Muitas pessoas têm dificuldade em diferenciar depressão e transtorno bipolar, pois variações de humor são comuns na vida de todos. Para esclarecer o tema, André Gordilho, psiquiatra da Holiste, falou aos ouvintes do programa Metrópole Saúde.
Durante a vida, todo mundo atravessará momentos de tristeza e de alegria. Cada um desses momentos pode ser mais intenso ou brando, refletindo em nossos comportamentos e emoções. Mas, quando uma tristeza é na verdade um quadro de depressão? Além disso, qual a diferença entre uma depressão comum e uma fase distímica do transtorno bipolar?
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TRISTEZA X DEPRESSÃO
Apesar da quantidade de informação disponível sobre o tema, ainda é muito comum que as pessoas confundam depressão com tristeza. Depressão é uma doença complexa, que, nos quadros mais graves, pode trazer uma série de transtornos para a vida do indivíduo. Depressivos crônicos podem perder o prazer em realizar suas rotinas diárias, atividades de lazer, abandonar sua carreira profissional, entrar em estado de total catatonia ou atentar contra a própria vida. Ao contrário de uma simples tristeza, sem o acompanhamento adequado é muito difícil lidar com a depressão.
“A depressão é uma doença, mesmo. É um transtorno do humor. Então, quando o humor adoece a pessoa pode desenvolver um quadro depressivo. Às vezes as pessoas confundem tristeza com depressão, como se fosse a mesma coisa, e não é. A tristeza é um sintoma da depressão.
(…) A depressão é uma doença que tem um curso, um tipo de evolução característico e um desfecho próprio. Então é assim: tem a tristeza, perda da capacidade de sentir prazer associada ao desânimo, perda de energia, perda de apetite, diminuição do interesse sexual, o paciente perde peso, fica sem forças, começa a ficar descuidado, lentificado, com dificuldade de pensar.
Então, têm vários sintomas associados à tristeza, não é ela sozinha. Em alguns casos, a pessoa pode até não apresentar tristeza. Por exemplo: no idoso, é comum a pessoa ter muitas queixas físicas, psicossomáticas; estar com dor aqui, sentir alguma coisa no estômago, dor acolá, e não necessariamente se queixar de tristeza” – explica Gordilho.
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TRANSTORNO BIPOLAR X DEPRESSÃO
Variações de humor são comuns na vida das pessoas, independente da intensidade. Como vimos anteriormente, uma depressão vai se caracterizar pela presença de uma serie de fatores aliados ao quadro de humor deprimido, bem como a persistência do mesmo. Mas, como saber se um quadro de humor deprimido é uma depressão clássica ou uma fase distímica do transtorno bipolar?
A depressão é caracterizada como um transtorno unipolar, ou seja, a pessoa apresenta apenas o humor deprimido, o que é chamado de polo negativo do humor. Já o transtorno bipolar apresenta descompensações nos dois polos: negativo e positivo (humor eufórico). Nas crises de euforia, ao contrário da depressão, o indivíduo é tomado por uma alegria inexplicável, levando-o a comportamentos extravagantes, gastos compulsivos, mania de grandeza, comportamentos sexuais promíscuos e de risco, delapidação do patrimônio pessoal, consumo descontrolado de álcool e outras drogas, alteração das atividades de rotina, entre outros comportamentos que fogem da normalidade.
“A gente vai imaginar dois polos: o polo negativo e o polo positivo. A depressão está no polo negativo; tem pessoas que têm apenas depressões, elas nunca passam para o polo positivo, que é o polo da euforia. É importante não confundir euforia com alegria.
(…) O paciente às vezes está alegre demais, falante demais, desinibido demais, com ideações de grandeza, acha que é mais rico, mais bonito, mais forte, se expões a várias situações de risco, inclusive risco moral, sexual, enfim, é uma fase de euforia e essa fase é o polo positivo do transtorno bipolar. Chama muito mais atenção do que a depressão, porque na depressão o paciente fica ali, escondido no canto, não chateia, mas quando está em euforia isso é impossível, porque em uma ou duas semanas ele pode delapidar o patrimônio que construiu durante a vida inteira” – esclarece o especialista.
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TRATAMENTOS ESPECÍFICOS
A depressão e o transtorno bipolar possuem tratamentos diferentes e específicos. Apesar de termos a depressão no polo negativo do transtorno bipolar, a forma de tratamento desse transtorno vai ser diferente daquela utilizada em um paciente com depressão unipolar. Isso se deve ao fato de que, ao tratar um paciente bipolar na fase distímica como uma simples depressão, o psiquiatra pode estimular uma crise de euforia.
Através de uma anamnese detalhada, onde é importante ouvir não apenas o paciente, mas familiares e pessoas próximas, o profissional de saúde mental poderá identificar comportamentos que configurem episódios depressivos e/ ou eufóricos, para então determinar um diagnóstico de depressão ou transtorno bipolar. Na ausência de um histórico de sintomas eufóricos, fica muito difícil distinguir os dois transtornos, o que deve ser considerado pelo profissional.
“O bipolar tem os dois polos. Então, uma depressão pode mudar para o polo de cima (positivo). Nesses pacientes, a gente tem que ter um cuidado dobrado no tratamento, porque às vezes o tratamento da depressão bipolar pode levar a um quadro de euforia. Então, o tratamento dessas duas depressões, a unipolar e a bipolar, são diferentes.
(…) Tem um aforismo, uma máxima que diz assim: ‘Até que prove ao contrário, todo deprimido é bipolar’ – para gente tomar cuidado na hora de tratar, porque esse paciente pode ciclar. Então uma boa história, saber todos os antecedentes familiares, se ele já teve períodos de desinibição e euforia, mesmo pequenos (porque às vezes passam despercebidos na história), porque isso faz parte de uma investigação correta e minuciosa para que a gente possa minimizar os riscos de um tratamento errado” – finaliza o psiquiatra.
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