A depressão causa um sofrimento profundo, levando o indivíduo à perda da funcionalidade e a outros transtornos.
“Tem várias facetas, intensidades e, muitas vezes, se esconde. É uma profunda dor na alma, uma dor moral e existencial muito grande”, assim Dr. Luiz Fernando Pedroso, diretor clínico da Holiste, caracteriza a depressão. Segundo o psiquiatra, a dinâmica psicológica do sujeito pode ter origem em fatores biológicos, ambientais ou de personalidade, com a possibilidade de influência de um sobre o outro.
Algumas correntes trazem explicações neuropsiquiátricas para a depressão, associando a doença a problemas na captação de serotonina e a questões dopaminérgicas. “Outra compreensão, pautada especialmente na psicanálise, nos permite pensar a doença como uma organização psíquica dos afetos da pessoa. A depressão pode ser entendida como uma dificuldade de escoamento da energia psíquica, ou seja: refere-se a um modo de funcionamento do indivíduo em determinadas situações que enfrenta em sua vida”, detalha Rogério Barros, psicólogo da Holiste. Para ele, deprimir pode ser a resposta encontrada frente à incapacidade psíquica em administrar o encontro com experiências que revelem a falta de sentido da vida ou a perda dos ideais.
A depressão traz consequências devastadoras para o indivíduo. De acordo com a psiquiatra Lívia Castelo Branco, a depressão é uma das maiores causas de incapacidade; por isso, é importante que seja prontamente diagnosticada e tratada. “A pessoa que apresenta um quadro depressivo, em algum momento da vida, tem cerca de 50% de chance de ter um segundo episódio. Depois do segundo, o risco de ter o terceiro sobe para 70%, e de um quarto para até 90%”, destaca. A médica esclarece que o indivíduo deprimido, sem tratamento, com forte quadro de oscilação dos sintomas, tende a tornar-se um doente crônico. “Isso prejudica a qualidade de vida, o bem-estar, as relações sociofamiliares, a produtividade no trabalho e a qualidade do sono, entre outros aspectos”, relata.
A psiquiatra revela, ainda, que algumas pessoas são mais vulneráveis a episódios depressivos. As mulheres, por exemplo, devem ficar atentas, pois o fator hormonal e algumas questões sociais elevam as chances de desenvolverem a doença: elas são até três vezes mais propensas ao transtorno do que os homens. “A genética também é um aspecto a ser analisado, já que a herdabilidade varia entre 35% e 50%. Uma pessoa que tem um parente de primeiro grau que convive com a depressão ou já apresentou o quadro, tem de duas a três vezes mais chances de desenvolver a doença do que a população em geral”, destaca.
PRINCIPAIS SINTOMAS
Multifacetada, a doença se apresenta de formas e com sintomas variados. Segundo Dra. Lívia, observam-se casos de depressão induzida por medicações ou doenças, com características ansiosas, com aspectos atípicos, com sintomas psicóticos, associada à gestação ou parto, sazonais (que costumam se repetir em uma época específica do ano), entre outras. “Podemos falar também da distimia, que é uma depressão leve e crônica que dura pelo menos dois anos. O indivíduo apresenta sintomas característicos da doença, como o humor deprimido a maior parte do tempo, mas o prejuízo nas relações sociais e no trabalho é variável”, revela a psiquiatra.
Dr. Luiz Fernando Pedroso alerta para a importância de diferenciar a depressão de um período de tristeza, sentimento absolutamente normal e saudável. “A pessoa que não tem a capacidade de entristecer certamente tem algum problema. A depressão é uma tristeza patológica, pouco reativa e, muitas vezes, com vida própria dentro do indivíduo, que se vê prisioneiro do sofrimento provocado pelo transtorno”, esclarece. O psiquiatra explica que um período de tristeza normal só pode ser classificado como depressão a partir do momento em que ultrapassa a intensidade ou o tempo esperado para a elaboração da perda.“A patologia começa quando os comportamentos e sentimentos perdem a razoabilidade”, completa.
Além da tristeza que não cessa, Dra. Lívia aponta a falta de ânimo, a desesperança e a sensação de que as coisas não vão dar certo, entre outros pensamentos negativos, como sintomas da depressão. “Podem aparecer, também, pensamentos de morte e ideia suicida, assim como lentidão de raciocínio e dos movimentos. Em outro extremo, temos pacientes que ficam mais acelerados, com ansiedade ou pensamentos obsessivos”, exemplifica.
A gravidade da depressão, por sua vez, é identificada pela intensidade do sofrimento, pelo grau de incapacitação do indivíduo e pela recorrência dos episódios. “Quanto maior for a dor, mais o sujeito fica incapacitado. À medida que o sofrimento e a angústia aumentam, os sintomas pioram até o ponto dele não sair mais de casa, da cama, até não querer mais viver e chegar a pensar em um ato suicida”, alerta Dr. Luiz Fernando.
TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR
A observação é, sem dúvida, o principal recurso utilizado para determinar, com precisão, os diagnósticos na área da saúde mental e, consequentemente, o melhor tratamento a seguir. “Analisamos o discurso do paciente, a forma de lidar com algumas questões do seu dia-a-dia, comportamento, atitude, inteligência, cognição, capacidade mental, ou seja, uma série de fatores”, explica Dr. Luiz Fernando, alertando que é comum o sujeito tentar mascarar o discurso. “A doença mental tenta parecer normal e é convincente. Por isso, na maioria dos casos, precisamos escutar a família, as pessoas que convivem com o paciente, para colher informações de uma outra perspectiva”, explica. O médico ainda pontua que a avaliação psiquiátrica é feita em cima de três pilares: aquilo que o profissional vê, o que o paciente conta e o que as pessoas que convivem com ele conseguem ver.
O controle da doença geralmente é feito de maneira multidisciplinar, associando psiquiatria, tratamento medicamentoso, psicoterapias e terapias de neuroestimulação, a depender do quadro do paciente e da resposta que ele dá a cada abordagem.
A psicoterapia entra no tratamento como um espaço de fala, no qual o doente vai se confrontar com questões que, para ele, sempre ficaram ‘obscuras’. “O atendimento psicológico vai ajudá-lo, principalmente, a pensar em alternativas para lidar com o que é inevitável e, consequentemente, a viver de forma mais leve e fora desse estado deprimido, triste e de paralisação diante da própria vida”, explica Carol Severo, psicóloga da Holiste, chamando a atenção para o momento atual, em que a sociedade tem dificuldade em lidar com frustrações, muitas vezes desde a infância. Esse é um dos pontos trabalhados no atendimento, de forma que o paciente amplie as redes de apoio para lidar melhor com a dificuldade na relação social e na relação consigo mesmo.
Para Rogério Barros, a atuação do psicólogo permite que o indivíduo possa, através da fala, nomear o próprio mal-estar e, no seu tempo e possibilidades, encontrar as saídas para o seu sofrimento. Trata-se de uma abordagem que dá mais protagonismo ao sujeito em sofrimento e menos ao império dos nomes e categorias que, muitas vezes, servem apenas para encapsular o sofrimento e justificá-lo.
De acordo com Dr. Luiz Fernando, o acompanhamento de um psicólogo é sempre benéfico, mas quando a depressão tem fatores biológicos mais fortes, é fundamental inserir a medicação. “E quando o sujeito não responde aos medicamentos, passamos a considerar a estimulação magnética transcraniana e a eletroconvulsoterapia, sendo esta um dos tratamentos mais eficazes para a depressão”, conclui.
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DEPRESSÃO, TODA DOR MERECE SER TRATADA
A depressão é uma doença psiquiátrica, um transtorno mental muito frequente que pode afetar qualquer pessoa, independentemente da idade ou sexo. Estima-se que 350 milhões de pessoas em todo mundo sofrem deste transtorno.
Diante da importância, o tema “Depressão” foi escolhido pela OMS para o DIA MUNDIAL DA SAÚDE em 2017 (lembrado em 7 de abril). A Organização Mundial da Saúde iniciou uma grande campanha global com o lema “Let’s talk” (“Vamos conversar”, em português).
O foco da campanha é a importância de falar sobre a depressão como componente vital da cura, diminuindo-se assim o estigma em torno do assunto. A iniciativa reforça ainda que existem formas de prevenir a depressão e também de tratá-la, considerando que ela pode levar a graves consequências.
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