas legais, como álcool e o cigarro, são tão ou mais perigosas do que as ilegais ou sintéticas. Por serem aceitas socialmente, torna-se muito difícil afastar o usuário da oferta constante, principalmente em ambientes socializantes, como festas e outros eventos”.
Confira a entrevista completa com a Dra, Fabiana Nery.
O Espaço Holos oferece um Programa Especial de Tratamento da Dependência Química, onde jovens a partir de 18 anos podem participar.
* Dra. Fabiana Nery é psiquiatra, mestre em medicina pela UFBA e diretora da Associação Brasileira de Transtorno Afetivo Bipolar.
* Dra. Luiz Guimarães é psiquiatra, Terapeuta Cognitivo e membro do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas.